Mais de 300 moradores do bairro do Barreiro, em Belém, interditaram, nas noites de terça e quarta (20 e 21/09), a Avenida Pedro Álvares Cabral, uma das mais movimentadas da cidade. O protesto ocorreu após o homicídio de Raimundo da Silva Cordovil, de 34 anos, que trabalhava na produção de churrasqueiras artesanais, o qual foi baleado na cabeça e não resistiu. Outras três pessoas ficaram feridas e foram levadas a hospitais próximos. O crime revoltou a vizinhança do bairro do Barreiro.
Por volta das 17h de terça-feira, 20, um carro prata se aproximou do local de trabalho de Raimundo, localizado numa das feiras mais movimentadas da capital paraense, a Feira do Barreiro, e quatro homens encapuzados abriram fogo contra várias pessoas que transitavam pelo local. A população, imediatamente, constatou que se tratava de uma ação promovida por milicianos, e, na mesma noite, levantou barricadas e tocou fogo em galhos, fechando por mais de três horas a avenida. A PM abriu fogo, dispersando a base da repressão a multidão.
Indignados com a ausência de qualquer tipo de resposta, novamente os moradores do bairro fecharam a avenida na noite seguinte, 21, exigindo uma ação imediata do governo para conter esse grupo criminoso que extermina jovens e trabalhadores da periferia. Da chacina registrada em novembro de 2014 na capital paraense, até hoje, nenhum envolvido no assassinato de mais de treze jovens foi condenado, e o clima de impunidade gerou o ódio da população da periferia de Belém. A culpa não é do carro preto ou prata, a responsabilidade é do Estado, que se omite em não investigar os constantes assassinatos e ameaças de morte promovidos, segundo fortes suspeitas da Defensoria Pública do Pará, por agentes da segurança pública.
Na noite de quarta, o protesto durou mais de quatro horas, começando às 19h30 e indo até a meia noite. A ROTAM (Ronda Tática Metropolitana), uma das tropas de elite da PM, foi chamada e abriu fogo, mais uma vez, contra a população. As centenas de jovens ali presentes se defenderam apenas com pedras e pedaços de paus, porém seis deles foram presos pela repressão. O ódio contra a polícia militar ficou evidente, com viaturas sendo apedrejadas, e a ação da PM foi isolar a área e atacar com bombas e bala de borracha. A população se defendeu com escudos improvisados de PVC e tábuas de madeira, e demonstrou que não vai parar de lutar até que sejam punidos os responsáveis por esse crime hediondo.
Enquanto o clima de impunidade e aval dado a esses grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas e armas for mantido, a única saída que o povo encontrará é a resistência, e o MLB (Movimento de Luta nos Bairros) e a UJR (União da Juventude Rebelião) no estado se solidarizam com a luta da população do Barreiro e de toda a periferia de Belém contra a política de extermínio da juventude preta, pobre e da periferia, efetuados por setores fascistas de todas as regiões de nosso país.
Redação Pará