Greve geral na Argentina denuncia Macri

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O governo de direita de Mauricio Macri, eleito em 2015 e aplaudido pela grande imprensa mundial como a salvação da Argentina, só conseguiu afundar o país em mais uma profunda recessão, a maior dos últimos 14 anos. Ou seja, o país não produz bem nem consegue manter uma atividade econômica sustentável. No início de 2016, 200 mil demissões eram vistas e o triste número de 1,4 milhões de argentinos entrando na linha da pobreza, ou seja, um aumento de 34% segundo pesquisa da Pontifícia Universidade Católica Argentina (UCA), universidade, aliás, onde o próprio Macri obteve seu diploma de engenheiro civil. Com uma inflação em 46%, reajustes de até 2.000%, aumentos de água, gás, luz, gasolina e uma série de cortes em investimentos públicos, que ficou conhecido como “tarifaço”, a classe trabalhadora organizou a sua 4º greve geral no ultimo dia 25 de setembro. Aeroportos, escolas, bancos, ônibus, metrôs e o comércio de uma forma geral foram atingidos pela mobilização que foi sentida em outros países, inclusive no Brasil, com voos sendo desmarcados.

Em agosto desse ano, Nicolás Dujovne, ministro da economia argentino, foi aos EUA negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um acordo para, supostamente, tirar o país da crise. E o acordo veio: US$ 50 bilhões divididos em quatro parcelas, uma de US$ 15 bilhões, paga assim que assinaram o acordo, e os US$ 35 bilhões nos próximos três anos, podendo ser aumentados os valores caso o país necessite. Como é de se esperar em uma economia capitalista, o dinheiro foi investido para salvar banqueiros e multinacionais e o pacote de austeridade (maior rigor no controle e corte nos gastos públicos) foi implementado logo em seguida.

Ou seja, empurraram mais uma vez a conta da crise nas costas dos trabalhadores e da juventude, como ocorreu no colapso de 2001, onde o país praticamente quebrou, tendo como uma das principais fontes de renda da população, catar papelão pelas ruas inclusive da capital Buenos Aires. Diante dessa situação os protestos (quase diários) tornaram-se mais uma greve geral, exigindo do governo Macri a revogação do acordo com o FMI e a renúncia do cargo. A maior manifestação se concentrou na histórica Plaza de Mayo, e enfrentou novamente a repressão por parte do governo. No fim do dia o presidente do Banco Central, não aguentando a pressão, entregou o cargo.

Ignorando totalmente os apelos da população e com o país praticamente parado, Mauricio Macri discursou na mesma tarde na 73ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde disse que “estava fazendo esforços corretos para acabar com a crise”, que “o país passava por uma fase de profundas mudanças”, além de criticar duramente o governo da Venezuela que, segundo ele, “está ferindo severamente os direitos humanos”. Ironicamente, a mídia internacional simplesmente parece ignorar a situação caótica vivida na Argentina, por uma mera questão ideológica.

Detalhe: a crise que acontece na Venezuela é uma crise principalmente política, onde o imperialismo norte-americano e seus aliados tentam, a todo custo, desestabilizar o governo popular de Nicolás Maduro, seja por meio do boicote aos produtos de um modo geral, seja pelo terrorismo aberto ou a tentativa de golpe, como foi feito em 2002 ainda com Chávez no governo.

Dito de outro modo, crise na Argentina, ditadura na Venezuela. Só não falam do crescente número de moradores de rua e dos saques e arrastões que já se tornaram comum em nosso país vizinho. Os meios de comunicação calam-se quando é pra denunciar que o nome de Macri aparece no escândalo conhecido mundialmente como “Os Documentos do Panamá”, como dono de uma das empresas fantasma de seu pai e que teria desviado para atividades como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, cartel eleitoral e diversas fraudes.

A imprensa só não fala que o presidente Macri é tão corrupto como tantos outros, como o Michel Temer, seu aliado e amigo. A imprensa só não fala que o pai de Macri, Franco Macri, empresário milionário, fez sua fortuna durante a ditadura argentina de 1976 a 1983. Isso a mídia esconde. Mas o povo tá na rua. Até a vitória. Contra esse governo corrupto e capitalista.

 

Clóvis Maia- Pernambuco