Visto como um transtorno psicossocial de causas múltiplas, o suicídio se tornou uma epidemia de proporções globais: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos. Os maiores índices costumam ser registrados em nações pobres, onde os habitantes sofrem com problemas socioeconômicos.
David Émile Durkheim, sociólogo, psicólogo social e filósofo francês, foi o primeiro a relacionar o suicídio a causas sociais. Em seus estudos, Durkheim caracterizou que a “organização social e os acontecimentos que perturbam a harmonia do funcionamento coletivo são fatores que influenciam gritantemente nas taxas de suicídio de uma sociedade”. Exemplo disso é o grande índice de suicídios entre os povos Guarani-Kaiowá, tribo indígena localizada no Mato Grosso do Sul. A tribo explica seus motivos: falta de perspectiva de demarcação de territórios e seu confinamento em reservas (Jornal Sociológico, 2013).
Durkheim analisou também o aumento das taxas de suicídio em momentos de grave crise econômica, concluindo que esse contexto influencia nos números por serem perturbações da ordem social e coletiva e não necessariamente pelas consequências, como pobreza, fome, etc. Karl Marx também estudou o assunto, relacionando o suicídio com a opressão e a luta de classes.
Um estudo realizado no Brasil pela psicóloga Blanca Guevara Werland, da PUC do Rio Grande do Sul, também reforçou a influência de fatores sociais nos suicídios: “É preciso definir rapidamente a vida profissional e ser bem-sucedido. O imediatismo aumenta a frustração. Por outro lado, a família está mais pulverizada e os relacionamentos amorosos duram menos. Tudo isso abala a estabilidade emocional”, disse a pesquisadora. De acordo com a Agência das Nações Unidas, 75% dos casos de suicídio envolvem pessoas de países onde a renda é considerada baixa ou média.
Aumento dos casos
Segundo dados do Centro Nacional de Estatística da Saúde norte-americano, os Estados Unidos registraram seu maior índice de suicídio dos últimos 30 anos (um aumento de 24%), ocupando a terceira posição em números absolutos de suicídios no mundo. O crescimento foi especialmente pronunciado em mulheres, atingindo todas as faixas etárias. Somente em 2014, o país apresentou 42.773 suicídios. Para Katherine Hempstead, assessora sênior de serviços de saúde na Fundação Robert Wood Johnson, existe um vínculo entre os suicídios na meia-idade e os crescentes índices de insatisfação no emprego e quanto às finanças pessoais. Robert Putnam, professor de política pública na Universidade Harvard e autor do livro “Our kids” (Nossas Crianças), também escreveu sobre o assunto. “Isso é parte de um padrão mais amplo de provas da conexão entre a pobreza, a desesperança e a saúde”, disse. O livro é uma investigação sobre as novas divisões de classes nos EUA (Folha de SP, abril de 2016).
Em 2012, o Brasil ficou em 8º lugar no ranking de suicídios em números absolutos: foram registradas 11.821 mortes, totalizando uma taxa de seis mortes para cada 100 mil habitantes. O primeiro lugar ficou com a Índia, com 258 mil óbitos, seguido da China, com 120 mil (G1, setembro de 2014). Em números relativos, o primeiro lugar no ranking ficou com a Guiana, com a alarmante taxa de 44 mortes para cada 100 mil habitantes.
Um caso recente no Brasil que ganhou destaque na mídia aconteceu em Rio Claro (SP), em junho deste ano, quando um dono de uma empresa de sofás se suicidou após demitir 223 funcionários devido à crise. Uma demissão em massa não acontecia na cidade há 20 anos.
A relação entre suicídios e a crise
Segundo estudo da revista científica “British Medical Journal”, um ano após o início da crise, em 2009, a taxa de suicídio aumentou em média 3,3%, com maiores números nos países com a maior taxa de desemprego (G1, setembro de 2013). Outro estudo, financiado pela Universidade de Zurique, revelou que o desemprego é a causa de um a cada cinco suicídios no mundo. Neste estudo também se demonstrou o aumento da taxa de mortes durante a crise de 2008: em 2007, 41.148 mortes foram associadas ao desemprego; em 2009, foram registradas 46.131 mortes pelo mesmo motivo (Exames, Ed. Abril. Fevereiro de 2015).
Porém, não basta focar na prevenção do suicídio, e sim na raiz do problema: as causas econômicas. Como provou Marx e Engels em seus estudos, os fatores econômicos são a base (infraestrutura) da sociedade, e todo o resto provém daí (superestrutura), como se demonstra novamente com esses estudos. Assim, para se acabar realmente com as desordens sociais que causam o suicídio, é preciso acabar com as crises econômicas. E, para isso, é preciso superar o capitalismo. Só com uma sociedade igualitária, sem exploração, as crises econômicas terão fim. Por isso, precisamos lutar diariamente para transformar essa sociedade em uma sociedade ideal: o socialismo.
Ludmila Outtes, Recife