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sábado, 21 de dezembro de 2024

Chuvas deixam quatro mortos, desaparecidos e milhares de desalojados em Alagoas

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Comunidade Santo Amaro sofreu com a queda da encosta

Há uma semana, chove sem parar em Alagoas. As esperadas chuvas do meio do ano vieram de forma abundante e se tornaram um tormento, principalmente, para os mais pobres. Até agora, quatro moradores de comunidades carentes já morreram e mais quatro estão desaparecidos sob os escombros. Aproximadamente sete mil famílias estão desalojados de suas casas e dezenas ficaram feridos.

Em Maceió foram registrados 123 deslizamentos, que provocaram as quatro mortes e mais de 500 desalojados. Os Municípios Marechal Deodoro e Pilar, devido à elevação das lagoas Mundaú e Manguaba, estão embaixo d´água. Pilar registra 800 desalojados e 200 desabrigados e Marechal os números já passam de 5 mil desalojados/desabrigados. Rio Largo e Jacuípe também estão em estado de emergência e possuem centenas de pessoas em abrigos públicos. Paulo Jacinto tem 21 desabrigados e, assim como outras cidades banhadas por rios, está em estado de alerta.

Na no Centro Histórico de Marechal Deodoro estima-se que a lagoa Manguaba subiu 2,59 metros e, em vários bairros da cidade, o alagamento chegou a marcar 1,5 metro. O resultado disso é lama, desmoronamento de casas, ruas inundadas, doenças e famílias que perdem tudo, inclusive a vida.

O município de Marechal Deodoro ficou completamente inundado

“O cenário aqui é apocalíptico. O clima da cidade é de luto. Muita gente mobilizada ajudando. Eu nunca vi isso, cenário de guerra. Estamos ilhados”, afirmou a psicóloga Valéria Vanessa, moradora da cidade que se encontra às escuras devido à Eletrobrás ter desligado a energia da cidade para evitar desastres maiores.

O poder público, mesmo sabendo das previsões meteorológicas, pouco fez para evitar o sofrimento das famílias e agora tentam transferir a culpa pelo desastre anunciado para São Pedro. Os governantes sobrevoam as áreas atingidas, visitam grotas e fazem pronunciamentos para tentar amenizar suas responsabilidades, sob o argumento de tragédia natural.

A verdade é que Marli Santana de Oliveira, Benedito Valdevino da Silva, Marlene Silva de Siqueira e o neto de Marlene, de 5 anos, são vítimas do descaso de sucessivos governos com os mais pobres, da falta de saneamento básico, de falta de política habitacional e do desmatamento proposital de matas ciliares e nativas para dar espaço ao agronegócio da cana-de-açúcar e, mais recentemente, de eucalipto.

Diversas casas ficaram soterradas com a queda de encostas em Maceió

Na Grota da Cycosa, uma família inteira que morava em área de risco foi soterrada. Marlene e o neto foram encontrados sem vida. Ainda estão desaparecidos um bebê de sete meses, a mãe dele, o pai e o esposo de Marlene.

Mas não é só a família de Marlene que vivia nas grotas de Maceió. De acordo com o levantamento do IBGE, em 2010, havia 121.920 pessoas morando em vilas, grotas e favelas (aglomerados subnormais). Devido à carestia de vida, esse número cresceu e hoje, segundo o governo de Alagoas, já chega a 250 mil. Ou seja, em sete anos, o número de pessoas morando em áreas passíveis de desmoronamento duplicou.

Na comunidade Ipanema, conhecida como Grota do Macaco, a líder comunitária Edilene Regina Santos denunciou, em vídeo, a omissão do prefeito Rui Palmeira durante seus cinco anos de gestão. “Ele esteve aqui e constatou a calamidade que a gente vivia. Hoje a gente está aqui passando por essa situação por sua incompetência e de sua equipe. Não temos saneamento, não temos infraestrutura, não tem nada. Desde o primeiro ano de mandato, procuramos a Prefeitura para vir aqui fazer saneamento, a contensão de encostas. Tá aí agora a casa do povo caindo. Uma menina teve que sair correndo de casa com um bebê de cinco meses nos braços porque a parede do quarto dela caiu e havia risco da casa dela cair”, desabafou Edilene.

As famílias que moram na Grota do Macaco assistiram de perto a desigualdade de tratamento dado pela Prefeitura para um shopping center, na época de sua construção, em 2013. Para o shopping dos ricos, ergueram-se avenidas e foi dada toda a infraestrutura com dinheiro público. Para a comunidade, a Prefeitura virou as costas.

“Fizeram essa merda (sic) da Josefa de Melo (avenida lateral ao shopping)! Colocaram a água pra cá e não deram suporte dentro da comunidade pra suportar as águas que vêm da avenida”, denunciou a liderança comunitária que tem sofrido mais gravemente com os impactos das chuvas após a construção da avenida.

Solidariedade

Rio ameaça transbordar também na cidade de Rio Largo

O sentimento popular em todo o estado, neste momento, é de imensa solidariedade. Diversas campanhas estão se espalhando pela internet e se materializando no apoio às famílias desabrigadas. São diversos voluntários e pontos de arrecadação nos bairros para levar ajuda e amenizar a dor daqueles que perderam tudo.

“Esse sentimento de compartilhar o que tem é bastante forte nas comunidades mais pobres, onde sentimos e sofremos o mesmo problema que o outro sente. Sabemos que hoje foi com o outro, mas que poderia ter sido comigo, com minha mãe ou com minha família. É preciso fortalecer essa solidariedade entre as pessoas e sentimento de humanidade”, afirmou Jeamerson Santos, membro da Unidade Popular e morador da comunidade do Mutange.

Para Jeamerson, é preciso repensar as cidades e a política de Estado para o meio-ambiente. “Os ricos controlam o Estado e o utilizam para destruir o meio-ambiente e expulsar camponeses de suas terras em favor da monocultura e do agronegócio. Isso tira o homem do campo e o traz para a periferia das cidades, para morar em favelas e nas grotas. É preciso cuidar da natureza e garantir política de permanência do homem e da mulher no campo. Além disso, resolver o déficit habitacional nas cidades, garantir saneamento básico e infraestrutura para os bairros pobres. Enquanto isso não acontecer, o nosso povo será sempre vítima de ‘tragédias’”.

Redação Alagoas

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