Por Emerson Lira
CAMPINA GRANDE (PB) – Donos de lojas comerciais da cidade de Campina Grande (PB) protagonizaram cenas de horror na manhã do dia 28. Trabalhadores comerciários foram obrigados pelos seus patrões a comparecerem a uma “manifestação” em frente às lojas em que trabalham, localizadas na Rua Maciel Pinheiro, no Centro.
Em sua grande maioria mulheres, os comerciários foram enfileirados portando cartazes pedindo a reabertura do comércio local, fechado por decretos estadual e municipal devido à pandemia que assola o mundo. Não bastasse essa situação vexatória, ainda tiveram que se ajoelhar num momento chamado pelos organizadores de “oração e louvor”.
Um dos empresários, Eliézio Bezerra, dono de uma rede de lojas de calçados na cidade, afirmou, em entrevista a uma rádio local, que o ato não teve a intenção de “agredir ninguém”, pois, em suas palavras “só viemos mostrar a necessidade real de toda a classe, não apenas empresarial, mas externar e falar por vários deles, vários colaboradores, eles que são os mais necessitados pela busca do seu emprego”.
Ao contrário do que afirmou o empresário, o Sindicato dos Comerciários de Campina Grande denunciou, em nota, a prática de assédio moral contra os trabalhadores: “muitos funcionários participantes do referido ato, através de denúncias anônimas que chegaram ao sindicato, foram coagidos a participar do movimento por parte de alguns empresários, com a ameaça da possibilidade de afastamento dos seus postos de trabalho”.
Um dos líderes deste ato repugnante foi o próprio presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-CG), conhecido como Arthur Bolinha, que, inclusive, já foi candidato a prefeito da cidade em algumas eleições, sempre por partidos de direita, e que é ferrenho defensor do governo antipovo de Jair Bolsonaro.
Para a comerciária Isadora Pinheiro, a postura dos empresários é “uma falta de respeito para com os trabalhadores, as vítimas da pandemia e a sociedade. O que aconteceu foi um abuso e uma exposição ao risco, colocou os trabalhadores na rua, expostos, aglomerados e no chão. Era claro que estavam constrangidos. Transformam a vida em política e dinheiro, e ainda possuem a coragem de envolver o nome de Deus nisso tudo, sem o mínimo de amor e respeito ao próximo”.
Tudo isso ocorreu no momento em que o Estado da Paraíba atinge o pico dos casos de doença, segundo estudos da Secretaria Estadual de Saúde. Já são 633 casos confirmados, sendo 42 casos na cidade de Campina Grande. Há um decreto estadual que proíbe a abertura do comércio até o dia 03 de maio.
E esta não foi a única ação organizada pela classe empresarial. Já haviam pedido na Justiça a reabertura do comércio local, mas perderam em primeira e segunda instância. O presidente do Sindicato dos Comerciários de Campina Grande, José Nascimento Coelho, formalizou denúncia junto ao Ministério Público do Trabalho, que já anunciou que irá investigar o caso caracterizado como assédio moral e propôs uma ação civil pública contra os envolvimentos neste ato criminoso.