Na manhã do dia 11 de maio, iniciaram-se as ocupações das escolas secundaristas no Rio Grande do Sul. Com duração de 42 dias, a luta começou reivindicando melhorias na merenda e pelo passe-livre estudantil, e acabou se tornando uma luta contra o retrocesso que representa a privatização da educação, a partir do PL 44/16, e contra o projeto de lei fascista que proíbe professores de debaterem sobre política com seus alunos, o PL 190/15. O processo de ocupações no Estado aumentou de três para mais de 150 escolas em apenas uma semana. Esse movimento foi feito em conjunto com a greve dos professores, que se fortaleceu com as ocupações.
Em todas as ocupações aconteceram várias atividades, oficinas, aulas, festivais e muitos debates sobre os rumos que a educação do Rio Grande do Sul tem que tomar. Aulas normais não aconteciam, mas muito se aprendeu nas escolas. Além de conteúdo, a vida coletiva foi um dos grandes aprendizados, aprender como organizar uma escola através de comissões, como limpeza, alimentação, segurança e cultura.
Essa movimentação foi muito importante para mostrar a força dos secundaristas. Quando da ocupação da Secretaria da Fazenda, a Polícia Militar não demorou a reprimir os manifestantes, que decidiram resistir e só saíram depois de muito spray de pimenta e agressões. Alguns estudantes foram, inclusive, arrastados para o camburão e levados até a Delegacia Especial da Criança e do Adolescente (Deca) e os maiores de idade para a Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA) e depois para os presídios feminino e masculino.
Isso foi uma clara tentativa de criminalização da luta por uma educação de qualidade, tentativa de desmoralizar os secundaristas, que passaram por momentos de aflição até serem liberados. Porém, ao invés de intimidar o movimento, esse fato fortaleceu o espírito rebelde dos jovens, que estavam conscientes de que não tinham cometido nenhum crime, mas sim estavam lutando por algo que valia a pena.
Alguns dias depois foi realizada uma audiência com o secretário de Educação, onde foram apresentadas propostas, algumas já correspondidas. Ficou acordado a não criminalização das manifestações estudantis realizadas ou qualquer tipo de punição (como transferência de escola involuntária) aos alunos e professores envolvidos. Também conseguimos paridade de cadeiras no fórum permanente onde serão discutidas as obras de reforma dos colégios e também a questão da merenda escolar, que, de acordo com o secretário, estão encaminhadas, apenas necessitam de fiscalização.
A palavra de ordem “Ocupa Tudo” ganhou força e mostrou que é possível conseguir conquistas para aqueles que lutam. Os estudantes voltam às aulas com a condição de terem suas escolas reformadas e principalmente com a consciência de que só a luta e a organização mudam a vida. Muito ainda se ouvirá dos secundaristas do Rio Grande do Sul, pois muitas pautas ainda não foram atendidas, como o passe-livre, mas se depender da disposição dessa juventude, isso não vai demorar.
Camila Borges, Bruno Dornelles e Neil Naiff, militantes da UJR-RS.
Boa noite! Muito bom este post!