Jornal A Verdade, edição nº 222, novembro de 2019, Página 05.
Emanuel Menezes
Foto: Reprodução
BRASIL – A princípio, eram supostamente manchas provenientes de algum vazamento de menor proporção atribuídas a derramamentos acidentais oriundos de navios ou de plataformas de exploração de petróleo.
Entretanto, em poucos dias, os mais de dois mil quilômetros ao longo de 74 praias de 170 municípios, atingidos por 1.000 toneladas de óleo vazado, deram a dimensão do que já é considerado o maior acidente ambiental em extensão registrado no Brasil.
Essa constatação não ocorreu sem antes esbarrar na interferência de criminosos alinhados com o governo do fascista Jair Bolsonaro. Esses apadrinhados, na maioria militares de alta patente, já mostraram estar comprometidos com a ocultação e falsificação de informações para blindar os integrantes do governo. São ocupantes de ministérios, direções de órgãos ambientais e institutos, compromissados com a entrega do patrimônio nacional a grupos estrangeiros.
Naturalmente, os questionamentos iniciais decorrentes dessa calamidade miravam na origem e volume dos vazamentos, informações que seriam de fundamental importância para uma ação preventiva às consequências do ocorrido. Ao contrário do que seria o comportamento condizente com sua função, as direções dos órgãos oficiais inicialmente silenciaram quanto aos fatos e, em seguida, em vez de confrontar a realidade com a avaliação dos dados que toda a tecnologia disponível proporciona, preferiram fazer uso de uma verdadeira cortina de fumaça, utilizando-se das mais absurdas argumentações com relação à natureza do material recolhido e rotas percorridas no oceano.
A Petrobras possui um quadro de trabalhadores capacitados para identificar a origem do óleo vazado, causando estranheza as evasivas de Bolsonaro e do ministro depredador do meio ambiente, Ricardo Salles, quando se referem aos relatórios do Centro de Pesquisas (Cenpes) como se fossem inconclusivos em qualquer fase de seu desenvolvimento.
Algo que também chama muito a atenção é o fato de que muito tardiamente foram acionados os Centros de Defesa Ambiental (CDA) da Petrobras. Segundo trabalhadores desses centros, o CDA é responsável por estruturar, apoiar e monitorar os planos de contingência para os cenários de emergência, podendo atuar com órgãos ambientais como o Ibama. Conforme informações repassadas, o indicado político do governo entreguista que atualmente ocupa a presidência da Petrobras, Castello Branco, pretendia desmobilizar os CDAs de alguns estados do Nordeste poucos dias antes da contaminação das praias.
O recuo, ainda que temporário, dos sabotadores da Petrobras e a total inércia frente aos acontecimentos foi, na realidade, devido à repercussão das ações, sobretudo de comunidades organizadas de pescadores que enfrentaram o descaso das instituições aparelhadas pelos bolsonaristas.
Dentre as mais de 50 empresas que extraem petróleo no Brasil, somente a Petrobras disponibilizou recursos para o combate ao vazamento. A estatal já investiu cerca de R$ 6 milhões em pessoal especializado, equipamentos como barcos, bombas, barreiras de contenção e serviços de sobrevoo de aeronaves e drones. Mais de 50 técnicos, 16 CDAs, incluindo os centros de resposta da Transpetro e dois navios estão envolvidos nas atividades. Mesmo sendo recentemente incluída entre os prováveis responsáveis, a anglo-holandesa Shell, uma das maiores beneficiadas com os leilões do petróleo brasileiro, resolveu voltar ao silêncio inicial.
Os membros do governo jogam com a desinformação nas redes sociais; as Forças Armadas agem nas sombras e os grandes veículos de comunicação amortecem a indignação da população. Seja qual for a origem do óleo, o que deve ser ressaltado neste momento é que está em curso um dos maiores crimes cometidos contra os brasileiros em toda a nossa história.
O processo de privatização da Petrobras é precedido por uma precarização acelerada das instalações marítimas e terrestres da empresa, colocando em risco a vida dos trabalhadores e todo o meio ambiente. Estão em fase acelerada de entrega para as multinacionais campos de petróleo, refinarias e usinas de biocombustível. Concluído o processo de privatização colocado em curso pelos criminosos lesa-pátria Bolsonaro, Mourão, Paulo Guedes, Castello Branco e Ricardo Salles, teremos nossa soberania e segurança energética terrivelmente golpeadas. A exploração dos nossos recursos por parte de estrangeiros será feita de forma predatória e sem compromisso algum com os trabalhadores ou com a preservação ambiental.
Em novembro de 2011, a petroleira estadunidense Chevron foi responsável pelo vazamento de milhares de barris de petróleo do Campo de Frade, na Bacia de Campos, após descumprir regulamentações e procedimentos. O resultado foi que, após uma retirada estratégica, a Chevron voltou a explorar nossos recursos sem que um diretor sequer fosse responsabilizado.
A sociedade deve exigir a suspensão de todos os leilões e a devolução para a União de todos os campos atualmente sob exploração e produção de empresas estrangeiras, além do indiciamento de todos os responsáveis pela tragédia do vazamento no litoral nordestino.
A restauração do monopólio estatal da exploração dos recursos minerais é necessária para evitar tragédias e restaurar a soberania nacional, adequando a produção às necessidades do povo brasileiro, com responsabilidade ambiental e priorizando a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
A apropriação das nossas estatais por um punhado de burgueses têm causado danos de grande magnitude à nossa nação.
Torna-se urgente a luta por uma sociedade socialista em que os trabalhadores, os verdadeiros donos de toda a riqueza produzida, tomem as rédeas do seu destino, pondo um fim à exploração e salvando o ecossistema da destruição imposta pelo capitalismo.