Por Fly Hirano, Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas – São Paulo
“Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso” – Bertolt Brecht
Entre a ignorância e o crime existe a farsa. A farsa é o maior artifício de qualquer criminoso, que para ocultar suas ações se utiliza do manto da ignorância, ou, mais escancaradamente, de uma verdade distorcida. Tal é o modus operandi do reitor de uma das mais renomadas universidades públicas da América do Sul e Central e até do mundo. Vahan Agopyan determina em sua reunião de cúpula e anuncia: “a USP não vai parar”. Essas cinco palavras estão trajadas de mentiras, veremos.
O reitor diz defender o “suporte à sociedade”, mas é preciso expor que o amparo a que se refere diz respeito aos processos de privatização cuja implantação há tempos é ambicionada na Universidade de São Paulo (USP). Um dos exemplos mais expressivos é o Hospital Universitário (HU). Em 2018, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) aprovou emenda de R$48 milhões para o hospital, valor redirecionado por Vahan a outras finalidades, o que culminou na denúncia do desvio pelo Dossiê HU. O dinheiro segue suspenso, pois através do estrangulamento e precariedade o reitor pretende transferir à inciativa privada a gestão do hospital para as “Organizações Sociais de Saúde” (OSS). Tal situação se agrava no período de pandemia para trabalhadores e trabalhadoras efetivos e terceirizados do HU: não há testes para os funcionários, além do racionamento de máscaras e EPIs, chegando a uma máscara cirúrgica por dia e equipamentos improvisados de segurança.
Tal descaso com o atendimento à saúde pública é nítido, os próprios moradores do Conjunto Residencial da USP (CRUSP) não possuem acesso ao teste nem ao tratamento. Após grande processo de luta e pressão sobre a Superintendência de Assistência Social (SAS) e a reitoria, os estudantes conseguiram a conquista dos testes do COVID-19, no entanto, apenas uma leva teve seu resultado divulgado até o momento, com 10 dos 90 avaliados sendo casos confirmados de infecção pelo vírus. Ainda há outras 4 levas a serem reveladas (360 exames), no entanto, nada foi feito a respeito dos 10 alunos já infectados, de onde se pode inferir que o valor a ser divulgado já não corresponde ao potencial aumento de contaminação. Ainda assim, as mães denunciam o processo de coleta para o exame, em que pessoas do grupo de risco deveriam se colocar na fila com os demais estudantes.
O despreparo e o desrespeito para com os moradores do CRUSP é evidente. Os casos se confirmam e nada é feito a respeito, os sistemas de saúde se saturam e nenhum dinheiro é investido em contratação ou infraestrutura e ainda por cima, na questão referente aos cursos, tenta-se implantar o Ensino a Distância (EaD), o qual necessita uma análise um pouco maior que será feita a seguir.
O Ensino a Distância se apresenta tal qual um prisma de ataques, inicialmente como uma luz branca é a farsa decretada como solução para o impasse do ensino em meio à crise, no entanto, quando ampliamos seu espectro podemos identificar ao menos sete facetas de impacto: insuficiência acadêmica, precariedade estrutural, desfalque familiar, jornadas múltiplas, saúde, dever social e privatização. Esse é o panorama da USP e de seus estudantes hoje durante a pandemia do COVID19. Tanto mais é preocupante a situação dos moradores do CRUSP, que compõem os mais prejudicados tanto do prisma da EaD quanto da precarização do HU. Para agravar ainda mais a situação, a moradia estudantil que oficialmente conta com 12 mães, hoje abriga 98, que estão completamente desamparadas pela SAS e pela reitoria, tendo que lidar ainda com a pressão psicológica e material do bem-estar de suas crianças, grupo de risco, recebendo apenas auxílio para um indivíduo.
As Brigadas de Solidariedade desenvolvidas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) em parceria com o Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC) iniciaram um processo de angariação de doações junto dos estudantes da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) e conseguiram um total de R$1522,00 que foram destinados às mães do CRUSP, configurando também o primeiro e único até o momento centro acadêmico a desenvolver uma ação nesse sentido.
A entrega dos alimentos e dos produtos de higiene garantem mais um período de respiro para essas famílias, no entanto, ficou evidente que somente a luta e a união verdadeiramente solidária conseguiram conquistar mudanças efetivas no espaço, como os testes para o COVID19 e as doações. Não podemos aceitar a precarização do ensino público, nem que a vida dos nossos alunos seja vendida pelo dinheiro criminoso das empresas que colocam o lucro acima de tudo, desumanizando até a última gota do nosso suor. Nossa única saída é o resgate e o exercício da solidariedade proletária e a união e construção do poder popular para a reconstrução de uma sociedade em que impere os valores da justiça e da liberdade.
Por uma educação pública, gratuita e de qualidade!
Fora Bolsonaro, por um governo popular!
Ousar lutar, ousar vencer! Venceremos.