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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Agonia e desespero: relatos de trabalhadores esperando o auxílio que nunca chega

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Aplicativo é de difícil acesso e não chega a todos os trabalhadores. Foto: divulgação

André Molinari, São Paulo

BRASIL – No dia 26 de março foi aprovado na Câmara dos Deputados a criação de um auxílio emergencial de R$ 600 para adultos com baixa renda e R$ 1.200 para famílias com dois trabalhadores ou com mães solteiras. As pessoas terão direito por três meses a esse auxílio para poder sobreviver na crise econômica e na pandemia.

Mas a realidade é que a única emergência considerada pelos pilantras do governo Bolsonaro é aquela que envolve bancos, monopólios e grandes empresas. O auxílio emergencial, que foi aprovado com demora, sofre obstáculos enormes para ser posto em prática.

Os aplicativos não funcionam e são de difícil compreensão para quem não está acostumado. A exigência de um celular para receber o auxílio é uma piada de mal gosto, e seguindo toda sua cartilha o governo Bolsonaro mostra de novo sua natureza fascista e incompetente.

Diversos trabalhadores em situação de desespero e sem perspectiva de futuro são encontrados marginalizados pelo poder público com uma mensagem de “em análise”.

“Sobre o auxílio do governo tá uma demora, me cadastrei e nada só fica em análise, fico imaginando se não fosse o salário do meu marido como é que eu e meus filhos íamos estar agora. O auxílio já é pouco e ainda tem a demora. Se fosse os vizinhos e amigos ajudando uns aos outros acho que já tinha muita gente morta, mas de fome. Vivemos em um país que o governo só pensa nos lucros e depois nas famílias sendo que eles tem que pensar primeiro nas famílias que gera os lucros pro governo, porque nós pobres é que trabalhamos para alimentar os luxos dos governantes, estou cansada desse governo que quer ver nós brasileiros mortos de qualquer forma.”, relatou Cléssia Brito, mãe de três filhos e manicure por conta própria ao JORNAL A VERDADE.

Vitória Louise, estudante da UNIFESP e desempregada solicitou o auxílio no dia que foi lançado e continua em aguardo também:

“Eu fui em uma agência da Caixa e tem muita gente nessa situação. Várias mulheres mães indo para as filas dos bancos com seus filhos que não tem com quem deixar. Muitas pessoas [obrigadas a esperar] do lado de fora no sol e na chuva esperando para ser atendido. No 3º dia consegui entrar no banco, fiquei três horas esperando pra ser atendida e não conseguiram resolver meu problema. O pior de tudo isso foi ouvir várias pessoas que estavam na mesma situação. Vários outros problemas em relação a burocracia, várias pessoas não conseguiam baixar o aplicativo do banco no celular. Muitas senhoras que não tinham como fazer o cadastro e o banco de forma fria só falava que ‘tinha que baixar o aplicativo pelo celular’ para senhoras idosas que não sabiam como e não ajudava propriamente, fiquei com muita raiva.”

O problema em relação ao funcionamento do aplicativo foi levantado várias vezes pelos entrevistados.

“A estrutura de fornecimento do auxílio é muito ruim, estou ajudando nas brigadas de solidariedade em Belo Horizonte e tem que ajudar muita gente que vem perguntar como é que faz, porque não conseguem baixar o aplicativo e quando baixa tem risco de baixar o errado porque tem um tanto de aplicativo fake pra colher os dados das pessoas. Aí tem a dificuldade de não saber como funciona, tem a questão de verificar que não é um robô e aí o pessoal não entende isso, a verificação por SMS que trava muita gente.

Isso falando de quem tem celular e tem acesso, veio um moço conversar com a gente que não tinha nem isso. Durante a brigada ele procurou o Leo (Leonardo Péricles) para ele ajudar a fazer o cadastro porque ele viu no jornal que faz pelo celular e ele não tinha celular.”, nos conta João Dias, um dos brigadistas do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas como viu isso na distribuição de cestas básicas realizadas pelo movimento.

E mesmo que a pessoa passe a primeira dificuldade que é instalar o aplicativo, como a Cléssia coloca, a demora é algo marcante, uma estudante universitária relatou:

“Então, eu sou estudante e faxineira/diarista. A necessidade desse auxílio é porque não tô tendo mais faxina por conta da quarentena, então fica difícil manter as contas. O meu auxílio está em análise há duas semanas, eu não sei se vou receber porque nunca diz se é negado ou aprovado… E enquanto isso as contas estão vencendo”
O desespero é uma perseguição na vida dos trabalhadores que choram de noite sem saber o que fazer, com medo do vírus e da fome, o povo tem que enfrentar os descasos de um governo, a mesma pobreza e miséria somados a uma pandemia violenta que atinge principalmente os mais pobres.

“Eu sou publicitário, desde o Governo Temer, e pior no Governo Bolsonaro, não consigo emprego. De quatro meses pra cá venho trabalhando como UBER e esse é o problema porque UBER não te dá uma segurança financeira. Eu pego 10 passageiros por dia então imagina o quanto de risco eu não tenho todos os dias de pegar o Covid-19, porque eu não sei se eles têm, nem eles sabem se tem e nem eu sei se tenho e eu posso transmitir também.

Além do aluguel e do estacionamento do carro, eu tenho que pagar minha pós-graduação e aqui em casa meu pai está parado, não recebeu vale, não recebeu pagamento, não recebeu nada; minha mãe é diarista e está sem trabalhar faz muito tempo e a noite tava chorando porque às contas vão vir e ela não tem um centavo no banco e o dinheiro não sai, entendeu?”, relata Henrique, trabalhador de transporte por aplicativo.

Trabalhadores de aplicativo são abandonados pelas empresas e não conseguem auxílio do governo. Foto: Jornal A VERDADE.

A UBER, junto com o iFood, Rappi e outras empresas do ramo continuam mostrando sua indiferença com a vida dos trabalhadores que atuam e lhes dão um lucro crescente. Erick Padovan, morador de Campinas que é estudante e estagiário colocou em seu depoimento uma denúncia aos patrões de outro setor também:

“O auxílio tem extrema necessidade para o pagamento dos gastos de casa, já que minha mãe sofreu uma precarização do serviço dela (marketing digital), deixando de ganhar salário fixo, como MEI, e ficando apenas com as comissões das próprias vendas dela. Ela também está esperando o auxílio sair. Os funcionários da empresa que minha mãe trabalha que não perderam o salário fixo tiveram a redução da jornada de trabalho em 50%, juntamente com a mesma redução dos salários. Os donos da empresa apareceram aos funcionários reclamando que iriam quebrar e que não tinha jeito, que o momento era horrível. E tempo depois um estava fazendo um churrasco na mansão com piscina, e o outro andando de Jet-ski”.

“Dou aula numa escola de bairro, sem vínculo algum com os empregadores. Não tenho contrato assinado, não precisei ser MEI. Eu recebo por aluno e, nesse próximo mês, um dos meus únicos dois alunos vai cancelar a matrícula, vai sair da escola porque a mãe dele ficou desempregada nesse caos todo. Eu tô desde terça, dia 7, esperando o auxílio. Minha mãe será demitida na próxima semana e meu pai foi afastado por 60 dias do trabalho dele, logo, o salário dele foi reduzido e o vale-refeição foi cortado. Aqui em casa, só minha irmã permanece trabalhando numa empresa de telemarketing. O que me deixa mais revoltada é que não teve descanso e nem demora na hora de liberar uns milhões do Banco Central para alguns bancos no país.”, diz Heloiza Cristina, abandonada pela escola em que trabalha.

Malcon Galvão, estudante de Geografia na Universidade de São Paulo informou:

“Procuro emprego desde 2015, mas nunca fui aprovado em nenhum dos 19 processos seletivos dos quais participei. Atualmente faço e vendo bolos de pote na FFLCH (USP) e através de amigos que revendem. Para mim o auxílio se faz necessário pois no momento meu pai é o único assalariado em casa e durante essa pandemia entrou de férias como estratégia da empresa em que é funcionário. Sendo o único assalariado, também está sendo o único responsável por todas as despesas de uma casa com três pessoas, entre as despesas constam financiamento de imóvel, empréstimos e despesas com abastecimento em geral. Desconfio de um atraso proposital por parte do governo que desde seu início apresenta atrasos constantes para facilitar algumas propostas apresentadas por parte da direita e do centrão.”

Existem ainda casos mais graves, como o de Dona Meire, que além de esperar o auxílio demorado ainda contraiu a Covid-19.

“Eu estou desempregada, fui diagnosticada como infectada com coronavírus, e estou aqui de quarentena. Já fui caixa, fiz curso de porteiro, estava fazendo um bico, estava cuidando de um casal de idosos até que começou tudo isso e não pude ir pra lá mais. Tá difícil esperar sair esses 600 reais, tá muito complicado, tem muita burocracia em tudo que é feito. Eu acho que tinha que ser uma coisa mais ágil, mais rápida, porque a necessidade não espera. Tem pessoas passando fome, eu não estou passando fome, mas tenho minhas necessidades, preciso arcar com minhas despesas.”, afirmou.

Meire ainda relatou a falta de agentes de saúde, de um atendimento mais efetivo no combate à doença.

“Os papéis podem esperar, a fome não”

É claro o descaso do Estado capitalista e do governo fascista de Bolsonaro com a vida do povo brasileiro, marginalizando os nossos trabalhadores e estudantes para a miséria cada vez mais aguda, mais doida. Algo que fica claro nos relatos é que, não só durante a quarentena, as dificuldades são sentidas em pele, fica então o questionamento: que economia que o governo quer salvar? É o emprego, vida, saúde dos trabalhadores? Aqueles que produzem tudo que é consumido, transportado e vendido neste país e no mundo? Não de fato não é.

A economia que desejam salvar é a dos banqueiros, dos especuladores, dos grandes patrões que “andam de jet-ski” enquanto nosso povo sente a barriga doer. Josef Stalin, dirigente da União Soviética no século XX, já afirmava: “o Homem é o capital mais precioso”. Isso é verdade ainda hoje? Para responder basta imaginar um mundo sem operários, sem fazendeiros, sem motoristas, sem cozinheiros, sem professores, sem médicas, sem pedreiros, sem costureiras, sem marceneiros; o que restaria: nada. Se essa política de morte e exploração da classe trabalhadora for mantida talvez é o que restará.

O auxílio emergencial é segurado com unhas e dentes da mesma maneira que o governo evita garantir boa parte do que é sua obrigação: enrolando em processos burocráticos sem fim e com um sucateamento crescente. Não é assim que negam o ensino? A moradia? O emprego? A aposentadoria? Mesmo assim não negam anualmente pagar centenas de bilhões para banqueiros e especuladores que não produzem nada, mas vivem com o que é produzido pelo povo. Logo, falta dinheiro? Certamente não.

Não achando suficiente os patrões ainda realizam demissões em massa, reduções de salário e todas as manobras dignas dos melhores pilotos de corrida para prejudicar a vida dos trabalhadores enquanto guardam enormes montantes de dinheiro em seus cofres.

É necessário que se realize uma ampla campanha de denúncias sobre a situação do nosso povo, é necessário que pratiquemos a solidariedade dos trabalhadores ajudando os nossos de todas as maneiras possíveis. Precisamos lutar contra os ataques da corja de milionários e milicianos, não para botar um militar no lugar, mas para que tenhamos um governo popular no lugar usurpado pelos parasitas.

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