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domingo, 22 de dezembro de 2024

Trabalhadora doméstica leva tiro em Mauá

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Foto: Reprodução / ABC do ABC

Durante a última terça-feira (10), um homem atirou contra a ex-companheira e seu filho de 18 anos, na cidade de Mauá. A alegação do agressor seria a descoberta de uma tatuagem feita pela trabalhadora doméstica, perseguida por ele há quatro meses, desde a separação. O acusado está foragido.

De acordo com o procurado, o crime teria acontecido por “não suportar [a ideia de] outro homem tocar em seu corpo”, referindo-se ao tatuador. O agressor se relacionou com a trabalhadora durante um ano, e após descobrir a tatuagem, foi até a casa da família, fez ameaças e, logo em seguida, atirou. As duas vítimas foram encaminhadas para o Hospital Nardini, e não correm risco de vida, apesar de o jovem ter passado por uma cirurgia.

A tentativa de feminicídio, ocorrida no bairro Parque das Américas, é expressão da situação das mulheres na região do ABC Paulista como um todo. Durante o ano de 2019, 530 casos de estupro foram registrados, e os feminicídios passaram de 7 para 11 casos, totalizando em um aumento de 57%, se comparado ao ano retrasado.

Na contramão desse cenário de violência, a decisão das autoridades locais foi de diminuir a verba disponibilizada para as duas únicas casas abrigos disponíveis para as sete cidades, e o projeto da 1° Delegacia Da Mulher 24 horas do ABC ficou apenas no papel. Na cidade de Mauá, a Secretaria de Mulheres é apenas exemplo de nepotismo por parte do atual prefeito Átila Jacomussi (PSB), que ao invés de debater com profundidade a questão das mulheres mauaenses, prefere deixar o cargo com sua própria esposa, Andreia Rios, enquanto hostiliza integrantes da Casa Helenira Preta, ocupação criada pelas mulheres do Movimento Olga e que cumpre o papel de Casa de Referência, atendendo munícipes em situação de violência.

Seguindo o caminhar lógico das questões referentes à violência de gênero, algumas reflexões são possíveis. Debaixo do sistema capitalista decadente, a lógica das relações será sempre pautada na relação de propriedade: um agressor que atira contra uma mulher por “ciúmes” foi educado sob circunstâncias que o ensinam que o corpo da mulher é um objeto passível de dominação, como uma propriedade privada, e que por isso, pode ser violado caso ouse agir de forma contrária a essa lógica doentia. Por ter sido necessária para a fase de acumulação primitiva e ser ainda hoje utilizada para a reprodução social, essa lógica será força motriz das relações enquanto essa forma de organização for predominante, e as mulheres continuarão sendo violentadas, abusadas, violadas e assassinadas.

Até mesmo tratar das próprias consequências misóginas mais escancaradas, como o espancamento, o assédio e abuso sexual, a violência patrimonial, a perseguição, o estupro e o feminicídio, é impossível, tamanha incompetência dessa estrutura. Durante as crises capitalistas, as conquistas das mulheres são as primeiras a ser atacadas. Os direitos trabalhistas são rechaçados, Delegacias Da Mulher são fechadas, Casas de Passagem e Casas Abrigo têm as vagas diminuídas, guerras imperialistas assassinam seus filhos em nações vizinhas, a terceirização, carestia e miséria; que atingem principalmente as mulheres, aumentam exponencialmente.

Uma resolução só será possível, a longo prazo, com uma reorganização política profunda; com uma educação de caráter coletivo e libertador formando as próximas gerações, com investimentos massivos em aparelhos públicos de acolhimento verdadeiramente preparados para as situações de violência, onde as desigualdades e disparidades sejam anuladas e as mulheres possam ser poder e definir seus próprios rumos. Qualquer forma de organização que não vê o bem-viver como o primordial deve ser, por questões de princípios e pela vida das mulheres, destruída e dizimada do mundo.

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