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domingo, 22 de dezembro de 2024

O autocuidado é uma tarefa revolucionária

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Quando nascemos não escolhemos o sistema econômico em que vamos viver. Esta situação piora quando precisamos vender a nossa força de trabalho para sobreviver. No capitalismo, a maioria das pessoas é privada de direitos básicos como saúde, alimentação, habitação, saneamento, emprego e educação.

Hoje, aproximadamente 870 milhões de pessoas sofrem de subnutrição no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Sem dúvida, as mulheres são as principais vítimas dessas injustiças. Quando tomamos consciência da nossa real situação, lutamos, nos organizamos, saímos do espaço privado (lar e trabalho) e vamos à luta por melhores condições de vida, trabalho e dignidade.

A nossa tripla jornada de trabalho (casa, filhos e trabalho) é a rotina da grande maioria. Além disso, existe a quarta jornada para aquelas que, apesar de tamanha opressão, decidiram lutar e atuar politicamente para transformar a nossa sociedade. Por isso, para nós mulheres militantes o autocuidado é um dever e uma tarefa revolucionária.

A luta contra o machismo

Enfrentamos diariamente o machismo dentro de nossas casas, no trabalho, nas organizações políticas, nos meios de comunicação e até em nossas relações sociais. Isso ocorre porque o machismo é uma manifestação da sociedade patriarcal em que vivemos há séculos. Em outras palavras, é um sistema de dominação dos homens sobre as mulheres, que se constitui num conjunto de valores historicamente estabelecido e determina lugares sociais e de poder.

Foi delegado para nós mulheres, desde o início da humanidade até hoje, o cuidado da casa, da família, dos filhos, dos doentes, dos animais domésticos, da plantação.

O ato de cuidar é quase um sinônimo feminino. Podemos perceber isso inclusive nas profissões que requerem esse cuidado maior. Na enfermagem ou na pedagogia, são as mulheres a maioria.

Cuidar da saúde para militar melhor

Mas diante de tamanhas desigualdades sociais, políticas e econômicas, quem cuidará de nós? Não podemos viver sem o cuidado. O cuidado é essencial para a vida humana. O cuidado nos fortalece para lutar contra as opressões e a exploração que ocorrem pelo mundo.

Muitas vezes, nos queixamos de nossas doenças e não vamos ao médico. A justificativa é que temos muitas atividades. Acaba que deixamos a saúde para mais tarde e esse dia nunca chega. Dizemos também que “no ano que vem” vamos fazer atividade física. Mas entra ano, sai ano, e não movimentamos os nossos corpos.

Saímos estressadas das reuniões, dos embates políticos, das manifestações, ocupações e, muitas vezes, o caminho mais perto do “relaxar” é o consumo do álcool e do cigarro, essas drogas “legais” que acabam se tornando um vício e cumprindo o papel de válvula de escape para superar o peso que o sistema joga sobre nossos ombros. Precisamos entender que as atividades militantes também envolvem cuidados. Cuidados com os companheiros e companheiras, com as populações oprimidas, com as mulheres vítimas de violência doméstica, com a juventude, com as mulheres que abortam, e o cuidado com o próprio funcionamento da atividade desenvolvida.

Em geral, nos esquecemos da nossa saúde física e mental. De nosso lazer, de nosso crescimento pessoal, de nossa conexão com as pessoas. Acabamos muitas vezes adoecendo fisicamente ou desenvolvendo a depressão por dedicarmos nosso tempo ao externo, negando a nós mesmas o cuidado que também merecemos.

Recordo-me de um capítulo do livro Olga, de Fernando Morais. Mesmo sofrendo as piores torturas dos nazistas, Olga Benario fazia todos os dias atividades físicas com outras prisioneiras, assim cuidava do corpo. Também liam poesias, pois desta maneira cuidavam da mente. Isso ajudou Olga a não se abater diante dos sofrimentos que enfrentou nos campos de concentração nazistas.

Cuidar-se é uma tarefa militante

Ser uma militante revolucionária é se confrontar com o que há de pior no mundo. Na prática militante nós vamos aos poucos entendendo melhor como o mundo funciona, e ele funciona desumanamente.

Militar é uma tarefa de resistência porque somos reprimidas pelo Estado, pela ideologia dominante, pela mídia, pelo capital. Cuidar-se é uma tarefa militante. Quantos companheiros e companheiras perdemos, não no front de batalha, mas nos leitos de algum hospital, pois não se cuidou? Quantos morreram de uma doença que se fosse diagnosticada antes poderia ter sido curada? Não pensem que cuidado de si é egoísmo, perda de tempo, pois esse pensamento apenas reproduz as estruturas patriarcais capitalistas de cuidado (as mulheres vão seguir cuidando dos outros e não de si mesmas) e nos enfraquece perante nossos adversários na luta social.

Companheiras e companheiros, vivemos na ditadura do capital, onde somos oprimidos do momento em que acordamos até a hora de dormir. Essa violência também tem uma dimensão subjetiva que ataca a nossa saúde física e mental. Portanto, é muito importante parar com os vícios, fazer exames periódicos, realizar atividade física, ter momentos de lazer e uma alimentação equilibrada. Essas pequenas mudanças em nosso cotidiano nos ajudarão a ter mais forças para fazer nossas tarefas políticas, além de saúde para fazer a revolução.

Se não fizermos uma revolução dentro de nós, como poderemos fazê-la externamente?

Por isso, meus camaradas de luta, cuidem-se. O autocuidado é uma tarefa revolucionária!

Claudiane Lopes é militante do PCR. Publicado em A Verdade, nº 169, Fevereiro de 2015

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