UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 16 de novembro de 2024

O trabalho e a lógica do capital

Outros Artigos

O mundo do trabalho passa permanentemente por várias transformações. O uso da tecnologia no processo produtivo faz ampliar os lucros dos patrões e, ao mesmo tempo, joga na rua da amargura milhares de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo. No entanto, o verdadeiro problema não é o avanço tecnológico nem a maior facilidade para se produzir o mesmo produto. O verdadeiro inimigo é a burguesia.

Segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com todo o avanço da técnica e da produtividade no trabalho, a jornada de trabalho poderia ser de três dias por semana e de quatro horas nestes dias. Além desta jornada ser o tempo necessário para a produção, a implementação deste regime de trabalho geraria milhares de empregos, acabando com o sofrimento do desemprego de milhões de brasileiros que hoje já somam 24 milhões de pessoas.

Para que esta pesquisa se torne realidade, é necessário enfrentarmos alguns desafios impostos à classe trabalhadora. Em primeiro lugar, é preciso combater as mentiras da burguesia de que a classe trabalhadora está reduzida e que, por isso, não irá dirigir nenhuma transformação social. A verdade é que a classe trabalhadora cresce dia após dia e passa ainda por uma intensa proletarização. Um exemplo são as profissões de médicos, advogados, engenheiros, que perderam o “brilho”, e o destino certo de que “cresceriam na vida”. O que vemos hoje é uma massa de advogados trabalhando em grandes escritórios, servindo a um patrão, ganhando porcentagens míseras por ações judiciais. Vemos uma massa de médicos tentando criar seus consultórios e enfrentando laboratórios que os obrigam a indicar determinados remédios e cumprindo o que os planos de saúde ordenam. Há pontuais exceções, mas que confirmam esta regra. Nas profissões “liberais” se implanta a “pjotização”, quando um trabalhador se torna Pessoa Jurídica (PJ), e, como empresa, presta serviço ao patrão. Enquanto isso, os direitos trabalhistas vão para o espaço. Este modo de exploração foi regulamentado pela reforma trabalhista aprovada no mês de julho pelo Senado e sancionada por Temer sob os aplausos de magnatas e banqueiros.

Eis a prova de que o trabalho permanece sendo o centro da contradição social, pois ainda há ricos que precisam se tornar mais ricos e se apropriam das riquezas produzidas a fim de concentrar mais seu poder financeiro e, por consequência, poder político.

No entanto, é um fato que o processo produtivo foi remodelado. As fábricas, por exemplo, modificaram sua forma de organizar os trabalhadores na produção. Nestes locais, houve uma redução do número de funcionários diretos e se abusa da terceirização e da divisão destes trabalhadores, que, por vezes, fazem o mesmo serviço. Também há ofertas de serviços nestes locais, com lojas e vendas de produtos. O que houve foi uma redivisão do trabalho. No setor automobilístico, por exemplo, as grandes montadoras deixaram de construir as peças, e passaram a comprar de fábricas menores, que pagam salários baixíssimos a seus empregados e fecham contratos exclusivos com montadoras específicas. Assim, a linha de produção, retratada por Charles Chaplin no clássico Tempos Modernos, é ampliada para várias fabricas pequenas que alimentam a “montadora-mãe”.

Esta divisão do trabalho passa a falsa ideia de diferenciação entre a classe trabalhadora, aumenta a propaganda do individualismo, espalha os trabalhadores antes centralizados, divide a representação sindical, tudo isso para concentrar as riquezas nas mesmas mãos de sempre.

Neste novo mundo da produção, onde o capital suga o trabalho junto aos direitos antes conquistados, é necessário contribuir para a evolução da consciência para que este regime de salários seja questionado e posto abaixo.

Assim, é fundamental a atuação entre os trabalhadores terceirizados, enorme massa de trabalhadores que surge da fome insaciável do lucro dos capitalistas. Esta atuação remonta à atuação fabril no início do século passado no Brasil. Isto ocorre pelas condições insalubres de trabalho, desrespeito às leis trabalhistas vigentes, superexploração e nenhuma segurança de se permanecer empregado. Aquilo que algumas categorias já conquistaram, os terceirizados ainda precisam conquistar. O mais importante é retomar a tradição de lutas que geraram conquistas e construir entidades que representem de fato suas categorias, ainda que driblando o autorizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

A organização dos trabalhadores fabris de empresas menores também é importante, pois numa greve pode paralisar toda a cadeia produtiva de uma região. A atuação sindical junto aos profissionais liberais também ganha importância, pois seu grau de proletarização é muito forte, e o sistema faz todo esse ofício se tornar parte de uma espécie de indústria. A atuação entre os trabalhadores rurais, que hoje dão a pincelada humana na produção alimentícia, é uma das cadeias fundamentais da economia brasileira. Há ainda inúmeras outras categorias que, de um ponto ou de outro, atingem o capital por exercer força no funcionamento do sistema.

Nesse sentido, é necessário ler as evidências sobre o funcionamento do capitalismo, em que a centralidade do mundo do trabalho e a contradição antagônica da sociedade continuam sendo as mesmas apontadas por Marx, mesmo com nuances e contornos diferentes, seja por época histórica seja por localidade. Assim, a atuação persistente e direcionada a partir da leitura correta da realidade nos apontará o avanço da luta pelo fim deste sistema.

Renato Amaral, Movimento Luta de Classes

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes