João Coelho, Unidade Popular – SBC
A crise causada pelo Covid-19 chegou à São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo; são 43 casos confirmados e 4 mortes até a presente data, sendo a segunda cidade do estado com maior número de casos. Na última semana o Prefeito da cidade, Orlando Morando (PSDB), foi internado na UTI diagnosticado com Covid-19.
Nas últimas semanas a vida da população na cidade mudou radicalmente. Os transportes municipais foram reduzidos, os comércios e shoppings da cidade estão fechados (após decreto estadual) e as grandes montadoras da indústria automobilística, principais empregadoras da região, concederam férias coletivas para os trabalhadores.
O Prefeito tem feito coro às autoridades da área da saúde, incentivando os munícipes a manterem a quarentena; algumas medidas foram tomadas para fortalecer o isolamento, como o fechamento dos parques da cidade e a tentativa de paralisar o transporte público no município. Porém, quem vive e trabalha em São Bernardo sabe que, apesar do profundo esforço em manter as aparências, a atuação da Prefeitura está longe de garantir a saúde e a segurança do povo pobre da cidade.
Em suas transmissões ao vivo pelo Facebook, Orlando Morando tem dito que “nesse momento é preciso colocar a saúde acima dos princípios econômicos”. No entanto, apesar dessas declarações o Prefeito tem permitido o funcionamento de várias empresas que se recusam a fechar as portas e garantir a quarentena dos trabalhadores; as empresas de tele atendimento, por exemplo, desde antes do decreto de Bolsonaro que passou a considera-las como serviço essencial, continuam amontoando trabalhadores em galpões sem ventilação e sem higienização adequada, enquanto a Prefeitura fecha os olhos.
A Atento, maior empresa do ramo na cidade, após inúmeras denúncias à vigilância sanitária, foi interditada por expor seus operadores ao risco iminente de contaminação. No entanto algumas horas depois a interdição foi cancelada e os sanitaristas responsáveis alegaram que a empresa tinha entrado em acordo com a Prefeitura; a pergunta que fica é: que tipo de acordo é esse em que Prefeitura e empresa decidem colocar a vida dos trabalhadores em risco?
Indignados, os trabalhadores iniciaram uma paralisação de dois dias que obrigou a vigilância sanitária a fechar novamente a empresa. Após mais dois dias e com uma série de medidas importantes para reduzir o risco sendo tomadas, a empresa teve seu funcionamento liberado; no entanto, desde a liberação a Atento vem descumprindo sistematicamente várias dessas medidas e, apesar da continuidade das denúncias à vigilância sanitária, a Prefeitura não toma nenhuma atitude.
Essa é a realidade dos trabalhadores do tele atendimento, mas não só. Várias são as empresas que continuam abertas e que, mesmo com uma série de denúncias, não sofrem nenhuma intervenção por parte da Prefeitura; infelizmente o discurso bonito de Orlando Morando esbarra no profundo compromisso que tem com os ricos e grandes empresários da cidade.
Esse compromisso, que o Prefeito mostra desde o início de sua gestão e que o faz sempre defender os patrões na sua sede de lucro e não os trabalhadores, tem seu preço. Como bem denunciou o Jornal A Verdade em sua edição n°226, a pandemia do Covid-19 está diretamente ligada à falta de coleta de lixo e esgoto e à falta de água tratada; pois bem, o preço pago pelos pobres nesse momento pelo compromisso do Prefeito é que grande parte da população da cidade não tem uma moradia digna, com as mínimas condições de saneamento, onde possa se proteger da propagação do vírus.
Nos últimos anos Orlando Morando e seu Vice-Prefeito e Secretário de Serviços Urbanos, Marcelo Lima (PSD), executaram uma série de despejos e demolições de comunidades pobres na cidade, jogando famílias inteiras na rua para defender a especulação imobiliária. Em reunião com militantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas no início desse ano, para tratar da tentativa de despejo de 500 famílias da Vila Moraes, Marcelo Lima declarou que iria continuar derrubando as casas que achasse necessário e que esse era seu papel.
O resultado dessa política anti-povo, aliada à falta de investimentos em saneamento básico, é que milhares de pessoas na cidade irão adoecer e ter suas vidas ameaçadas como consequência de uma Prefeitura que passou anos atacando os moradores das periferias da cidade. E agora esse mesmo Prefeito, que até por fraude em licitações em escolas e hospitais já foi indiciado pela Polícia Federal, diz em seus pronunciamentos que está no mesmo barco que a população que ele despejou de suas casas; piada.
Infelizmente a crise do Covid-19 irá demorar a passar e deixará graves consequências para o povo brasileiro, no entanto é importante tirar de todo esse processo o maior aprendizado possível e entre esses aprendizados está o de que é necessário reorganizar nossa sociedade para que as necessidades do povo sejam a prioridade. No momento em que uma tragédia parece estar próxima grande parte das autoridades, que nos últimos anos atacaram os pobres e os trabalhadores sem um minuto de trégua, tentam se esquivar de sua responsabilidade; não podemos nos deixar enganar.
Hoje o Prefeito Orlando Morando critica Bolsonaro e sua política que está levando o povo brasileiro para o abismo, dizendo que o Presidente está “profundamente desequilibrado”. Bolsonaro não está desequilibrado, trata-se de um genocida, alguém que não se importa com as vidas do povo brasileiro e, apesar de isso estar mais explícito agora, sempre foi assim; não fosse, Bolsonaro não teria aprovado a reforma da previdência que irá matar o povo de trabalhar, não teria apoiado a reforma trabalhista que transformou milhares de trabalhadores em empregados informais que hoje estão em risco de morrer de fome por não conseguir trabalhar em meio à quarentena, não teria aplicado uma política de austeridade que cortou investimentos sociais para pagar mais juros aos banqueiros milionários detentores da dívida pública. Hoje Orlando Morando pede investimentos para que o Hospital de Urgência de São Bernardo possa internar as vítimas do Covid-19, mas apoiou o a aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos que fez o SUS perder, só em 2019, cerca de R$9 bilhões em investimentos; e apoiou também todas essas outras medidas que massacram dia a dia o povo trabalhador.
Muitos têm dito que nessa pandemia estamos todos na mesma situação, mas isso não é verdade. Os trabalhadores continuam a ser explorados e a pagar a maior parte dessa crise, enquanto os ricos, principais culpados pelo momento que enfrentamos, estão em condições muito melhores. A crise poderia não ser tão grave se nos últimos anos se tivesse investido na melhoria das condições de vida da população ao invés de entregar nossos recursos para os banqueiros e os grandes capitalistas que dominam a economia, ou se as atividades de trabalho não essenciais fossem realmente paralisadas e o sustento dos trabalhadores garantido pelo Estado e pelos mais ricos; mas a escolha dos poderosos foi novamente a de defender seus privilégios e manter a classe trabalhadora na miséria.
Portanto, para vencer essa crise e construir um futuro justo é necessário construir um Governo Popular no Brasil, mas também em nossas cidades. E para isso é preciso saber que nossos aliados são aqueles que nesse momento estão prestando sua solidariedade a cada mulher, jovem, idoso ou criança pobre que passa grandes dificuldades nas periferias, aqueles que há muito tempo vêm lutando em defesa dos direitos do povo, aqueles que são parte da grande massa de trabalhadores de nosso país e não os que que passaram anos destruindo a vida do povo, que são responsáveis por essa situação mas querem se esconder atrás de meia dúzia de decretos feitos para encenar que estão ao lado da população.