Medidas nos trens do Rio não combatem a COVID-19, mas pioram o transporte

119
Serviço de trem no RJ é sucateado e superlotado. Com as medidas da Supervia serão focos de contaminação de COVID-19. Foto: reprodução

Por Leonardo Laurindo

RIO DE JANEIRO – Com a desculpa de evitar aglomerações, a concessionária da rede de trens do Estado do Rio de Janeiro, SuperVia, anunciou que modificará o modelo de operações nos ramais Deodoro, Santa Cruz e Japeri. Apesar do palavrório em seu site oficial, em que afirma que a redução da “sinalização” permitirá maior oferta de trens na linha unificada, não há nenhuma demonstração efetiva por parte da concessionária de que a eliminação do tempo gasto nas paradas de sinalização compense as novas 12 paradas que serão realizadas com a unificação da linha.

Dessa forma, caso não compense, o resultado será o oposto do exposto pela empresa. A viagem de quem pegar o ramal Santa Cruz aumentará em, pelo menos, 45 minutos, o que aumenta a permanência das pessoas em um local fechado, pequeno, cheio e apertado. Como a linha unificará, os trens ficarão cada vez mais lotados, aumentando o índice de transmissão do novo coronavírus. Para proteger seus lucros, a Supervia pode estar colocando em risco a vida de milhares de trabalhadores que dependem do trem como meio de transporte diário.

Rio de janeiro volta no pior momento possível

A semana passada terminou com pelo menos 90% dos leitos da rede de saúde pública do município do Rio ocupados. A taxa de ocupação de leitos de tratamento intensivo para a Covid-19 aumentou em cerca de 4%.

As autoridades municipais e estaduais insistem que o número de leitos é superior à demanda por vagas no SUS, mas essa afirmação esconde o caráter genocida com que são feitos os cálculos pela administração de Crivella e Witzel. Se pegarmos os dados estaduais, por exemplo, veremos que, até domingo (07/06), haviam 6.707 mortes confirmadas por Covid-19. Na última quinta-feira (05/07), 317 mortes foram confirmadas em um dia.

Ou seja: “sobram” uns poucos leitos porque o sistema de saúde é ineficaz em fechar a torneira de mortes. Em vez de ser reafirmada uma política que combate a transmissão por meio de um isolamento rígido e cientificamente planejado, os governantes do Rio, capachos da burguesia, permitem a “reabertura da economia”, jogando dezenas de milhares de trabalhadores ao risco de serem infectados. Com isso, eles dão mais um passo em naturalizar as milhares de mortes diárias em nosso país. Transformam vidas perdidas em números, dramas em estatística e política de classe em “fatalidade”.

Alguns hospitais, como Salgado Filho, no bairro do Méier, indicam uma possível melhora no tratamento dos pacientes. Mas essa tímida melhora, que parece mais circunstancial que outra coisa, logo irá por água abaixo caso a reabertura prossiga e a transmissão cresça exponencialmente.

Medidas para combater a catástrofe

As medidas para combater a transmissão do coronavírus e diminuir o número de mortes já são universalmente conhecidas. Só que aplicá-las significa mexer no bolso de alguns poucos capitalistas do ramo hospitalar, da indústria química e alimentícia, assim como desequilibraria o nível “ideal” de gastos públicos aceitáveis pela especulação financeira.

Assim que foi reconhecido o risco de epidemia em nosso país, os três níveis federativos deveriam unificar o combate à pandemia. Entre as medidas a serem tomadas logo de cara, estaria a decretação de um lockdown. També é necessária a estatização de todos os leitos da rede privada temporariamente, a reconversão industrial de empresas químicas, bioquímicas etc. para construção de materiais hospitalares necessários. Além disso, é preciso a construção de comitês e juntas de distribuição de alimentos, identificando as principais residências cujos moradores não pudessem sair de casa por pertencerem a grupos de risco. Essas juntas também ficariam responsáveis por controlar a especulação com o preço de alimentos – cabe lembrar que a inflação sobre o preço de alimentos acumulou 5,47% (IPCA-15) no Brasil durante a pandemia.

E isso é só para um começo de conversa. Aplicar essas medidas, porém, incomodaria não só o lucro de um punhado de capitalistas, como demandaria a associação de trabalhadores e técnicos segundo suas especializações (área de saúde e hospitalar, alimentícia, distribuição, indústria química, etc) controlando e supervisionando a produção e distribuição em áreas específicas.