UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Capoeira: ferramenta de luta pela libertação

Outros Artigos

Laís Chaud
Wilson Martins (Majé)

“Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa, não é perversa. Ela é um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda”, Mestre Pastinha.

Nos arriscamos a dizer que a capoeira é uma das primeiras manifestações revolucionárias da população negra no Brasil, expressão pela qual os africanos escravizados manifestavam sua forma de luta. A presença dos instrumentos musicais disfarçava o verdadeiro motivo da aglomeração, fazendo tudo parecer uma dança. E foi então com o jogo de corpo, o ritmo musical e a organização coletiva que os escravizados criaram uma ferramenta de luta contra as ações dos feitores e capitães do mato. Nos mocambos e quilombos aperfeiçoaram cada vez mais a prática da capoeira e, com movimentos de ataque e defesa, treinavam os mais novos para se defenderem das violências sofridas nas senzalas e nos momentos de fuga. 

Os primeiros registros oficiais da capoeira são datados de 1789 e, desde este período até 1930, ou seja, durante o Império e a Primeira República, praticar os movimentos e ritmos da capoeira era crime. De que forma? Segundo o Código Penal de 1890, aqueles que praticassem “exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos como Capoeiragem” seriam presos. Tudo então que se relacionasse à capoeira era proibido: os movimentos, o canto, os instrumentos, com o objetivo de conter os encontros entre os praticantes. 

Apesar dessa criminalização, o Estado imperial não conseguiu deter a prática. Prova disso é que, apesar de muitas pessoas terem sido perseguidas e presas, a comunidade da capoeira não parava de crescer. Inclusive, o que conhecemos são histórias e mais histórias da vanguarda dos capoeiristas que reafirmam essa prática como uma ferramenta fundamental para libertação do povo. A agilidade, a esperteza, a sagacidade dos movimentos e a união dos praticantes eram algumas das marcas mais reconhecidas na capoeira. Tão reconhecidas que, em 1937, o governo fascista de Getúlio Vargas percebeu tamanha força de organização que a capoeira tinha entre o povo pobre e preto e decidiu por descriminalizá-la. 

Para ser ensinada nas universidades e ter o apoio do governo, a prática da capoeira passou por uma peneira e, com influências das artes marciais orientais que chegaram no país, ganhou graduações, sequência, participação em campeonatos e o então título de esporte nacional.

Como capoeiras, devemos zelar pelos ensinamentos que carregamos e compartilhamos de nossos Mestres e nossas Mestras. Somos herdeiros de uma ferramenta de mobilização social, que ajuda a fortalecer e a organizar o povo. Salve Mestre Môa do Katendê! Salve Contramestra Cris! Salve Magó! Salve Marighella, comunista e capoeira de valor! Salve todos e todas que resistem com a prática da capoeira como ferramenta de luta para libertação do nosso povo.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes