A ditadura militar argentina, que vigorou entre 1976 – 1983, foi uma das mais sanguinárias da América Latina. Foram 30 mil desparecidos, dos quais mais de 9 mil já tiveram as mortes comprovadas. Além disso, para deixar mais clara a aura fascista do exército argentino, cerca de 500 bebês foram raptados de seus pais e entregues a famílias aliadas do regime militar.
Uma dessas bebês sequestradas foi Hilda Victoria Montenegro, presa junto aos pais, em janeiro de 1976, quando tinha apenas treze dias de vida. Ela foi roubada pelo tenente-coronel Hernán Antonio Tetzlaff, um dos responsáveis pela morte de seu pai e de muitos outros pais de bebês sequestrados.
“Me deram o nome de María Sol Tetzlaff Eduartes, nascida em 28 de maio de 1976, em Boulogne, San Isidro, como filha de Herman Antonio Tetzlaff e sua esposa María del Carmen Eduartes, militantes do ERP (Exército Revolucionário do Povo). Eu nunca tive dúvidas de que não era María Sol, mas eles me diziam que eu era filha deles. Em 1989, as Avós da Praça de Maio começaram a desconfiar do meu caso e a pedir os exames de DNA”, relata Victoria (acessar https://averdade.org.br/2012/08/os-bebes-sequestrados-pela-ditadura-argentina/).
O 122º bebê sequestrado foi encontrado em Córdoba, após denúncias do Grupo “Avós de Maio” (mães que tiveram seus filhos e filhas assassinados e desaparecidos após os seus sequestros pelo exército argentino), na qual a filial do grupo Conadi (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade) foi a responsável por entrar em contato com o filho dos desaparecidos políticos Iris García Soler e Enrique Bustamante, sequestrados em janeiro de 1977, em Buenos Aires.
Soler deu à luz na ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada), em julho de 1977, e depoimentos de sobreviventes do centro de tortura ajudaram na investigação. As instalações da ESMA foram palco da tortura de mais de cinco mil presos políticos e do sequestro de centenas de bebês, ou seja, uma verdadeira escola da morte. O desaparecimento de Soler e o sequestro de seu filho estão sendo julgados no processo de crimes da ESMA, que começou em 2013, em um tribunal federal de Buenos Aires.
O grupo de mães e avós de desparecidos políticos calculam uma estimativa de mais de 300 bebês que ainda não foram identificados. A luta dessas mães, que se iniciou ainda na década de 1980, na Praça de Maio, na capital argentina, demonstram a importância de se lutar por justiça e por reparação histórica, para que nunca mais seja alimentada a impunidade, a qual serve como combustível para práticas fascistas, como as inomináveis torturas e mutilações que sofreram milhares de lutadores e lutadoras que apenas lutavam por democracia.
Matheus Nascimento, Belém