As aproximações sucessivas e a tentativa de um novo golpe militar

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No final do mês de setembro, vimos a divulgação da entrevista do General do Exército Brasileiro Antonio Hamilton Mourão, que, ao responder sobre um questionamento acerca de uma intervenção militar, referiu-se ao tema afirmando que o Exército hoje trabalha como numa tábua de logaritmos, com aproximações sucessivas, para analisar a conjuntura do país.

Mas, afinal, o que representam essas tais aproximações sucessivas? O que está efetivamente por trás deste discurso?

Atribui-se ao escocês John Neper (ou Napier), ainda no início do século 17, portanto, há cerca de 400 anos, a criação dos logaritmos como forma de simplificar cálculos aritméticos através da transformação de operações de multiplicação e divisão em simples adições e subtrações.

Esse método representou um enorme avanço para os cálculos a serem desenvolvidos pela Astronomia, e no crescente comércio desenvolvido a partir das navegações, dando suporte para operações cada vez mais complexas.

Quanto às chamadas aproximações sucessivas, trata-se de uma ferramenta utilizada para encontrar o valor logarítmico para números a partir da base 10. Ao proceder à atribuição de possíveis expoentes, encontra-se a aproximação do número desejado. Quer dizer, quanto mais precisão se busca encontrar, deve-se realizar mais testes com vistas a se obter o resultado.

Os passos dados pelos militares

Saindo das hostes matemáticas, podemos enxergar nas palavras do General que os diversos fatos observados nas últimas semanas não são obra do acaso, e sim parte da procura, através das aproximações sucessivas, do resultado devido, no caso, a intervenção militar.

A gravação e divulgação da entrevista, na loja Maçônica de Brasília, teria ocorrido sem o devido conhecimento das autoridades militares? Se alguém tem dúvidas basta ver que, dias depois, o Comandante do Exército Brasileiro, General Eduardo Villas Bôas, participou de um programa na Rede Globo (maior emissora em TV aberta do país e que criada para dar sustentação à Ditadura Militar após o golpe de 1964) para falar sobre o caso.

Citando sua conversa com o Ministro da Defesa Raul Jungmann, Villas Bôas deixa claro que não haverá punição, e vem a público reafirmar que o Exército segue analisando a situação política brasileira, e que, de fato, não está descartada a possibilidade de uma intervenção.

No mesmo caminho, o também membro do Alto Comando do Exército, General Edson Leal Pujol, do Comando Militar do Sul, proferiu palestra junto aos empresários da Câmara de Dirigentes Lojitas de Porto Alegre, onde enfatizou não estar satisfeito com a situação do país e que, quem também não estivesse, deveria ir às ruas se manifestar, dizendo ainda que não o fazia porque sua hierarquia não permitia.

Todos esses fatos dão conta de que os militares, efetivamente, avaliam e trabalham cotidianamente com o monitoramente da situação política no país, e tais aparições e discursos ocorrem de forma coordenada, como meio para analisar a repercussão e o grau de adesão que essa proposta tem na sociedade.

Ditadura militar nunca mais! Pelo poder popular!

A verdade é que promover uma intervenção militar, ou, sem meias palavras, um golpe militar, não é uma tarefa simples. São muitas as questões em jogo, e é necessário relembrar os crimes da ditadura, que impôs à sociedade brasileira mais de 50.000 vítimas em interrogatórios e inquéritos arbitrários, alimentados pela tortura e o sadismo do poder militar.

Ao todo, tivemos quase dois mil casos confirmados de tortura e, entre esses, temos 434 mortos e desaparecidos, de acordo com o minucioso levantamento da Comissão Nacional da Verdade, que assegurou ainda que essas ações ocorriam com a ciência e mesmo a determinação dos presidentes militares.

A quantidade de famílias vítimas desse regime é incontável, e mesmo a propagada honestidade dos militares trata-se de uma mentira a cada dia mais desmascarada. Mesmo os grandes meios de comunicação não conseguem esconder os inúmeros casos de corrupção naquele período.

Perseguições, demissões sumárias em empresas e mesmo junto ao funcionalismo público, proibição da organização social, seja de sindicatos, associações de moradores, estudantis e do movimento popular, tudo para tentar impedir qualquer tipo de resistência contra o ilegítimo governo.

Mais do que nunca é preciso fortalecer a mobilização popular contra outro golpe em nossa história. Apenas com o povo brasileiro organizado, unido e disposto a construir uma nova sociedade, poderemos pôr fim a este período de crise e ao sofrimento de nossa gente.

Precisamos fortalecer a unidade popular para promover as profundas transformações que o país necessita, garantindo a reforma agrária e urbana, dando um basta à sangria do pagamento da dívida pública, que consome mais de 45% do orçamento da União, combatendo a presença dos grandes monopólios e bancos que controlam nossa economia, revertendo as privatizações e a entrega de nossas riquezas naturais e ainda permitindo ampla liberdade de organização e participação popular.

Dessa forma, a luta contra esse ilegítimo governo de Temer e o corrupto Congresso Nacional torna-se ainda mais necessária, e barrar os ataques que temos sido vítimas como a reforma trabalhista, falta de orçamento para a saúde, moradia, saneamento básico, a destruição das universidades e da educação, e essa famigerada proposta de reforma da previdência, assumem um caráter ainda mais emergencial para dar um basta na política de privilégio aos lucros dos bancos e grandes empresas, em detrimento do povo brasileiro.

Nenhum passo atrás! Fora Temer e os banqueiros!

Ditadura Militar nunca mais!

Rafael Pires, professor de Matemática e membro da Unidade Popular