O surto de febre amarela, iniciado em Minas Gerais em janeiro deste ano, já atingiu centenas de pessoas, com 243 casos confirmados pelo Ministério da Saúde. Destes, 208 foram em Minas Gerais, com 82 mortes confirmadas e outras 112 suspeitas. Os outros estados atingidos foram Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Tocantins e Rio Grande do Norte. Este é o maior surto desde 1980, segundo o Ministério da Saúde.
Grande parte dos casos de febre amarela em Minas está na região próxima ao Rio Doce, afetado pela tragédia de Mariana, em 2015, quando a Barragem de Fundão, de responsabilidade da Samarco, se rompeu, contaminando todo o leito do rio. Também foram identificados casos no Espirito Santo, na cidade de Colatina, atingida pelo rompimento da barragem.
Segundo a bióloga da Fiocruz, Márcia Chame, coordenadora dos estudos de Biodiversidade e Saúde Silvestre, “mudanças bruscas no ambiente provocam impacto na saúde dos animais, incluindo macacos. Isso pode ser um dos motivos que contribuíram para os casos. Não o único” (O Estado de S. Paulo, janeiro de 2017). Vale lembrar que a região já sofria mudanças ambientais provocados pela mineração. “É um conjunto de coisas que vão se acumulando”, disse.
Na floresta, o vetor da febre amarela é o inseto Haemagogus. Ao picar um macaco contaminado, o mosquito recebe o vírus e, por sua vez, passa a transmiti-lo nas próximas picadas. Nas cidades, o Aedes aegypti também pode transmitir o vírus. O ser humano pode entrar no ciclo, transmitindo ou sendo infectado através da picada do mosquito. Essa corrente aumenta quando animais, por desequilíbrios ambientais, deixam seus ambientes e passam a viver em áreas próximas de povoados ou cidades.
Pesquisas recentes sugerem que barragens na África subsaariana são responsáveis por pelo menos 1,1 milhão de novos casos africanos de malária todo ano, segundo o Washington Post de 2015. Na bacia do Rio Senegal, na África Ocidental, em 1987, houve uma grande epidemia de febre do Vale do Rift, devido a uma série de modificações ecológicas no rio instituídas pelos governos da Mauritânia e do Senegal. Também no Washington Post, foi relacionado o desmatamento da Malásia e a transmissão da malária, na medida em que aproximou macacos de humanos, permitindo a atuação dos mosquitos como intermediários na transmissão da doença.
Um ano sem punição
O rompimento da barragem que causou o maior desastre ambiental do Brasil segue sem punição aos responsáveis. Segue também causando destruição, sem a assistência do Estado às famílias atingidas. Não bastassem as famílias sem acesso à pesca (um dos sustentos da maioria dos ribeirinhos), à água potável, com suas casas destruídas e até hoje sem indenização, a população está permanece exposta às consequências do desastre.
Esse surto de febre amarela só reforça a falta de políticas públicas que atendam à população, como saneamento básico e promoção à saúde, além da falta de políticas ambientais, pois o governo segue permitindo crimes contra a natureza, através do desmatamento e queimadas, além de fingir não ver crimes como o de Mariana. Tudo para atender à sede de lucro dos grandes empresários.
Ludmila Outtes, Recife.