Gregorio Gould
SALVADOR – No último período, temos assistido a um verdadeiro massacre de crianças e adolescentes nas favelas do Rio de Janeiro protagonizado pelo fascista Wilson Witzel, governador do Estado. Os últimos casos foram dos jovens João Pedro, 14 anos, morador da Complexo do Salgueiro, na Cidade de São Gonçalo, assassinado no dia 19 de maio dentro de sua própria casa, quando a polícia entrou sem nenhum mandado judicial; e de João Vitor, 18 anos, morador da favela Cidade de Deus, na capital, assassinado dia 20 de maio em uma fila de distribuição de cestas básicas.
Há alguns meses, um dos mais chocantes casos de assassinatos de crianças por parte da polícia foi o da menina Agatha Felix, de 8 anos, assassinada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro dentro de uma Kombi.
Em Salvador, no ano de 2015, ocorreu a chacina do Cabula, em que 12 jovens foram assassinados pela PM, caso que só não foi mais absurdo que a declaração do governador Rui Costa (PT) de que cada jovem assassinado era um “gol da polícia”. E essa história se repete em todas as favelas e periferias das grandes cidades brasileiras.
Trata-se de uma política muito bem planejada e executada para defender os interesses dos ricos, da classe capitalista. Sabemos que para superexplorar a classe trabalhadora impondo salários mais baixos importa aos ricos ter um grande número de trabalhadores desempregados, o chamado exército de reserva. E também que, de tempos em tempos, sejam destruídas forças produtivas (entre elas, o próprio trabalhador). Por isso que, para movimentar a economia com a venda de armas e outros insumos bélicos, as potencias imperialistas promovem guerras nos países explorados.
A desculpa da guerra às drogas ou do combate à violência é cada vez menos convincente, já que nenhuma medida é tomada quando é encontrada cocaína no helicóptero de um senador, quando outro afirma em gravação vazada “eu só trafico drogas”, ou quando 39 kg de cocaína no avião presidencial só são descobertos pela polícia espanhola e que a violência que bate todos os recordes é a do Estado, através da polícia.
E mais: se o objetivo fosse acabar com as drogas, o alvo do Estado não seriam os pobres que são recrutados nas favelas para vendê-las, mas os grupos financeiros que lucram com todo esse arsenal bélico e essa movimentação internacional de drogas. O foco territorial não seriam as favelas, mas sim as fronteiras, que, como mostra o caso do avião presidencial, não são uma preocupação.
A Crise Sanitária da Covid-19 Reproduz o Genocídio Pobre e Negro!
Ao que tudo indica, o vírus que está gerando mortes em todo o mundo não foi previsto nem criado por nenhum governo nem empresa, mas, ao se espalhar em uma sociedade desigual, construída a partir da exploração da maioria do povo, em que somente uma parte da sociedade tem acesso às formas de prevenção, mata muito mais os pobres. Prova disso é o levantamento do Portal Voz da Comunidade, que mostra que, ao se alastrar pelas favelas do Rio de Janeiro, a Covid-19 já cerca de 200 pessoas, número que supera as mortes em 14 estados e no Distrito Federal.
Portanto, o problema está em uma estrutura social construída na exploração da classe trabalhadora e na conformação dessa classe a partir de processos como a escravidão de pessoas negras e depois incrementada por uma política de branqueamento da sociedade brasileira, baseada no extermínio direto do povo negro, que não foi finalizado, à revelia dos intentos de seus formuladores.
Por isso, é muito importante organizar o trabalho do MLB em cada favela, construirmos núcleos da UP e comitês de luta contra essa matança. Precisamos organizar o povo que sofre cotidianamente com a violência policial e mostrar que só com uma grande mobilização popular nas favelas e periferias desse país é possível transformar a realidade. Podemos, inclusive, transformar vários comitês criados por nós em comitês de defesa da vida em cada favela. Devemos organizar canais de denúncias a partir das comunidades e defender que só com o poder popular, onde a vida seja mais importante que o lucro, podemos parar esse genocídio.