Poucos setores da esquerda observam os fenômenos que movimentam nossa sociedade, consequência de resultados diretos de intervenções monopolistas que subjugam economicamente os setores produtivos e tomam as rédeas do nosso país. É importante observarmos o rumo que está sendo conduzido o Brasil diante uma enorme engrenagem de exploração global do sistema capitalista, e, como esta condução mudará os meios de produção e suas relações sociais ante qual interpretação de luta usar nessa caminhada árdua de prática revolucionaria.
Antes de adentrarmos no aspecto de praticidade e teoria, é importante ressaltar o contexto geral em que nossa realidade está inserida no capitalismo e suas transformações pós-crise 2008, onde o mundo reconfigurou-se. Evidentemente, essa crise chegaria ao Brasil e cobraria caro sua posição de papel colônia frente ao capital privado monopolista, aos juros cruéis que liquida economicamente nosso povo e nosso país.Como sabemos, o capitalismo convive periodicamente com as crises que se iniciam sempre da mesma forma, tendo a solução de sua superação através da guerra para voltar sua anárquica produção em escoamento de materiais bélicos, abrindo um novo mercado consumidor e fazendo a economia girar novamente.
O ponto central dessa pequena análise se pauta na ideia de que, para se fazer uma grande guerra é difícil nos tempos de hoje diante de organizações como a ONU. A solução encontrada pelos grandes capitalistas está no projeto social que visa desestabilizar economicamente os países emergentes que tem sua economia vulnerável por conta de sua dependência de capitais estrangeiros e sua politica monetária que a torna devedora de grandes bancos internacionais. Temos em mente que, qualquer país que não possua soberania econômica, jamais terá sua verdadeira independência política e estará refém de qualquer manobra de sabotagem.
Após 2008 assistimos a derrubada de governos liberais reformistas em toda América Latina, caídos por golpe branco, tendo como sequencia de acontecimentos iguais em todos os países vitimas dessas agressões imperialista. Sabotagem econômica, guerra midiática contra o governo alvo, instabilidade política, perca de popularidade e finalmente sua derrubada. Abre-se à partir daí, margem para um novo governo que representa o mais selvagem capitalismo. O neoliberalismo, desmantelando totalmente as forças produtivas e recolocando o país em seu maior grau de submissão diante a tirania do imperialismo, que tem como seu guia os Estados Unidos. Mas, é claro, como consequência a tudo isso, o capitalismo joga luz aos antagonismos de classe e reascende a luta de classe, dando motor a história e a organização dos trabalhadores contra os ataques sofridos, alimentando a fogueira da revolução com lenhas.
É preciso elaborar esse raciocínio para termos compreensão do atual fenômeno de transformação do Brasil em uma mera colônia agrícola, e podendo assim, desmascarar a esquerda pequeno-burguesa que utiliza-se de um discurso conciliador de classe tendo como sua figura máxima o Lula e o lulismo. Por isso, é nosso dever esclarecer que o lulismo é anacrônico perante essa atual conjuntura de enfrentamento do capitalismo global.
O período de liberalismo inclusivo dos governos do PT deu lugar ao neoliberalismo selvagem de exploração social ao máximo. Por fatores de crise do capitalismo global (2008) que atingiu o país em 2015, consequentemente, a postura de enfrentamento de classe dos de cima por conta das medidas impopulares a serem tomadas pelo novo governo, o panorama social muda drasticamente com isso. Outro ponto é o desgaste dos governos petistas, que teve seu declínio posteriormente às grandes manifestações de 2013, que foram seguidas de uma instabilidade política e econômica, abrindo espaço para uma intensa guerra midiática. Isso prova para nós e para a burguesia de que, o PT sob o lulismo, perde sua eficiência de desmobilizar e manter o peleguismo como braço fundamental do poder do estado como instrumento de acomodação. Por isso expresso com toda certeza, continuar com o lulismo e suas centrais sindicais que se tornaram puxadinho do PT, é seguir reto ao matadouro e perder qualquer tipo decredibilidade popular com a classe trabalhadora.
Diante de todo esse quadro caótico, a engenharia social de destruição que tem como figura representante o Bolsonaro, acelera o processo de aprofundamento do Brasil ao nível de colônia. Dando continuidade e piorando as políticas monetárias do governo Dilma/Temer, Bolsonaro coloca nossa país refém do juro altíssimo dos bancos estrangeiros, endividando o país e o povo, impedindo assim o poder de comprar da maior parte da população e o tornando impossível a sobrevivência do microempresário. Sem poder de compra, não gera demanda; sem demanda, sem indústria; sem isso, consequentemente sem emprego, e, não é à toa que o desemprego bate à casa de 14 milhões de desempregados. O desmantelamento industrial gera o crescente trabalho de bico e a uberização da economia, crescendo cada vez mais o número de pessoas que possuem formação superior trabalhando nessas áreas da informalidade.
É importante lembrar que esses empregos informais não possuem nenhum tipo de proteção trabalhista ou seguridade social, muito pelo contrário. E, quem tem, não tem muito o que comemorar, a reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer desmancha rapidamente essa alegria e coloca o trabalhador na corda bamba, de igual para igual com o terceirizado. Para piorar essa caldeirão de desgraça, temos uma reforma da previdência em tramitação para ser aprovada ou não (bem provável que seja, sem mobilização radical ela será), reforma essa que tem como objetivo a capitalização individual da aposentadoria à um banco, e aumentando seu tempo de contribuição para no mínimo 65 anos. Vale ressaltar que, a capitalização previdenciária não deu certo em lugar nenhum queimplantou-se. Um exemplo maior desse desastre é o Chile durante o governo neoliberal do ditador Pinochet.
Somando tudo isso, caminhamos para uma crise profunda que beneficiará o capital estrangeiro monopolista (setor rentista) e setor agrário (agronegócio), setor esse que vai ser muito beneficiado com a transformação do país em um grande fazendão de exportação de matérias primarias à preço barato. A terra concentrada na mão de poucos, impedindo a abertura maior do mercado interno, contribuindo com a desindustrialização do país. Resumindo: no meio da engrenagem da reorganização do capitalismo, o Brasil cumprirá seu papel de dependência submissa, exportando barato tudo primário, e importando mais caro tudo refinado ou forjado.
A privatização como um golpe mortal para matar nossa economia,vem cada vez mais frequente. Mesmo tendo suas raízes históricas,encontrou nos governos liberais anteriores sua base de instalação ao invés de expulsão. É preciso lembrar que, quem iniciou o processo de entrega da riqueza do pré-sal foi o governo petista da Dilma, erro esse gravíssimo. O quanto de investimento poderia ter sido aproveitado em tecnologia, fortalecimento da Petrobras, da indústria química e quantos empregos poderiam ser gerados, mas, optou-se pelo leilão. E agora assistimos o sucateamento da nossa valiosa empresa por forças estrangeiras que contem apoio das velhas forças econômicas entreguistas nacionais, onde minam nossas bases para privatiza-las.
A prova total do declínio do Brasil foi anunciado pelo governo Bolsonaro em cortar 40% as verbas das universidades e instituições federais, que logo irão atingir também as estaduais. O que está por trás dessa atitude criminosa? Simples, as universidades são centros fundamentais no desenvolvimento de pesquisa e formação de pessoas qualificadas. De que serve isso se não vamos desenvolver independência tecnológica, tentar ampliar o parque industrial ou complexar as cadeias produtivas? O que importa tudo isso se trabalharemos informalmente ou no setor agrícola até os 65 anos, ou, não trabalharemos.
Agora, observe toda essa mudança nas formas que se organizam os modos de produção e como elas modelam suas relações sociais, atuando de forma comprometedora nos agentes de transformação da dinâmica histórica em que vivemos. Novos dados determinam novos conceitos, não se deve jogar fora a parte de verdade que os conceitos passados possuem. É possível fazer a revolução se analisarmos cuidadosamente a realidade histórica e suas forças transformadoras. Por isso é importante termos a teoria revolucionaria como expressão de uma verdade social.
Vejamos todos esses dados relatados por mim e observemos o que foi o ABC paulista e o que é hoje. O resultado dessa análise é uma verdade histórica e sua consequência é uma verdade social. Para ir direto ao ponto central, sem rodeios, observe atentamente a ruína da classe operaria e dos sindicatos nos tempos atuais. Claro, deve ser ressaltado que a falta de confiança nos sindicatos se dá pelo peleguismo dos anos de governo do PT. Mas, a falência da classe operaria é pelo fato da desindustrialização do país e suas consequências que cria um mar de trabalhadores informais e desempregados. Não nego a força operaria que ainda tem seu poder de greve junto com outras categorias proletárias, mas, acredito que é necessário enxergarmos outras forças que podem ser encontradas nas enormes contradições e conflitos do campo.
Como afirmei, o setor agrícola cada vez mais é priorizado e engole como animal feroz os posseiros, camponeses sem terras, pequenos proprietários e a família do homem do campo, concentrando toda a terra em suas mãos latifundiária. Os conflitos por terras no Brasil são longos e sangrentos, que forjam heróis e heroicas batalhas. Em nossa atual conjuntura, onde os embates se acirram e os bancos endividam o campesinato extraindo a renda pelo uso do material e posteriormente o da terra; se tornou necessário transferir a atenção ao campo e aos seus agentes transformadores, levantando a bandeira da reforma agrária radical e conquistando apoio dessa gente.
É burrice cometer o mesmo erro cometido pelo PCB durante o período pré-ditadura e por setores atuais da esquerda que insistem em afirmar que, é preciso esperar a retomada de um novo governo (dentro da ordem burguesa) para desenvolver o capitalismo. Podendo então desenvolver-seas contradições de uma sociedade capitalista industrial para enfim, desenvolver-se a classe operaria para fazer a revolução e transitar-se ao socialismo. Isso é loucura, sabemos como terminou no passado e sabemos como vai terminar isso hoje se prosseguir com essa mentalidade interpretativa errônea do marxismo.
É preciso tirar como fonte de exemplo a revolução Chinesa, Cubana e a luta heroica do Vietnã, onde foram travadas em países agrários, atrasados e com uma pequena nascente classe operaria. O Brasil não chega ao nível que se encontrava esses países, mas caminhamos para tal. Nos tornaremos agrícolas com enormes conflitos seguidos de genocídios no campo, com uma pequena classe operaria e uma enorme classe de proletários empobrecidos e informais.
A luta no campo deve ser travada empunhando armas e a bandeira da reforma agrária, com foco e tática de guerrilha. Com ajuda do camponês e sua adesão no engrossamento da fileira do exercito popular, a luta deve contar com o apoio das forças que compõe a cidade, com greves, manifestações. A luta armada deve ser levada até a ultima consequência e até o ultimo homem. Independente do resultado, a guerrilha levantará a moral de todos os oprimidos de todo o continente latino-americano, transformando-nos em mártires ou herói, mostrando a todos os intelectuais covardes que a nossa teoria caminha na pratica de nosso ato, dando soluções concretas e imediatas para os problemas reais.
Como marxista, reconheço as verdades essenciais desta ciência. O mérito do gigantesco pensamento de Marx e Engels, é que, produziu uma enorme mudança qualitativa na história do pensamento social. A interpretação da história e a compreensão de sua dinâmica dão capacidade de prever o futuro, expressando o conceito revolucionário: interpretar e transformar. O homem se torna arquiteto de seu próprio destino.
O pensamento concreto de Marx, o materialismo histórico e dialético, dão as chaves metodológicas para a compreensão dos fenômenos sociais e históricos pautados na concretude de suas relações econômicas de produção, base essa de qualquer sociedade. É nessa análise marxista que entendo o surgimento de velhas estruturas de poder que são sustentadas e tem a sua base pautadas por velhas práticas econômicas exploradora de todo o povo. Pautado nessa genialidade é que constitui-se posteriormente à Marx e Engels, um grupo político/pensadores revolucionários que vão pautar essas ideias às suas realidades e o seu processo histórico. São eles: Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Che Guevara, Fidel Castro etc.
Caio Castellucci