No mesmo período, a renda dos trabalhadores diminuiu, aumentando a quantidade de pobres e miseráveis.
Sandino Patriota
Foto: Reprodução/Verena Glass
BRASIL – Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do Governo Federal controlado pelo presidente Jair Bolsonaro. Mais de 200 mil domicílios do país foram pesquisados para verificar que o 1% mais rico da população tem renda média mensal de R$ 27.744,00 por pessoa. Estas pessoas, juntas, acumulam, portanto, mais de R$ 739 milhões todos os meses. Já a metade mais pobre da população, cerca de 25 milhões de famílias, recebe um valor 33 vezes menor para sobreviver a cada mês e fica com apenas 16% da renda nacional.
Para entender melhor esses números, imagine que o Brasil tivesse uma população de 100 famílias e existisse uma renda de R$ 1.000,00 a ser distribuída no mês. Apenas uma família ficaria com R$ 122,00 e 50 famílias teriam que dividir entre si outros R$ 162,00. As dez famílias mais ricas ficaram com R$ 430,00 do mesmo montante.
Esta injusta distribuição de renda faz do Brasil um dos piores países do mundo nesse quesito, atingindo um recorde histórico em 2018, e se aprofundando. É preciso ter em conta, ainda, que esses números consideram apenas a renda oriunda do trabalho, e que a renda de dividendos, lucros, ações, títulos bancários e alugueis aprofunda ainda mais a desigualdade.
Precisamos refletir por que no Brasil, a cada ano, os ricos estão ficando ainda mais ricos, enquanto a renda dos trabalhadores diminui e o número de pessoas vivendo na pobreza aumenta.
A partir do segundo Governo Dilma (2015) teve início no Brasil um ajuste liberal de graves consequências para o povo brasileiro. Com Joaquim Levy, o funcionário do banco Bradesco, no Ministério da Fazenda, os banqueiros assumiram o controle total e aí permanecem até agora, com Paulo Guedes, funcionário do banco BTG/Pactual e atual ministro. De 2015 até hoje, estão implementando todas as medidas da cartilha liberal, garantindo os superlucros dos banqueiros e, neste momento, ainda com o auxílio dos generais do Exército, que passaram a ser parte fundamental de sustentação desse esquema.
A primeira consequência dessa política é o desemprego. Há pelo menos quatro anos, a taxa de desemprego é superior a 10% da população ativa, fazendo com que vários trabalhadores fiquem sem salário, vivendo de bicos (o que os capitalistas chamam de “empreendedores”) e, portanto, com a renda menor. O desemprego também diminui a renda de quem está empregado, pois a pressão por novos empregos faz o patrão diminuir os salários. O resultado pode ser visto na lucratividade das grandes empresas, que cresce mesmo com a economia em crise. O lucro do banco Itaú, por exemplo, foi de R$ 25,733 bilhões, em 2018. Como sabemos, o Itaú é de propriedade da família Setúbal e tem como um de seus sócios o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, nascido em Israel e detentor de dupla nacionalidade.
Para aumentar a informalidade no emprego e a retirada de direitos, o Congresso Nacional corrupto, presidido por Rodrigo Maia (DEM-RJ), aprovou, em 2017, a Reforma Trabalhista. De lá para cá, são dois anos sem nenhuma geração de empregos, mas com aumento de trabalho temporário, terceirização e com diminuição salarial, como comprova a pesquisa do IBGE.
Mas os banqueiros e capitalistas não querem ver apenas seus lucros crescerem e a renda dos trabalhadores diminuírem. Eles querem também abocanhar o dinheiro do Estado e se apropriar dos recursos públicos que são gerados, principalmente, a partir dos impostos pagos pelos trabalhadores através do consumo. Foi por isso que aprovaram, em dezembro de 2016, a chamada PEC da Morte (PEC 55/2016), que restringe o investimento público em saúde, educação e outras áreas sociais, preservando o dinheiro que é pago aos banqueiros através dos títulos da dívida pública. A Reforma da Previdência, em votação no Senado em outubro, é parte do mesmo processo.
Segundo os dados da Auditoria Cidadã da Dívida, o Governo Federal pagou, em 2018, 1 trilhão, 65 bilhões, 725 milhões e 301 mil reais, ou seja, R$ 2,9 bilhões por dia aos banqueiros e especuladores do mercado financeiro. Esta é a verdadeira corrupção legalizada que retira recursos do posto de saúde, dos remédios, da escola dos nossos filhos, da manutenção das estradas, da segurança pública e da moradia. É uma sangria de recursos que enriquece monopólios e bancos no Brasil, mas também na Europa e nos EUA através da remessa de lucros e dividendos e da movimentação de capitais na bolsa de valores.
A destruição da indústria nacional é outra consequência da política liberal radicalmente aplicada no Brasil a partir de 2015. Como já noticiou o Jornal A Verdade, mais de 15 mil fábricas foram fechadas no Brasil, em 2015, e o processo de fechamento de postos de trabalho e destruição da capacidade produtiva fabril no país segue em frente. Em 2018, a indústria respondeu por apenas 11,3% da atividade econômica nacional. Cada vez mais o capital concentra seu investimento no mercado financeiro e no agronegócio, setores onde encontra maior lucratividade.
Ocorre que um país sem indústria e tecnologia nacional fica ainda mais dependente dos monopólios imperialistas, uma vez que é preciso importar máquinas e produtos industrializados para o consumo, como remédios, celulares, televisores, etc. Ficamos dependentes também da moeda dos EUA, já que é com o dólar que as transações comerciais internacionais são realizadas. Transformar a nação brasileira em uma grande fazenda produtora de produtos primários e paraíso fiscal das transações financeiras é parte do plano dos principais países imperialistas.
A próxima fase do plano dos banqueiros é a privatização do que restou das empresas nacionais. Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Correios estão na mira, uma vez que os portos e aeroportos tiveram sua privatização iniciada já no Governo Dilma. Querem vender também os principais poços de petróleo através de leilões, entregando uma riqueza nacional estratégica para o desenvolvimento do Brasil.
Uma vez que a quadrilha vai realizando seus planos e os efeitos sobre a economia nacional vão sendo cada vez mais sentidos, eles começam a se dividir e a brigar pela repartição dos lucros do roubo que promoveram. É por isso que o Governo Bolsonaro se desmascara na frente de todos, revela sua relação corrompida com os deputados do PSL, seus esquemas de “rachadinha” e de desvio de dinheiro do fundo partidário e de doação ilegal dos capitalistas que financiaram sua campanha. Eles sabem muito bem que as medidas liberais não vão tirar o país da crise, vão apenas aprofundar a miséria e gerar as condições para uma crise ainda mais profunda.
Os trabalhadores que tiveram sua atenção desviada através da manipulação midiática e da promoção de temas moralistas e sensacionalistas já começam a enxergar o que perderam e perceber que foram enganados.
É momento, portanto, de preparar junto à resistência às medidas do atual governo de banqueiros e militares, um programa para tirar o Brasil da crise, que precisa ser explicado ponto a ponto para o conjunto da população brasileira. Para construir uma saída política a essa grave situação, é preciso que o povo brasileiro compreenda que a verdadeira causa da atual crise não está apenas na corrupção ilegal dos políticos, mas também, e principalmente, no roubo legalizado dos banqueiros, que, associados aos monopólios, tomaram conta do governo contra a vontade popular. Sem essa consciência política, todo o desgaste sofrido pelo atual governo pode desaguar a favor de outro político liberal qualquer.
Este programa, anticrise e popular, precisa apontar para medidas básicas de geração de empregos e retomada dos direitos, dialogando com o atual nível de consciência das camadas populares. Precisa desfazer as medidas aprovadas pelo Congresso Nacional corrupto, como a Reforma Trabalhista e da Previdência e a PEC da Morte. Precisa desmontar o monopólio do capital financeiro sobre a economia nacional, rompendo as amarras do sistema da dívida. Precisa apontar para a reestatização das estatais privatizadas. Deve, por fim, explicar a necessidade do poder popular e do socialismo como formas de superação do atual Estado corrompido e da situação de miséria e exploração em que vive a grande maioria do povo brasileiro.