Laís Chaud
Wilson Martins (Majé)
“Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa, não é perversa. Ela é um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda”, Mestre Pastinha.
Nos arriscamos a dizer que a capoeira é uma das primeiras manifestações revolucionárias da população negra no Brasil, expressão pela qual os africanos escravizados manifestavam sua forma de luta. A presença dos instrumentos musicais disfarçava o verdadeiro motivo da aglomeração, fazendo tudo parecer uma dança. E foi então com o jogo de corpo, o ritmo musical e a organização coletiva que os escravizados criaram uma ferramenta de luta contra as ações dos feitores e capitães do mato. Nos mocambos e quilombos aperfeiçoaram cada vez mais a prática da capoeira e, com movimentos de ataque e defesa, treinavam os mais novos para se defenderem das violências sofridas nas senzalas e nos momentos de fuga.
Os primeiros registros oficiais da capoeira são datados de 1789 e, desde este período até 1930, ou seja, durante o Império e a Primeira República, praticar os movimentos e ritmos da capoeira era crime. De que forma? Segundo o Código Penal de 1890, aqueles que praticassem “exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos como Capoeiragem” seriam presos. Tudo então que se relacionasse à capoeira era proibido: os movimentos, o canto, os instrumentos, com o objetivo de conter os encontros entre os praticantes.
Apesar dessa criminalização, o Estado imperial não conseguiu deter a prática. Prova disso é que, apesar de muitas pessoas terem sido perseguidas e presas, a comunidade da capoeira não parava de crescer. Inclusive, o que conhecemos são histórias e mais histórias da vanguarda dos capoeiristas que reafirmam essa prática como uma ferramenta fundamental para libertação do povo. A agilidade, a esperteza, a sagacidade dos movimentos e a união dos praticantes eram algumas das marcas mais reconhecidas na capoeira. Tão reconhecidas que, em 1937, o governo fascista de Getúlio Vargas percebeu tamanha força de organização que a capoeira tinha entre o povo pobre e preto e decidiu por descriminalizá-la.
Para ser ensinada nas universidades e ter o apoio do governo, a prática da capoeira passou por uma peneira e, com influências das artes marciais orientais que chegaram no país, ganhou graduações, sequência, participação em campeonatos e o então título de esporte nacional.
Como capoeiras, devemos zelar pelos ensinamentos que carregamos e compartilhamos de nossos Mestres e nossas Mestras. Somos herdeiros de uma ferramenta de mobilização social, que ajuda a fortalecer e a organizar o povo. Salve Mestre Môa do Katendê! Salve Contramestra Cris! Salve Magó! Salve Marighella, comunista e capoeira de valor! Salve todos e todas que resistem com a prática da capoeira como ferramenta de luta para libertação do nosso povo.