Mulheres na linha de frente contra a Reforma da Previdência

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Fotos: Jorge Ferreira

BRASIL – As mobilizações da Greve Geral começaram logo cedo em diversas localidades do país. Santo André, cidade localizada na região no ABC Paulista, por exemplo, amanheceu em chamas. O Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB) junto com outros movimentos sociais e o Diretório Central dos Estudantes da UFABC (DCE UFABC) protestaram contra a Reforma da Previdência, denunciando para a população os ataques promovidos por essa Reforma que só visa o lucro dos grandes banqueiros. A ação bloqueou a Avenida dos Estados com pneus em chamas, no intuito de paralisar a cidade para mostrar a insatisfação popular em relação ao governo Bolsonaro.

As protagonistas desta grande e radical luta foram as mulheres. Além de serem a maioria na ação direta, tomaram a frente da mobilização. Mesmo com a forte repressão da polícia que lançava bombas e balas de borracha, as mulheres foram linha de frente, balançando suas bandeiras, erguendo suas faixas e gritando palavras de ordem.

O que nos é omitido é que as mulheres têm, historicamente, protagonizado diversas lutas. Em 1917, foram as mulheres que lideraram a primeira paralisação de fábricas, entre operárias da tecelagem da Mooca, que se desdobraria na greve geral daquele ano, trazendo pautas como redução das jornadas de trabalho, aumentos salariais e também questões relativas ao assédio sexual sofrido nas fábricas. Durante 30 dias, as mulheres resistiram bravamente nas fábricas e somente após negociações o trabalho foi sendo retomado.

Segundo dados da CUT (Central Única de Trabalhadores), desta vez cerca de 45 milhões de pessoas participaram da Greve Geral, que contou com atos em 380 cidades.

As mulheres estiveram em peso nessas mobilizações, mostrando que não aceitarão essa Reforma, cujos efeitos são prejudiciais para a toda classe trabalhadora, mas em especial para as mulheres.  Para coordenadora de Pesquisa e Tecnologia do Dieese, Patrícia Pelatieri, essa Reforma ignora as especificidades da situação da mulher brasileira, ao estabelecer idade mínima de 62, bem como, a exigência de 30 anos de contribuição para obter o benefício de forma integral. Isso porque, as mulheres, em geral, realizam jornadas duplas e recebem cerca de 20,5% a menos que os homens, além de receberem salários menores, as demissões são mais frequentes e as jornadas mais exaustivas. As mulheres trabalham mais, mas ganham menos e, portanto, têm menos condições de contribuir para a previdência.

Não por acaso, as mulheres estiveram em peso nas mobilizações contra a Reforma da Previdência, mostrando mais uma vez sua combatividade como visto ao longo das diversas lutas travadas no Brasil.

Nos bairros mais periféricos são as mulheres que tomam a frente nas lutas por moradia, construindo ocupações e resistindo às truculentas reintegrações de posse. No movimento sindical essas mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço, proporcionando o enfrentamento não só das precárias condições de trabalho como também da desigualdade capitalista e patriarcal. As casas de referência Irmãs Mirabal, Tina Martins e Helenira Preta são, ainda, exemplos da atuação combativa das mulheres que, por meio de ocupações, constroem ambientes de resistência e acolhimento para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Esses exemplos deixam clara a importância das mulheres na derrubada do capitalismo e a necessidade de organizarem-se em busca de mais direitos.  São elas a maior parte da classe trabalhadora, produzem a maior parte da riqueza do nosso país e sofrerão mais com as consequências dos retrocessos do governo Bolsonaro. Isso significa que, se as mulheres estiverem organizadas, lutando em peso por seus direitos, lutando por uma outra sociedade, o governo Bolsonaro e todo o sistema capitalista estará cada vez mais em risco.

Isabella Alho, Jady Oliveira e Júlia Campos – UP São Paulo