Foto: Lucas Martins – Jornalistas Livres
No dia 1 de janeiro ficamos abismados com o discurso do fascista Bolsonaro, carregando na tinta para criticar o socialismo como se tivéssemos diante da queda do muro de Berlin, colocando o governo do PT como representante do “socialismo” e contrapondo o livre mercado, as privatizações, a competição, a concorrência e o Estado mínimo como receitas para o Brasil. Assim afirmou: “E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo…”
A primeira deturpação é pôr o Estado até então como sinônimo de socialismo, afirmando que as políticas sociais como Minha Casa, Minha Vida, Prouni, Bolsa Família, e outros, eram socialistas. O Brasil, na verdade, é um país capitalista, que sempre sugou as riquezas, produzidas pelos trabalhadores, para o bolso dos patrões milionários, mesmo no governo do PT. Infelizmente este partido não defendeu o socialismo e ficou à mercê de empresários e banqueiros nacionais e internacionais.
O que Bolsonaro quer, na realidade, é promover a desinformação, o preconceito e demonizar o socialismo, aproveitando-se do desgaste do PT para tratar tudo como igual e descartar também a proposta do socialismo como alternativa real para o país.
O novo presidente quer ainda destruir o que resta de políticas públicas, colocando o Estado mínimo para o povo e o orçamento público servindo apenas para pagar os agiotas internacionais, fazer leis para tirar os direitos dos trabalhadores, acabar com a previdência e entregar as empresas públicas para os estrangeiros, abrindo mão da soberania nacional.
Mas por que o pavor ao socialismo se o PT disse claramente que nunca construiu o socialismo e nunca esse foi o seu objetivo?
Porque, evidentemente, Bolsonaro e sua corja são fascistas, sendo o socialismo seu principal inimigo. Nada mais natural então que eles façam de tudo para combater os verdadeiros socialistas. Isso cumpre um papel ideológico para atacar tanto os sociais-democratas, quanto os revolucionários que defendem de fato o socialismo.
Claro que no Brasil existe um forte movimento e fortes organizações que defendem o socialismo. Um exemplo é a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), que nesse processo está se constituindo como partido formal com o intuito de defender claramente essa proposta para o país. Conseguindo o apoio de mais de um milhão e duzentas mil pessoas para sua fundação, a UP vem provando que na verdade existe um grande apoio ao socialismo. Milhões de pessoas sabem que o capitalismo é ruim, é podre e causa sofrimentos, preconceitos de cor, gênero e classe social. Precisamos avançar na conscientização permanente do povo e sem dúvida ampliar bastante esse apoio.
Os bolsonaristas têm declarado o fim do socialismo, mas essa baboseira é apenas uma tentativa de mascararem a luta de classes que se desenvolve. O povo irá compreender, mais cedo do que tarde, que as crises provocadas pelos ricos cobram a conta somente dos trabalhadores, e que o socialismo é um caminho justo e realizável.
O pavor do socialismo não é novo, existe desde antes de 1848 quando Karl Marx afirmou que a luta de classes era o motor da História e que existiria um temor e uma aliança europeia contra o comunismo: “Um espectro ronda a Europa — o espectro do Comunismo. Todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro, o papa e o tsar, Metternich e Guizot, radicais franceses e polícias alemães. Onde está o partido de oposição que não tivesse sido vilipendiado pelos seus adversários no governo como comunista, onde está o partido de oposição que não tivesse arremessado de volta, tanto contra os oposicionistas mais progressistas como contra os seus adversários reacionários, a recriminação estigmatizante do comunismo?”
Assim como no século XIX, hoje tanto Bolsonaro quanto Trump temem e amaldiçoam o socialismo.
Mas o que é o socialismo de fato?
O socialismo nada mais é que uma sociedade com produção coletiva, necessitando para isso socializar os meios de produção e com riquezas sendo distribuídas de acordo com o trabalho de cada um. Não seriam acabadas as propriedades dos indivíduos como costumam afirmar, como se quiséssemos tomar suas casas. O que serão extintos são os grandes monopólios e o grande capital privado, para que as riquezas sejam socializadas. Estes monopólios são os verdadeiros responsáveis pelas crises, além de quererem, em conjunto com o capital financeiro, retirar os direitos de quem produz, ou seja, os trabalhadores, que são os verdadeiros donos de tudo.
O exemplo de Cuba mostra que é possível, mesmo com um pequeno Estado, ter um sistema vitorioso, porque nacionalizou suas empresas, reorganizou a produção social coletivamente e fez com que todas as riquezas fossem distribuídas proporcionalmente de acordo com o trabalho de cada um. Os cubanos têm um Estado que apenas administra as riquezas, que é de todos, colocando as prioridades em saúde, educação, moradia e produção científica, mantendo uma distribuição total e igualitária do produto social.
Cuba é um país que se libertou do imperialismo estadunidense e obteve uma gigantesca melhoria de vida para seu povo, mesmo vivendo cercado pelos EUA e sofrendo bloqueio um econômico gigantesco.
O fantasma do socialismo gera pavor no fascismo
Passados apenas 7 dias do seu discurso, Bolsonaro e seu governo propõem uma série de medidas que representam a retirada de direitos dos trabalhadores, medidas essas que vão agravar mais ainda a crise. A reforma da previdência pretende tirar o direito à aposentadoria. Além disso, querem diminuir as leis trabalhistas, acabar a justiça do trabalho, promovendo uma exploração inimaginável. Essas perdas só atendem aos interesses dos capitalistas e do “mercado” financeiro, que têm como objetivo sugar todas as riquezas, pouco se importando com desenvolvimento nacional e com a vida digna dos trabalhadores.
Com essa política de arrocho, não serão gerados empregos. Pelo contrário, o consumo será absurdamente diminuído, proporcionalmente à redução de salários e à precarização dos empregos promovidas pela reforma trabalhista. Com isso, a crise se agravará mais e mais.
Bolsonaro pretende ainda promover a privatização das estatais, entregando um patrimônio valiosíssimo para as empresas norte-americanas. Esse governo, composto por generais antinacionais, é um mero fantoche do imperialismo norte-americano.
Na fase que nos encontramos no Brasil e no mundo, é inevitável que, por um lado, as contradições aumentem ao máximo e, por outro, a luta de classe tenha enorme papel no destino do mundo. No Brasil, viveremos acirramentos em relação às pautas levantadas pelos fascistas, que se colocam em choque aos interesses dos trabalhadores e do povo. Por isso eles têm tanto receio de uma unidade dos trabalhadores na luta contra seu governo e, mais ainda, na unidade popular pelo socialismo.
É evidente que a farsa de Bolsonaro tem um pequeno prazo de validade. Quando resolver aprovar as medidas contrárias ao povo, vai cair e se desmoralizar o mais rápido possível. Daí o medo deles do socialismo, que tem um futuro pela frente, capaz de envolver os trabalhadores na luta por uma vida melhor.
Wanderson Pinheiro, São Paulo