Camila Figueiredo
RIO DE JANEIRO – As universidades públicas têm um papel fundamental na construção democrática da nossa sociedade. Não desempenham somente a função de ensinar a seus alunos, mas devem manter uma boa relação com a população ao seu redor, além de exercer uma permanente troca com a comunidade com seus projetos de extensão.
A chegada da epidemia de Covid-19 no Brasil colocou em xeque o projeto, da direita, de sucateamento das universidades e institutos federais, que vêm sofrendo com cortes e intervenções em suas reitorias. A decodificação do genoma do novo coronavírus em apenas 48 horas por cientistas universitários brasileiros abriu os olhos da população de como as universidades são importantes para o nosso país.
Porém, o atual governo insiste em depreciar tais avanços. Edita normas para que as universidades públicas e privadas adotem o modelo de ensino a distância (EaD), corta milhares de bolsas de pesquisa e insiste em desconsiderar os estudos científicos mundiais que alertam que a melhor medida para contenção do vírus é o isolamento social.
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maior do país, o modelo de ensino a distância foi rejeitado, uma vez que nem todos os alunos e alunas teriam acesso à internet de qualidade e computadores, além de não haver uma plataforma adequada para isso nem o treinamento de professores que esse tipo de recurso exige.
A instituição aderiu à quarentena intensiva, orientando seus alunos a ficarem em casa e a seu corpo discente e técnico a adotarem o trabalho remoto. Os trabalhadores terceirizados foram dispensados dos trabalhos não essenciais, especialmente os que estão em grupo de risco.
Entretanto, mesmo que a UFRJ mantenha o pagamento às mantenedoras de grupos terceirizados, algumas empresas estão demitindo ou não pagando os serviços. Por isso, a Associação de Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (ATTUFRJ) tem organizado arrecadação de cestas básicas para ajudar esses servidores a ficarem de quarentena e se organizando para a manutenção desses empregos.
O polo principal da UFRJ, que fica no campus do Fundão (Cidade Universitária), na Ilha do Governador, possui moradores do alojamento universitário (moradia universitária), vila residencial (repúblicas) e um complexo hospitalar que atende grande parte da população, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCCF). As pesquisas na área de infectologia, farmacologia e medicina estão a todo vapor, além de iniciativas para manufatura de suplementos hospitalares, não só para o HU, mas para outros centros médicos, além de manutenção da alimentação da população que habita a Cidade Universitária.
MEC Desmascarado
Pesquisadores da Coppe/UFRJ e do Instituto de Biologia estão desenvolvendo um novo teste para detectar anticorpos em pessoas com suspeita de Covid-19 de forma mais simples, rápida e barata. O novo teste se baseia na técnica sorológica e pode ser desenvolvido em massa. Recentemente, a UFRJ emitiu um comunicado informando que testará toda a comunidade acadêmica que apresente sintomas da doença.
Outra frente de trabalho é a produção de equipamentos de proteção individual (EPIs) para serem utilizados nos hospitais da universidade. Os protótipos de protetores faciais foram desenvolvidos por meio de uma parceria entre a Coppe, o Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais e o Hospital Universitário, e já começaram a ser produzidos em impressoras 3D por instituições parceiras, como a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio).
Pesquisadores do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) estão desenvolvendo um protótipo de ventilador pulmonar mecânico para ser reproduzido em massa, de forma simples, rápida e barata, com recursos disponíveis no mercado nacional.
O Diretório Central dos Estudantes da UFRJ também entrou na luta contra o coronavírus e organiza, junto com a Divisão de Saúde do Estudante (Disae), serviços de acolhimento, e está promovendo também uma campanha de arrecadação para apoiar os moradores da Vila Residencial e estudantes carentes. Intitulada de “Eles pelo lucro, nós pela vida”, a campanha do DCE visa à distribuição de cestas básicas aos estudantes que estão passando por dificuldades e também a atender demandas específicas fundamentais às suas vidas.
Todas essas iniciativas mostram como é fundamental defender o caráter público da universidade, a pesquisa e a ciência não apenas em tempos de pandemia, mas permanentemente.