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sábado, 16 de novembro de 2024

Governo corta verbas para combate à tuberculose

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A tuberculose, que matou milhares de pessoas no final do século 19 e começo do século 20, permanece viva e muito ativa no século 21. Todos os anos, 1,8 milhão de pessoas no mundo morrem por causa dela. A erradicação dessa doença está associada a melhores condições de vida da população, investimento na saúde, informação, tratamento e pesquisa.

Na busca de informações mais detalhadas sobre o problema, A Verdade entrevistou a professora Dra. Mirela D’arc, formada em biologia pela UFPE, com pós-graduação em genética na UFRJ e doutorado na École de Doctorale CBS2 de l’Université de Montpellier, na França. Ela atualmente desenvolve projeto de pós-doutorado em genética e virologia e faz parte do quadro de professores da UFRJ como professora substituta do Departamento de Genética.

Segundo a professora, a informação adequada para a população tem uma importância fundamental no caminho da prevenção, tratamento e cura. “Nos séculos passados, quando várias pessoas foram dizimadas por conta da doença, isso causou uma grande comoção. Então, os governos se viram obrigados a tomarem uma atitude. Campanhas publicitárias foram promovidas em jornais de grande circulação e nas redes de rádio e televisão e os agentes de saúde foram para as ruas, tudo no sentido de alertar a população dos riscos e dos cuidados que deveriam ter para evitar a infecção, como não colocar a mão na boca após espirrar, lavar a mão com regularidade, bem como higienizar legumes e frutas antes de comer, enfim, coisas simples do cotidiano, mas que muitas das vezes esquecemos”, cita Dra. Mirela.

Tipos da doença

A tuberculose está presente na população humana há muito tempo. Os primeiros indícios da bactéria transmissora, a Mycobacterium tuberculosis, vieram da África. Ela se aloja inicialmente no pulmão, nas vias aéreas. “Esse contato com a bactéria pode ocorrer através de alguém infectado que espirrou ou porque a pessoa passou a mão no rosto depois de passar em algum lugar contaminado. Após se alojar no nosso organismo, preferencialmente no pulmão, ela começa a se desenvolver. Mas é importante esclarecer que o desenvolvimento dessa bactéria é incompatível com um organismo saudável”, explica a Dra. Mirela.

Muita gente só tem conhecimento da doença clássica, que é a pulmonar. Porém, segundo a professora, a tuberculose possui dois estágios. “O primeiro estágio todo mundo conhece: a bactéria se desenvolve no pulmão gerando todo advento patológico, déficit respiratório, aumento da infecção corporal, circulação e, em algumas pessoas, esse estágio pode evoluir para uma segunda etapa, que se espalha pelo corpo. Nesse momento, a doença pode acometer a pele, ossos, fígado, pâncreas etc., uma vez que, ao se instalar no sistema respiratório, ela pode atingir qualquer parte do corpo”.

Dra. Mirela explica também que hoje existem drogas extremamente eficazes no tratamento da tuberculose. “A ciência evoluiu e conseguiu encontrar medicamentos que combatem a bactéria que causa a tuberculose sem prejudicar de forma extensa e severa o organismo do infectado”.

O diagnóstico não é difícil, uma vez que as pessoas que têm a tuberculose pulmonar acabam caindo na malha do sistema de saúde. Entretanto, as pessoas que têm baixa imunidade, como as portadoras de HIV positivo, possuem uma incapacidade maior de combater a bactéria. “Mesmo tratadas, acompanhadas, elas podem progredir para uma tuberculose cutânea, óssea, de fígado, etc. Assim como os idosos, as crianças também são mais suscetíveis à evolução de uma doença mais severa”, afirma.

Sem tratamento, porém, o quadro pode se agravar, chegando, inclusive, ao ponto de a pessoa infectada cuspir sangue devido à destruição do tecido. “Antes de chegar a essa situação o organismo dá sinais, como febre alta e tosse. No caso desses sintomas persistirem, o melhor é procurar um médico. Com tratamento correto, a pessoa fica bem”.

Pobreza e tabagismo aumentam casos   

Os casos de óbito dependem da eficiência e rapidez do diagnóstico, da saúde do organismo, do grau da imunidade e da continuidade do tratamento. Isso explica, em grande parte, porque a tuberculose se manifesta entre a população pobre, especialmente a que reside em lugares insalubres, sem higiene, como os moradores de rua. “Podemos associar perfeitamente a falta de qualidade de vida com o aumento do número de pessoas com tuberculose. Por isso, nas comunidades mais carentes, o índice de pessoas infectadas aumentou bastante. O empobrecimento da população tem muito a ver com isso”, lamenta, indignada, a professora.

Segundo a Dra. Mirela, outros fatores de risco podem aumentar a possibilidade da infecção por tuberculose. “O tabagismo, por exemplo, aumenta as chances de câncer na boca, faringe, laringe, pulmão. Se você tem um fator de risco que aumenta a degradação das vias aéreas e, ao mesmo tempo, tem contato com essa bactéria, você juntou duas oportunidades nocivas ao ser humano”, explica. “Essa pessoa tem maior chance de propagar a bactéria, como também de passar para o outro estágio da tuberculose, quando ela se espalha pelo corpo atingindo pele, ossos, etc.”.

A professora ressalta a importância da continuidade do tratamento. “Após a pessoa ser medicada, mesmo com a melhora, não pode interromper o tratamento, que tem duração de alguns meses. Quando a pessoa infectada para de tomar a droga antes do tempo, a bactéria se fortalece e pode levar a óbito”.

Cortes de verbas

Segundo a Dra. Mirela, a política do atual governo, de cortes nos investimentos na saúde, acertou em cheio as pesquisas científicas do setor, que perdeu mais de 50% da verba antes existente. A contribuição que a ciência dá para a população tem prazos longos. No desenvolvimento de um medicamento, a pesquisa pode levar mais de dez anos. Esse tempo é necessário para que o cientista entenda o mecanismo da doença, de onde surgiu, como evoluiu, como ela afeta o organismo, porque se espalha etc.Impedir, por meio de cortes no investimento destinado à pesquisa e à ciência, que esse processo continue é condenar a população brasileira a um futuro de incertezas. Mas a nossa entrevistada não perde a esperança. “Se houver união nessa luta, poderemos superar esse período nebuloso”.

Denise Maia, Rio de Janeiro

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