Plenária da Unidade Popular no ABC paulista debate demandas dos trabalhadores da região

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O evento ocorrido ontem (25) discutiu temas como o saneamento básico, mobilidade urbana e a desindustrialização que atinge a região.

Gabriela Torres e Jady Oliveira


Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

ABC PAULISTA – Qual é a situação das cidades do Brasil? Na região do Grande ABCDMRR, o encarecimento dos custos da cidade, o desamparo às mães com a falta de milhares de creches, prefeitos que despejam ocupações, falta de coleta de esgoto e água tratada e casos de corrupção em que 22 dos 23 eleitos são culpados já se tornaram rotina nas manchetes. Foi nesse contexto unificado de barbárie na região, promovida pelo PSB (Ribeirão Pires), PV (Diadema), PSDB (São Bernardo do Campo e Santo André), PPS (Rio Grande da Serra) e MDB (Mauá), que os moradores se organizam para construir juntos uma nova alternativa: A Unidade Popular Pelo Socialismo (UP).

Ontem (25), ocorreu a Plenária Regional desse novo partido que está finalizando o processo de legalização. Tendo como local a Casa de Referência Helenira Preta, o evento contou com a participação de trabalhadores, estudantes secundaristas e universitários da região para debater o programa político que será defendido nas próximas disputas eleitorais das cidades. A mesa se iniciou com a Presidenta Estadual do partido, Vivian Mendes, que discorreu sobre os avanços conquistados desde o início do processo, em 2014.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Em sua fala, Vivian saudou a militância da Unidade Popular e dos movimentos sociais que diariamente iam aos trens, vilas, portas de fábricas e escolas recolher assinaturas para a legalização do Partido, além da dedicação e disciplina para o cadastramento das fichas preenchidas, cujo resultados tem sido expressos na confiança que a UP tem entre os trabalhadores e trabalhadoras e mesmo diante dos órgãos jurídicos e burocráticos que julgam o processo de legalização.

Além disso, a Presidenta Estadual de São Paulo enfatizou os resultados obtidos na reunião nacional do partido, que reuniu os diretórios estaduais de todo o país em Brasília, enfatizando o grande passo dado pela UP no último período: O pedido de registro eleitoral junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Em seguida, a plenária seguiu com a exposição de problemas comuns às cidades do ABCDMRR. Dentre eles o atual processo de desindustrialização que a região metropolitana sofre. Devido aos reflexos da crise econômica de 2008, os esforços para reversão do processo industrial começou a ser considerado pelas empresas multinacionais, que incentivaram a terceirização de trabalhos secundários do processo produtivo, como reposição, para aumento da superexploração; além das demissões em massa, como o caso de fechamento da Ford de São Bernardo, que atribuiu à 10.000 famílias sustentadas por operários o desemprego, mandando embora funcionários, terceirizados e trabalhadores de fábricas fornecedoras de peças.

O que os capitalistas estrangeiros determinaram foi uma modificação do papel do Brasil no cenário internacional, que deverá se preocupar apenas em oferecer produtos primários de baixo preço, como cana-de-açúcar e café, e não em desenvolver a ciência, a indústria nacional e utilizar a tecnologia incorporada nas fábricas para diminuir a jornada de trabalho que impede o lazer da população.

A autonomia e avanço do país vão de encontro com o projeto de subserviência do Governo Federal, Estadual e Municipais que estão postos: “Sou estudante da UFABC, e a gente fala muito de como esse processo de desindustrialização, na marcha em que tá, tende a transformar o ABC como um todo numa nova Detroit (…) cidade lá dos Estados Unidos, um grande polo industrial, que passou depois das crises da década de 70, 80 por uma desindustrialização e virou uma cidade fantasma com muitos problemas de principalmente de violência”, diz Allana Mattos, estudante de Políticas Públicas.

Foto Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Outra temática considerada relevante como pauta para o ABCDMRR foi a questão da mobilidade urbana: sendo integrada por municípios caracterizados como “cidades-dormitórios”, a região conta com um fluxo de pessoas intenso, interno e até a capital. Em contrapartida, a situação dos transportes públicos é cada vez mais excludente: em Rio Grande da Serra, o valor cobrado é R$4,20; em Mauá, R$4,30; em Ribeirão Pires, R$4,40; em Diadema, R$4,65; em São Caetano, R$4,50 e São Bernardo e Santo André, R$4,75.

Por serem cartões distintos, a população precisa pagar diversas vezes em apenas um percurso (de acordo com a cidades que passa), e a tarifa, apesar de cada vez mais cara, não retorna aos moradores como investimentos nessa área estratégica, pois o número de ônibus, trólebus e trens são insuficientes para a quantidade de trabalhadores que se deslocam em horários de pico, além de contar com uma estrutura extremamente sucateada.

O encarecimento e a burocratização do acesso ao passe livre de estudante, por exemplo, implica na exclusão do povo na saúde, educação e lazer. É urgente, portanto, a criação de um Bilhete Único Regional e a defesa do passe livre para estudantes e desempregados, que precisam de recursos para irem às entrevistas e novas oportunidades de trabalho, garantindo assim o acesso de todos aos aparelhos públicos necessários.

Outra problemática apontada pelas falas da mesa foi do saneamento da região. Como vem sendo expresso pelo Jornal A Verdade na edição nº 219, a precarização desse serviço essencial à saúde é realidade em todo o pais e, nas cidades do ABCDMRR, não é diferente: em Mauá, por exemplo, após a privatização do serviço de abastecimento, tem sido diária a falta d’água, que contrasta com o aumento da conta no fim do mês, como destaca os moradores da região. Conforme apontado no Encontro Regional, a solução longe de ser o que indicam os prefeitos das cidades, deve ser a re-estatização das empresas de saneamento, o investimento em pesquisas e desenvolvimento e a transparência orçamentária.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Com o estudo coletivo e debate dessas questões da região, o programa político foi aprovado por unanimidade, além de ter sido aprimorado pelos moradores presentes na Plenária: “O esboço que a gente faz para nossa região é muito bom, porque ele pega o que, na minha visão, são os três principais temas, os três principais problemas imediatos que a gente tem hoje: que é a questão do emprego, que é a questão do transporte e que é a questão do saneamento (…) E nós precisamos ser um partido vivo, nós precisamos ser um partido que tenha condições de enfrentar esse Estado que tá aí”, diz João Coelho, militante da Unidade Popular de São Bernardo.

Para Sara Lorena, da União da Juventude Rebelião, a vivacidade do partido se expressa no fato da Unidade Popular se apresentar como a alternativa para as milhares de famílias que estão abandonadas por esse governo. “Essa é uma luta consciente de quem sabe que tudo o que tem a perder são as amarras, porque já não dá mais para receber notícias do nosso povo morrendo (…) Portanto, saber que a gente é o futuro significa saber que nossas vidas vão ter o papel de protagonismo na libertação do nosso povo”.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Com esse espírito, a Unidade Popular segue fortalecida para crescer o trabalho de seus núcleos no ABCDMRR e continuar avançando na luta contra a classe dos banqueiros, empresários e dos políticos ricos “que não se importam com a vida do povo, não se importam que praticamente metade da população não tenha acesso ao saneamento, à água encanada (…) porque para eles, o que importa é que os bolsos deles continuem cheios e continuem vivendo suas vidas de luxo (…) Mas para nós, enquanto população do ABC Paulista e do Brasil, estamos organizados para mostrar que não são eles que vão decidir o destino do nosso país”, diz Amanda Bispo, do Movimento de Mulheres Olga Benário.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade

Além das demandas regionais, a Unidade Popular pontua como prioridade a valorização da cultura popular brasileira em todos os seus eventos, e diante de posicionamentos desrespeitosos por parte do fascista que ocupa o cargo de Presidente da República, Jair Bolsonaro, em relação ao assassinato de Fernando Santa  Cruz, foi lido o poema “Às gerações futuras”, autoria de Emmanuel Bezerra, estudante de Sociologia, assassinado durante o regime militar. A poesia retrata uma mensagem do jovem comunista aos próximos filhos da classe trabalhadora que viriam para vingar as atrocidades e a exploração comandada pela classe minoritária capitalista.

Foto: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade



GALERIA: Plenária da Unidade Popular no ABC (24/08/2019)
Imagens: Lucas Barbosa/Jornal A Verdade.


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