Por Rafael Freire, da Redação
OPINIÃO – Em mais um episódio de populismo, o presidente Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira (07), um seleto grupo de capitalistas de diversos ramos industriais: máquinas, plástico, químico, cimento, siderurgia, fármacos, calçados, automóveis. Segundo o próprio capitão reformado, o grupo representa 45% do PIB industrial do Brasil.
Mas isso para Bolsonaro é pouco. Ele precisa permanentemente atrair os holofotes para si a fim de desviar o olhar sobre os reais problemas da nação. O presidente, então, puxou para uma caminhada toda sua claque formada por empresários, pelo ministro Paulo Guedes, pelos interventores do Exército Braga Netto e Fernando Azevedo, pelo senador e primogênito Flávio Bolsonaro, pelo deputado e guarda-costas pessoal Hélio Lopes, além de vários assessores e seguranças. Unidos, como as imagens não deixam dúvidas, atravessaram a Praça dos Três Poderes e foram até o Supremo Tribunal Federal (STF) para falar com o presidente da corte Dias Toffolli.
Dizem que foram sem avisar, mas, para quem estava pedindo o fechamento do STF há uma semana, o tom da conversa foi bastante amistoso. Até parece que têm alguns pontos de vista em comum…
Perante Toffoli, o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou: “Se pudesse resumir e fazer uma caracterização, a indústria está na UTI e, para sair, precisa que ocorram as flexibilizações, de maneira que a roda volte a rodar”.
E seguiram com esse papo furado de “flexibilizar” o isolamento social, fazendo metáforas com a saúde, falando em doença, em UTI, em morte, exatamente no dia em que o Brasil atingiu a marca das 9 mil pessoas levadas à óbito pela covid-19. Isso em números oficiais, pois, segundo a estimativa de pesquisadores do Observatório Covid-19 BR, o país já teria hoje mais de 1,5 milhão de casos da doença (um terço destes no Estado de São Paulo), o que certamente elevaria muito o número de brasileiros mortos.
Na verdade, se é para falarmos em capitalistas e em morte, devemos lembrar das palavras de Karl Marx em sua obra O Capital (livro 1): “O capital é trabalho morto que, feito um vampiro, só pode viver sugando o trabalho vivo – e que quanto mais trabalho suga, mais vive. O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou dele”.
Ou seja, é esta burguesia que saiu do conforto de suas mansões para fazer um tour por Brasília, com direito a aglomeração, entrevistas e selfies com o fascista Bolsonaro, quem, de fato, personifica a morte nessa história. É para ela que Bolsonaro, Guedes e os generais governam. Todo este episódio só escancara ainda mais que o “Estado burguês é um comitê gestor dos negócios da burguesia” (Manifesto do Partido Comunista) e que os fascistas aquartelados no Palácio do Planalto e nos Ministérios realizam um genocídio calculado contra o povo, repetindo a mentira de que estão lutando para que a “economia não quebre”.
À burguesia só interessa o lucro máximo. Para isso, precisa que a produção e a circulação de mercadorias voltem à “normalidade”, independentemente de quantos milhares de trabalhadores irão ainda morrer. Eles contam com um exército industrial de reserva, que, no Brasil, soma uma massa de quase 40 milhões de pessoas, entre desempregados e informais.
Ontem, um grande portal de notícias trazia as seguintes manchetes, uma embaixo da outra: “Empresários dizem que estão na UTI” e “Pacientes esperam por vagas em UTI ao lado de corpos no Amapá”. A primeira, reproduz a fala de Bolsonaro. A segunda, a dura realidade do povo pobre brasileiro neste momento de pandemia. Bolsonaro e seus aliados têm um lado na guerra entre as classes, o lado da burguesia.