O mundo do trabalho passa permanentemente por várias transformações. O uso da tecnologia no processo produtivo faz ampliar os lucros dos patrões e, ao mesmo tempo, joga na rua da amargura milhares de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo. No entanto, o verdadeiro problema não é o avanço tecnológico nem a maior facilidade para se produzir o mesmo produto. O verdadeiro inimigo é a burguesia.
Segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com todo o avanço da técnica e da produtividade no trabalho, a jornada de trabalho poderia ser de três dias por semana e de quatro horas nestes dias. Além desta jornada ser o tempo necessário para a produção, a implementação deste regime de trabalho geraria milhares de empregos, acabando com o sofrimento do desemprego de milhões de brasileiros que hoje já somam 24 milhões de pessoas.
Para que esta pesquisa se torne realidade, é necessário enfrentarmos alguns desafios impostos à classe trabalhadora. Em primeiro lugar, é preciso combater as mentiras da burguesia de que a classe trabalhadora está reduzida e que, por isso, não irá dirigir nenhuma transformação social. A verdade é que a classe trabalhadora cresce dia após dia e passa ainda por uma intensa proletarização. Um exemplo são as profissões de médicos, advogados, engenheiros, que perderam o “brilho”, e o destino certo de que “cresceriam na vida”. O que vemos hoje é uma massa de advogados trabalhando em grandes escritórios, servindo a um patrão, ganhando porcentagens míseras por ações judiciais. Vemos uma massa de médicos tentando criar seus consultórios e enfrentando laboratórios que os obrigam a indicar determinados remédios e cumprindo o que os planos de saúde ordenam. Há pontuais exceções, mas que confirmam esta regra. Nas profissões “liberais” se implanta a “pjotização”, quando um trabalhador se torna Pessoa Jurídica (PJ), e, como empresa, presta serviço ao patrão. Enquanto isso, os direitos trabalhistas vão para o espaço. Este modo de exploração foi regulamentado pela reforma trabalhista aprovada no mês de julho pelo Senado e sancionada por Temer sob os aplausos de magnatas e banqueiros.
Eis a prova de que o trabalho permanece sendo o centro da contradição social, pois ainda há ricos que precisam se tornar mais ricos e se apropriam das riquezas produzidas a fim de concentrar mais seu poder financeiro e, por consequência, poder político.
No entanto, é um fato que o processo produtivo foi remodelado. As fábricas, por exemplo, modificaram sua forma de organizar os trabalhadores na produção. Nestes locais, houve uma redução do número de funcionários diretos e se abusa da terceirização e da divisão destes trabalhadores, que, por vezes, fazem o mesmo serviço. Também há ofertas de serviços nestes locais, com lojas e vendas de produtos. O que houve foi uma redivisão do trabalho. No setor automobilístico, por exemplo, as grandes montadoras deixaram de construir as peças, e passaram a comprar de fábricas menores, que pagam salários baixíssimos a seus empregados e fecham contratos exclusivos com montadoras específicas. Assim, a linha de produção, retratada por Charles Chaplin no clássico Tempos Modernos, é ampliada para várias fabricas pequenas que alimentam a “montadora-mãe”.
Esta divisão do trabalho passa a falsa ideia de diferenciação entre a classe trabalhadora, aumenta a propaganda do individualismo, espalha os trabalhadores antes centralizados, divide a representação sindical, tudo isso para concentrar as riquezas nas mesmas mãos de sempre.
Neste novo mundo da produção, onde o capital suga o trabalho junto aos direitos antes conquistados, é necessário contribuir para a evolução da consciência para que este regime de salários seja questionado e posto abaixo.
Assim, é fundamental a atuação entre os trabalhadores terceirizados, enorme massa de trabalhadores que surge da fome insaciável do lucro dos capitalistas. Esta atuação remonta à atuação fabril no início do século passado no Brasil. Isto ocorre pelas condições insalubres de trabalho, desrespeito às leis trabalhistas vigentes, superexploração e nenhuma segurança de se permanecer empregado. Aquilo que algumas categorias já conquistaram, os terceirizados ainda precisam conquistar. O mais importante é retomar a tradição de lutas que geraram conquistas e construir entidades que representem de fato suas categorias, ainda que driblando o autorizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
A organização dos trabalhadores fabris de empresas menores também é importante, pois numa greve pode paralisar toda a cadeia produtiva de uma região. A atuação sindical junto aos profissionais liberais também ganha importância, pois seu grau de proletarização é muito forte, e o sistema faz todo esse ofício se tornar parte de uma espécie de indústria. A atuação entre os trabalhadores rurais, que hoje dão a pincelada humana na produção alimentícia, é uma das cadeias fundamentais da economia brasileira. Há ainda inúmeras outras categorias que, de um ponto ou de outro, atingem o capital por exercer força no funcionamento do sistema.
Nesse sentido, é necessário ler as evidências sobre o funcionamento do capitalismo, em que a centralidade do mundo do trabalho e a contradição antagônica da sociedade continuam sendo as mesmas apontadas por Marx, mesmo com nuances e contornos diferentes, seja por época histórica seja por localidade. Assim, a atuação persistente e direcionada a partir da leitura correta da realidade nos apontará o avanço da luta pelo fim deste sistema.
Renato Amaral, Movimento Luta de Classes