No último dia 29 de abril, fez-se dois anos do massacre dos professores da rede pública do Paraná, sob ordens do governador Beto Richa (PSDB). Uma data triste, que precisa ser lembrada para que a luta dos professores não seja esquecida, principalmente quando os direitos dos trabalhadores e a educação pública estão ameaçados pelo Estado burguês, que recorre à violência para silenciar os que se levantam pela garantia de direitos básicos.
Nos dias que antecederam a violenta ação da PM, os professores, que estavam em greve há dois meses, encontravam-se acampados em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, onde os deputados estaduais votariam um pacote de medidas para cortar gastos, em que, dentre inúmeras propostas, havia a de que os servidores públicos do Estado deveriam pagar a própria previdência. Com o aumento do número de policiais militares cercando a ALEP, a tensão vinha crescendo. Em consequência disso, ocorreram situações ridículas protagonizadas pelos deputados governistas que votaram contra o povo, como os que chegaram de camburão, na tentativa de se esconder dos professores, e o deputado federal Fernando Francischini, então secretário de segurança pública, que, ao ser confrontado por um professor sobre a repressão que vinha se delineando, saiu correndo.
Helicópteros, cavalaria, bombas de gás. O governo, que alegava urgência no corte de gastos públicos, investiu pesado na repressão contra os professores. Repetindo os feitos de Álvaro Dias, que, em agosto de 1988, rechaçou de forma truculenta um protesto da mesma categoria, Richa e seus comparsas derramaram o sangue dos manifestantes sobre o Centro Cívico.
Desta forma, Richa entrou para a história como um inimigo da educação. Impôs a violência física contra quem só buscava a manutenção de seus direitos. Impôs também a violência simbólica contra todos os estudantes da rede pública do Paraná, contra todos os alunos de licenciatura, contra todos os trabalhadores que dependem da educação pública para seus filhos.
Nesses dois anos que se passaram, após a aprovação das medidas que o governo queria, os professores retomaram as aulas, carregando cicatrizes físicas e emocionais; tendo que lidar, no cotidiano da sala de aula, com a falta de infraestrutura, com salas superlotadas e sabendo que não tem no Estado um aliado, pelo contrário. O impacto disso sobre a educação é inevitável.
Durante este meio-tempo, o país passou pelo golpe que colocou Michel Temer e sua agenda entreguista no poder, e, em outubro do ano passado, quando o governo golpista anunciou a reforma do ensino médio, que de forma geral propõe uma formação tecnicista, retirando a obrigatoriedade de disciplinas que estimulam o pensamento crítico, como filosofia e sociologia; além de aumentar a carga horária sem levar em conta os problemas de estrutura, e a total desvalorização dos professores com a proposta de contratar, no papel de educadores, pessoas com “notório saber” – reforma esta recebida com entusiasmo pelo governo do Paraná; estudantes do Colégio Estadual Pe. Arnaldo Jansen, na região metropolitana de Curitiba, foram os primeiros a ocupar a escola como forma de protesto à reforma do Ensino Médio e à PEC 241, a proposta de emenda que congelou os investimentos públicos por 20 anos.
As ocupações se alastraram, os secundaristas paranaenses ocuparam suas escolas mesmo tendo que lidar com as tentativas de repressão por parte de pais, professores e colegas contrários à ocupação, e resistiram por semanas, contando com a solidariedade de apoiadores externos à comunidade escolar, pois, numa medida autoritária, Richa proibiu os professores que apoiavam as ocupações, de entrar nas escolas ocupadas.
No momento político que vivemos, com o governo ilegítimo retirando direitos do povo para garantir o lucro de banqueiros, empresários e ruralistas, e rechaçando brutalmente manifestantes que se opõem a isso, é necessário resgatar a trágica memória do 29 de abril. Sangramos junto com os professores, mas deles tivemos a lição de que temos de lutar pelo que é nosso por direito. Podem nos arrancar isto à força, mas só com luta resistiremos, e venceremos.
Carolyne Melo, estudante de Letras da UFPR