O isolamento social tem servido para escancarar a realidade nua e crua dos já socialmente isolados, os pobres, periféricos e moradores de comunidades.
Por Rodrigo Faddoul
Rio de Janeiro
Estamos enfrentando uma pandemia nunca antes vista, não tão mortal quanto a Gripe Espanhola, mas tão preocupante quanto. E ninguém em sã consciência discorda das autoridades sanitárias e científicas sobre a necessidade do isolamento social, salvo fanáticos negacionistas, que colocam em risco a própria vida e a vida alheia.
Porém, o isolamento social tem servido para escancarar a realidade nua e crua dos já socialmente isolados, pobres, periféricos, moradores de comunidades, muitos dos quais sequer têm condições mínimas para garantir sua higiene básica, como água na torneira para lavar as mãos.
A maioria dessa população sobrevive de forma autônoma, com suas vendinhas, suas barraquinhas, fazendo seu “corre diário”, fazendo faxina, entre outros serviços.
E as crianças? Sem aulas presenciais, alguns colégios adotaram o sistema EaD; mas como estudar à distância se a maioria das crianças da periferia não tem acesso a um smartphone ou a um computador? Ou quando têm um celular que pode reproduzir vídeo não possuem acesso à internet banda larga, nem condições de carregar seu celular para usar os dados móveis.
E assim segue a população pobre e periférica no isolamento social sendo socialmente isolada, com esperanças de sacar um auxílio de 600 reais que muita das vezes não sai da análise, pensando no que vai ter para comer amanhã, ou até mesmo hoje.
Da mesma forma, crianças pobres da periferia no isolamento social são socialmente isoladas. Enquanto muitas crianças de classe média e alta têm suas aulas à distância, as crianças da periferia muita vezes não têm sequer acesso à internet.
Enquanto um clube de futebol manda testar seus jogadores a cada treino, falta teste para a população em geral, que morre nos hospitais à espera de um leito e sem um diagnóstico fechado. Falta comida, água, saneamento básico, internet para se estudar, testes, leitos hospitalares. O isolamento social nos joga na cara a realidade dos socialmente isolados.
É preciso lutar por uma renda básica universal permanente, por saneamento básico e água encanada nas periferias, por internet gratuita para o pobre acessar conteúdos EaD.
É preciso lutar para que a população tenha acesso a smartphones e computadores, principalmente quem estuda. É preciso lutar por acesso da população a testes e exames e para que os leitos de todos os hospitais sejam universalizados.