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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Quatro anos do massacre dos professores do Paraná

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No dia 29 de abril de 2015 o Brasil assistiu, perplexo, a Polícia Militar do Paraná agir com violência contra professores da rede estadual de ensino, sob as ordens do então governador do Estado, Beto Richa (atualmente respondendo pelos crimes de corrupção passiva e fraude em licitação) e de Fernando Francischini, que na época era Secretário de Segurança e hoje desponta como um dos mais entusiastas políticos do bolsonarismo.

Balas de borracha, bombas de gás, cavalaria: o dinheiro público foi usado para tingir com o vermelho do sangue dos professores a frente da Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba, que os professores ocupavam há dias, protestando contra o projeto de lei que alterou o funcionamento da Paraná Previdência, o regime próprio da previdência social dos servidores estaduais.

Se as cenas de violência física contra os professores chocaram grande parte do país, nos últimos anos a educação pública, sempre tão frágil, tem sido alvo constante de ataques, que se configuram desde os cortes de verbas destinados à educação até a patrulha ideológica, que abre espaço para tornar o professor um inimigo a ser combatido, deixando-o acuado e sem voz.

A educação brasileira sangra, como os professores paranaenses sangraram em 2015. A realidade é de escolas com estrutura precária, salas superlotadas, alunos que, além de todas as dificuldades individuais que enfrentam sendo filhos da classe trabalhadora, estão sujeitos à precariedade do transporte, à violência urbana, ao racismo e ao machismo institucionais.

O professor, essa figura que o governo Bolsonaro e sua medonha reforma da previdência querem fazer trabalhar até morrer, tendo que lidar com turmas cheias, enfrentando diariamente a dialética inerente à sala de aula, ganhando um salário apenas para sobreviver, dedicando horas que poderiam ser de descanso para planejar aula, ah, o professor! Esse é tornado inimigo, esse passa a ser alvo da patrulha ideológica que quer cercear a liberdade de pensamento, que quer acabar com o pensamento crítico. Como se fosse possível, ao professor, tirar o pouco tempo que dispõe de aula para fazer propaganda ideológica. Nossa própria realidade contesta essa falácia de “doutrinação ideológica” ferrenhamente defendida pela agenda bolsonarista, que abre espaço para aberrações políticas como o Escola Sem Partido, que luta contra um espantalho mas atinge diretamente a liberdade do professor em ensinar.

Inimigo da classe trabalhadora, Bolsonaro quer cortar na carne dos que sustentam o país, desde acabar com a aposentadoria até acabar com o direito a uma educação gratuita, pública e de qualidade, o que sempre foi um sonho, e até esse sonhar pode nos ser tirado.

Não esqueçamos o 29 de abril, quem sangrou, quem ordenou. Saibamos reconhecer o real inimigo: quem vem atacando de diferentes formas direitos fundamentais do povo. Que não seja preciso mais professores sangrarem para nos lembrar disso.


Carolyne M. Dornelles, Curitiba

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