Em um cenário de retirada de direitos e de brutal repressão aos movimentos sociais, o Sindicato dos Rodoviários do Pará (STTREPA) e o Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba (SINTRAM), após diversas assembleias gerais e a recusa da patronal em dialogar, deflagraram greve geral da categoria a partir da 0h da última quinta-feira (19/04/2018) em todas as empresas de transporte urbano da região metropolitana de Belém, com reivindicações de retorno à jornada de trabalho de 6h e 20 minutos com 1 hora de intervalo, pagamento das horas extras com instalação do ponto biométrico (registro de entrada e saída do serviço) e reajuste de 5% no salário e ticket alimentação.
Para evitar dar prejuízos à população, a categoria queria manter o funcionamento do transporte urbano, porém com catraca livre, isto é, nenhum passageiro da cidade iria pagar passagem durante o movimento grevista. Contudo, a Justiça do Trabalho baixou uma liminar proibindo essa proposta e estipulando o pagamento de multa de R$ 20 mil por cada ônibus que circulasse com catraca livre. Além disso, essa liminar determinava que 80% dos ônibus deveriam rodar, com aumento para 100% nos horários de pico. Diante dessa ameaça, foi deflagrada a paralisação total das atividades.
A diretoria do SINTRAM e a militância do MLC – Movimento Luta de Classes, desde a madrugada de quinta, estiveram presentes em todas as empresas de Ananindeua e Marituba convocando os trabalhadores rodoviários a se somarem à greve, dialogando com a categoria na porta das garagens. O primeiro dia foi marcado pela adesão total à greve e pela reunião entre sindicatos, empresários e a Justiça do Trabalho. Os empresários, acreditando que a greve não passaria de um dia, negaram todas as reivindicações dos trabalhadores.
Em assembleia na noite de quinta, na Praça Brasil, em frente ao prédio da Justiça do Trabalho, em Belém, a categoria rodoviária decidiu pela continuidade da greve. Na madrugada de sexta-feira (20/04), novamente, no portão das garagens, os rodoviários aderiram à greve. Os ônibus que saíam, eram parados nas barricadas montadas na rodovia BR-316, na Rodovia Augusto Montenegro e no terminal de São Brás. A Justiça não convocou nova reunião e a greve foi mantida para o sábado (21/04), dia que teve a solidariedade de 27 entidades e personalidades públicas, entre sindicatos, associações e parlamentares, sem contar a grande solidariedade da população, que manifestava, de diversas formas, seu apoio aos rodoviários em greve.
Repressão brutal contra manifestantes
Mais uma vez, além da não convocação de diálogo entre as partes, a Justiça do Trabalho, em clara demonstração de que está ao lado dos empresários, decretou o uso de força policial para repressão contra os grevistas. Às 18h40 de sábado, em uma caminhada pacífica pela Rodovia BR-316, na qual apenas uma faixa estava sendo ocupada, a Ronda Tática Metropolitana da Polícia Militar abriu fogo contra os manifestantes, lançando bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha.
O presidente do SINTRAM, Huelem Ferreira, foi atingido por uma bomba e caiu desacordado. Dois diretores foram detidos e outros três diretores do SINTRAM e um militante do MLC foram gravemente feridos com tiros nos pés, braços e costas. Dezenas de rodoviários se dirigiram à Seccional Urbana da Cidade Nova, em Ananindeua, e registraram boletins de ocorrência, TCO’s e encaminhamentos à perícia. No domingo, ao invés da dispersão desejada pelos empresários, o movimento grevista apenas se fortaleceu e mais de cem rodoviários se dirigiram ao estacionamento externo da Universidade da Amazônia, na Rodovia BR-316, dando mais força ainda à greve.
Na segunda-feira, quinto e último dia de greve, pouquíssimos ônibus circularam, e, a despeito da campanha difamatória contra os rodoviários, promovida pelos meios de comunicação alinhados às redes Globo e Record, a greve apenas foi suspensa após o Ministério Público do Tralho intervir e apresentar uma nova proposta: instalação do ponto biométrico em todos os finais de linha e garagens em até cinco meses (primeiro estado a obter tal conquista), reajuste de 1% acima do INPC no salário, no ticket alimentação e no auxilio clínica e a garantia da compensação dos cinco dias de paralisações nos feriados.
A patronal foi contra, em especial ao ponto biométrico, pois os empresários estavam aumentando seu caixa com o roubo das horas extras dos trabalhadores, os quais eram obrigados a assinar o registro manual, modificado, para não sofrerem perseguição, sem contar o enorme desgaste físico e psicológico com jornadas que chegavam a 10 horas diárias, com a constante violação do direito ao intervalo. Essa medida fazia com que os empresários não precisassem contratar novos profissionais, pois a exploração do trabalhador extrapolava todos os limites e garantia o lucro máximo dos patrões.
O MLC e o SINTRAM avaliaram a greve de 2018 como histórica, pois haviam décadas que uma greve de rodoviários não se estendia por quase uma semana, contudo a saída da greve ainda deixou algumas lacunas, como o retorno à antiga jornada de 6 horas e 20 minutos, proposta importantíssima e necessária, a qual continuará sendo reivindicada.
As vitórias da atual greve provam que a luta é o único caminho para obter conquistas à classe trabalhadora, sem ela os trabalhadores jamais conseguiriam nem mesmo R$ 1,00 de reajuste, e, a repressão e a intransigência dos empresários nos mostram, mais uma vez, que as elites e seus braços armados estão, em época de crise econômica, cada vez mais decididas a explorar e reprimir a classe operaria, contudo, a roda da história gira sempre para a frente, e, quanto maior for as ameaças e a repressão, maior será a disposição de lutar e maior será a solidariedade do povo com aquelas e aqueles que lutam por uma nova sociedade.
Redação Pará