Por Milena Moretto e Thainá Battesini Teixeira
Unidade Popular – Passo Fundo e MLC RS
PASSO FUNDO/RS – Após onze dias da reabertura do comércio de Passo Fundo, os casos de Covid-19 veem aumentando de forma significativa na cidade, saltando de 36 casos confirmados no município e 3 óbitos, no dia 17 de abril de 2020, para 207 casos confirmados e 18 óbitos, no dia 03 de maio de 2020. Os hospitais já começam a superlotar, como é o caso do maior hospital da cidade, o Hospital São Vicente de Paulo, onde dos 20 leitos de UTI destinados a pacientes do novo coronavírus, 11 já estão ocupados. Além disso, os leitos clínicos, na enfermaria, já estão com superlotação: são 23 vagas e 26 pacientes. Passo Fundo ocupa o segundo lugar do estado com o maior número de infectados, e o terceiro lugar com maior incidência de casos para cada 100 mil habitantes.
Para agravar ainda mais a situação, a cidade possui um lar de idosos com 18 residentes testando positivo para Covid-19 e uma contaminação generalizada dos trabalhadores no frigorífico da JBS. Esse segundo caso nos salta aos olhos e deve ser melhor examinado. A JBS – empresa que no ano de 2019 registrou um lucro líquido de R$ 2,4 bilhões e uma receita líquida de R$ 204,5 bilhões, a maior já registrada pela companhia, equivalente a US$ 57,1 bilhões, além de ter feito aquisições que totalizaram um valor de R$ 2,2 bilhões e irão conferir à companhia uma receita incremental anual de mais de R$ 6 bilhões – é uma empresa em que os donos tem imensos lucros, enquanto os trabalhadores do frigorífico são vítimas fáceis de doenças, trabalhando próximos uns aos outros em serviços exaustivos.
Não é incomum que os trabalhadores da JBS sejam vítimas de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) nas indústrias. Um estudo da UFRGS afirma que identificou que o esforço que resulta nas LER é decorrente da falta de fio das facas utilizadas pelas indústrias, as quais são consideradas muito ruins pelos funcionários, demonstrando um completo descaso do setor fabril com os trabalhadores. Ainda há a pressão causada aos trabalhadores para aumentar a produção e atingir as metas de exportação, que faz com que muitos desenvolvam um adoecimento mental. Essa condição provavelmente é resultado da intensificação do trabalho, dos ritmos elevados, da repetitividade e da monotonia do trabalho desempenhado, como consta no estudo.
Além disso, a empresa está envolvida em diversos esquemas de corrupção. Segundo o portal G1, os donos da JBS pagaram propina para ter vantagens para suas empresas e viabilizar negócios que formaram o maior grupo privado do país e a maior companhia de carne do mundo, de acordo com depoimentos na delação premiada de executivos e empresários da JBS e empresas do mesmo grupo. Os relatos mostram que o grupo corrompeu políticos para ter incentivos fiscais e conseguir dinheiro no BNDES. Há anos a empresa não pensa nos trabalhadores, só exigindo que trabalhem mais para os cofres dos grandes empresários do ramo. A filial passo-fundense não é destoante de todo o resto, sendo que nessa pandemia vemos bem o caráter burguês e contra os trabalhadores, fazendo com que continuem suas tarefas, mesmo com casos do novo Coronavírus confirmados dentro da empresa, afastando apenas quando o Ministério do Trabalho interditou o frigorífico por constatar que é um caso de contaminação generalizada. Já existem 20 casos de trabalhadores da JBS confirmados com a doença e duas mortes de familiares de funcionários. A unidade ainda tem 15 empregados com a suspeita de contaminação e quatro contatos próximos também suspeitos. A empresa como contraponto apenas lançou uma nota de posicionamento relatando que está amparada pelas recomendações técnicas exigidas.
Após todos esses dados e relatos a pergunta que não cala é: o que governo municipal tem feito pelos passo-fundenses no período de pandemia? Além de ter culpado inteiramente os moradores do município e a testagem (que segundo o prefeito é maior que na maioria dos municípios, o que não é verdade), não fizeram praticamente nada. Bem pelo contrário, juntamente com o Comitê de Orientação Emergencial (COE), apoiou a reabertura do comércio e o funcionamento de igrejas, templos e celebrações religiosas, apenas diminuindo a capacidade e horário de funcionamento. No mais, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul salientou que em Passo Fundo o número de casos mais que dobrou em poucos dias, mas relatou que a cidade não se encontra em estado grave, por isso não é necessário aumentar o isolamento social, logo o comércio continua aberto, bem como os demais setores não essenciais da cidade.
Até quando o Município e o Estado deixarão a população morrer só para beneficiar o lucro dos empresários de Passo Fundo? Até quando o lucro estará acima da vida dos trabalhadores? São diversas inquietações que não abandonam os moradores de Passo Fundo. É urgente que o munícipio pense na vida das pessoas, que implemente políticas públicas na cidade, feche o comércio local, os setores não essenciais e reavalie novas medidas de segurança de pensão.