A cena seguinte

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Equador e Chile viveram manifestações gigantescas, contestadoras da ordem capitalista. Momentos assim tem acontecido em muitos países na última década, alguns inclusive derrubando presidentes ou ditadores. Apesar disso, os desdobramentos desses processos não culminaram com revoluções socialistas ou efetivações do poder popular. Seria estúpido condenar as manifestações ou apenas limitar-se a caracterizar os seus revelados limites do presente momento. Mas é como se estabelecesse uma barreira que tem como limite a democracia liberal, gerando, no dia seguinte, uma certa sensação de vazio. Acredito efetivamente que há um vazio. Qual seja? Os revolucionários terem um plano, saberem exatamente o que fazer, o que propor em situações dessa natureza. É claro, a existência de uma proposta clara, de ruptura radical com o poder estabelecedor da ordem, não é garantia de vitória, ninguém aqui trabalha com bola de cristal, é preciso avaliar as implicações da realidade concreta e, fundamentalmente, ter a sensibilidade de compreender o povo, algo que só se conquista com uma ligação de amplíssima capilaridade social. Todavia, sem esse plano de conquista revolucionária do poder, objetivamente organizado, para além de um simples desejo, o acaso nos torna reféns de contrarrevoluções violentas, de medidas restauradores da ordem política para reprodução do capital. O Brasil viveu isso em 2013. O derrotismo preguiçoso só consegue ver mudanças políticas no Brasil no horizonte da eleição presidencial, é claro, com a velha ideia requentada do Messias que irá nos salvar. É simplesmente estúpido! Uma nova sublevação, carregada de indignação está sendo gestada novamente nos subterrâneos da sociedade brasileira, mais cedo do que tarde eclodirá e será avassaladora como larvas de um vulcão.
Os revolucionários não podem se conformar apenas com a revolta social, como se estivéssemos no V de Vingança ou Coringa. Exigimos a cena seguinte, a ruptura com a ordem capitalista, a transformação da revolta em poder popular e socialismo. Por isso, não basta ter coragem. É preciso saber o que fazer. Eis uma grande tarefa.

Magno Francisco, professor de filosofia, UP/AL