Visando a atrair os setores da população normalmente discriminados, o capitalismo gera um mercado específico focado em satisfazer os desejos desse público, desejos que são manipulados pela moral burguesa.
O fato é que desde a época da extrema perseguição aos gays, ainda no século 19, principalmente na Europa e Estados Unidos, já começaram a se criar bares, saunas e prostíbulos direcionados ao público gay. A partir dos anos 90, com o avanço dos direitos dos LGBTs, a discriminação começou a diminuir, ampliando o acesso da comunidade a postos de trabalho melhores, aumentando o poder aquisitivo de muitos gays. Esse aumento do poder aquisitivo entre os LGBTs também ficou conhecido como “dinheiro rosa” (pink money).
A partir daí, várias empresas surgem ou começam a se especializar para atender a esse público, trazendo junto consigo a pregação do consumismo como sinônimo de independência e a pregação da libertação sexual como forma para acabar com as opressões. Essa incorporação dos discursos LGBT ao capitalismo fica conhecida como Capitalismo Rosa ou Arco-íris.
Porém esse “capitalismo rosa” apenas engana esse grupo, fingindo estar preocupado com seu bem-estar e sua inserção na sociedade, mas na verdade não está preocupado com o aumento dos clientes que, por sua vez, aumentarão o lucro.
Essa falsa homossocialização na verdade segrega e distancia o público LGBT, pois cria padrões de consumo, sendo voltada para o homem gay branco, cisgênero, de classe média ou alta, ocidental, urbano, com interesse por tendências de moda das grifes e de estética similar ao exibido nas publicidades, corpo musculoso e hipersexualizado, e comportamento masculino. Em poucas palavras, o modelo de homossexual mais aceito na sociedade. Ou seja, a travesti negra, a lésbica, o gay efeminado e os mais pobres ficam de fora dessa “diversidade sexual” constantemente pregada pelo capitalismo rosa.
Hoje, diante do imperialismo e de um patriarcado distorcido e decadente, o consumo é mais importante que a produção, que é, em sua maioria, mecanizada. As relações da necessidade de produzir uma prole já não são o foco do patriarcado e cada vez mais se faz necessário pro sistema um mercado voltado ao público LGBT.
Apropriação do discurso para manutenção da ideologia capitalista
Na mídia burguesa e nas instituições é muito comum o discurso de elogiar as mulheres, os negros e os homossexuais e transexuais que conseguem cargos de poder, comparando a luta dessas minorias à ideologia da meritocracia, do individualismo e da competitividade.
A moral burguesa cega os movimentos e não permitem que eles lutem para pôr fim à opressão que sofrem devido à propriedade privada dos meios de produção, devido ao capitalismo. Então o movimento LGBT, feminista e o movimento negro, terminam seguindo líderes e personalidades que só representam os interesses da classe dominante e pregam um falso empoderamento por meio do consumismo, do individualismo e da falsa liberdade sexual.
Um exemplo disso é a música da Beyoncé (considerada uma artista ícone do feminismo negro), “Formation”, do seu novo álbum que fala sobre o racismo norteamericano. A música traz uma perspectiva burguesa de empoderamento por meio de competições, do consumismo e do sexo.
“Okay, meninas, vamos ficar em formação, porque eu arraso/ Prove-me que tem alguma coordenação, porque eu arraso/ Arrase com proeza ou será eliminada/ Quando ele transa bem/ Eu levo ele para o Red Lobster, porque eu arraso”; “Eu poderia ser um Bill Gates negro em formação/ Eu vejo, eu quero/ Dou meu máximo, sou negra/ Eu sonho, eu trabalho duro/ Eu me esforço até conseguir”.
São vários os artistas que pregam discursos similares que são aceitos pelos movimentos sociais (LGBTs, feministas, negros) e tidos como revolucionários, quando na verdade, só nos fazem reproduzir a moral burguesa. Pregam o discurso da meritocracia, justificando que os que não conseguiram ascender economicamente não se esforçaram o bastante, quando, na verdade, a pessoa não conseguiu porque os meios de produção e os postos de poder são exclusivos de algumas dezenas de capitalistas.
Por que é necessário construir o socialismo?
Mas qual liberdade é dada para um homossexual, uma travesti ou uma mulher negra dentro do sistema capitalista? A liberdade de ser explorado por dezenas pessoas que possuem todos os meios de produção e lucram em cima da miséria e da opressão sofrida por bilhões.
Numa sociedade onde o patriarcado é uma estrutura obsoleta; onde as riquezas são coletivas e não individuais; onde as uniões amorosas são por laços afetivos e o casamento deixa de ser visto como uma obrigação moral ou para dar continuidade à riqueza da família, como se fosse um contrato de pertencimento; onde os filhos são responsabilidade de toda a sociedade e não apenas da mãe; onde a superestrutura serve para libertar a maioria e não para alienar, não deverão existir também os antigos preconceitos e hábitos burgueses, pois de que serve ao trabalhador excluir e discriminar outro trabalhador apenas por sua sexualidade, por seu gênero ou por sua cor?
Para que se possa viver numa sociedade verdadeiramente emancipada, é preciso engajar todos os trabalhadores e toda a juventude numa só luta: a luta pelo o fim da exploração, o fim das opressões, por uma sociedade justa e igualitária, uma sociedade socialista!
Thiago Anjos, militante da UJR