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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Academicismo ou práxis revolucionária?

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TEORIA E PRÁTICA – A juventude revolucionária deve buscar a práxis para transformar a sociedade. (Foto: Jornal A Verdade)
Sávio Peres e Júlia Reis

BELO HORIZONTE – Para um comunista não basta interpretar a realidade, é preciso transformá-la. Em nossa vida militante estamos a todo tempo procurando entender a conjuntura e a melhor forma de atuar diante dela e das novas situações que surgem à luz do marxismo-leninismo. Para isso, é necessário compreender o desenvolvimento histórico da humanidade até o atual estágio da luta de classes. É preciso entender filosofia, economia, história, como também estudar e formular. Entretanto, teoria e prática estão diretamente conectadas na produção de conhecimento. É preciso ter uma práxis revolucionaria.

Porém, um obstáculo do movimento comunista surge no seio das universidades, da academia. O “academicismo” faz com que vários estudiosos, inclusive os que se dizem marxistas, passem a colocar o que ali é produzido como a forma ideal e oficial do conhecimento. Entre os comunistas ficam, então, de um lado, militantes tidos como “práticos” e, de outro, os militantes tidos como “teóricos”. É nesse cenário que se coloca a crítica, que, muitas vezes é mal interpretada, sobre o “academicismo”. O “academicismo” busca elevar a academia à forma maior de desenvolvimento da consciência individual e coletiva, além de colocar uma falsa posição de que os ditos “militantes teóricos” são os entendedores oficiais dos processos da luta de classe.

O termo “academicismo” historicamente se refere ao método de ensino artístico profissionalizante concebido, formalizado e ministrado pelas academias de arte europeias surgidas no século XVI na Itália, e consolidada na França. A influência desse método, e posterior concepção de arte, está intimamente associada ao desenvolvimento dos Estados absolutistas, na busca de um símbolo de unidade cívica, capaz de consolidar simbolicamente o status de seus governantes.

A academia francesa caracterizou-se pela sua estratificação e seu funcionamento burocrático. A sua estrutura orgânica previa a separação entre os membros plenos e os estudantes; a organização do currículo; o sistema de aulas e conferências e instituíra o sistema das exposições públicas periódicas da produção acadêmica, onde se conferiam prêmios aos trabalhos mais qualificados. Os pensadores burgueses iluministas condenavam esse modelo à época, porém, após a tomada do poder pela burguesia, esse modelo foi novamente organizado e voltou a funcionar, servindo à minoria de privilegiados.

No Brasil, o academicismo organizou todo o sistema de arte do início do século XIX até o início do século XX. Funcionou como um laboratório para a formulação de símbolos da identidade nacional e uma vitrine para a divulgação do poder da classe dominante imperial brasileira. Essa arte funcionava como um instrumento ideológico de educação, que, por regra, naquela época, expressavam exclusivamente os círculos da burguesia e nobreza. E é nesse período que surge também o embrião de diversas universidades, como a Universidade do Brasil (UFRJ) e posteriormente a USP, com a criação dos cursos de Direito, Arquitetura e Medicina.

Não é verdade, porém, que todo o conteúdo produzido dentro das universidades seja servil e subserviente. Muita coisa que se formula em espaços acadêmicos tem uma grande significação no desenvolvimento da sociedade. Apesar disso, Lênin, no texto Sobre as Tarefas das Juventudes Comunistas, faz uma crítica a esse tipo de estudo que “obriga as pessoas a assimilar uma quantidade de conhecimentos inúteis, supérfluos, mortos, que entulham a cabeça e transformam a jovem geração num exército de funcionários talhados todos pela mesma medida”.

Adiciona ainda que, da mesma forma, “seria extremamente incorreta, a simples assimilação livresca daquilo que dizem os livros sobre o comunismo. Os nossos discursos e artigos de agora não são uma simples repetição daquilo que se disse antes sobre o comunismo, pois os nossos discursos e artigos estão ligados ao nosso trabalho quotidiano e multilateral. Sem trabalho, sem luta, o conhecimento livresco do comunismo, adquirido em brochuras e obras comunistas, não vale absolutamente nada, porque prolongaria o antigo divórcio entre a teoria e a prática, esse antigo divórcio que constituía o mais repugnante traço da velha sociedade burguesa”.

O “academicismo” que está sendo analisado, portanto, refere-se à valorização estrita da formação que se dá dentro da bolha do espaço acadêmico, afastada da realidade da maioria da população e da prática comunista. Ou seja, quando não se buscam outros conteúdos e experiências que venham de fora desse espaço, que é privilegiado e está submetido aos interesses da classe dominante. O ambiente da academia, por si só, não desenvolve a consciência da necessidade da organização e da luta, diferentemente da educação revolucionária, que forja a consciência no fogo da luta de classes e da vida coletiva. Esses fatores explicam, inclusive, porque, entre os círculos acadêmicos de esquerda, se produz e se valoriza tanto conteúdo revisionista ou anticomunista.

Dentro do Estado capitalista, as instituições de educação, universidades, escolas, institutos de pesquisa são espaços de poder político que tem como dever atuar, em última análise, para a manutenção do sistema capitalista. Esse também é o caso dos espaços parlamentares, tribunais, órgãos públicos no geral. Porém, é necessária a disputa de todos eles por parte dos comunistas. Quem busca a construção de um mundo novo, mais justo e com uma educação emancipadora, deve entender que a disputa de poder dentro do capitalismo é necessária enquanto ferramenta tática do movimento popular. E em nossa atualidade, todos os espaços são válidos. Portanto, é preciso que estudemos, e muito, mas sem esquecer que o conhecimento deve ser um resultado da relação dialética entre teoria e prática.

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