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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Paul Robeson, herói do povo negro nos EUA

REVOLUCIONÁRIO – Paul Robeson na embaixada da URSS nos Estados Unidos. (Foto: Jornal A Verdade)
Gabriel Montsho e Felipe Annunziata

RIO DE JANEIRO – Nascido em Princeton, nos EUA, em abril de 1898, Paul Robeson foi um cantor, ator, atleta e escritor norte-americano que dedicou sua vida à luta pelos direitos civis do povo negro. Robeson era filho de um ex-escravizado fugido e de uma mulher que vinha de família abolicionista. Trazia em seu sangue o desejo de combater as injustiças e a segregação racial. 

Aos 17 anos, o jovem ganhou uma bolsa de estudos na Universidade de Rutgers, na qual praticou esportes como beisebol, basquete e atletismo. Mais tarde, ingressou na Faculdade de Direito de Columbia, mas viria a abandonar a carreira jurídica depois de enfrentar por diversas vezes o racismo.

Na arte, Robeson se encontrou. Ganhou renome e foi o primeiro homem negro a interpretar Otelo, de Shakespeare, na Broadway. Sua vida artística sempre esteve alinhada à luta por uma sociedade mais justa. Como um verdadeiro artista popular, mostrou que não existe a possibilidade de se estar isento da luta de classes. Em um comício, em 1937, disse: “O artista deve optar por lutar pela liberdade ou a escravidão. Eu fiz minha escolha. Eu não tinha alternativa”.

Simpatia Pela União Soviética 

Robeson era declaradamente simpatizante do movimento comunista. Participou de várias lutas e campanhas a nível internacional. Denunciou o fascismo durante a Guerra Civil Espanhola, nos anos 1930, e visitou a União Soviética várias vezes. No País dos Sovietes, ficou impressionado com a ausência de manifestações racistas e leis segregacionistas, como era comum nos EUA.

Sobre a URSS, ele afirmou num discurso, em 1949: “Sinto que vou além de meus sentimentos pessoais e coloco meu dedo no verdadeiro cerne do que a União Soviética significa para mim, ou seja, para um negro que é norte-americano. A resposta é muito simples e muito clara: a própria existência da União Soviética, seu exemplo perante o mundo de abolir toda a discriminação de cor ou nacionalidade, sua luta em todos os cenários de conflitos mundiais por uma democracia verdadeira e pela paz, tudo isso deu a nós, negros, a chance de alcançar nossa completa libertação dentro de nosso próprio tempo, dentro desta geração”.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, EUA e URSS encerraram a aliança militar. Começou então uma forte perseguição a todos os comunistas e àqueles que lutavam em defesa dos direitos do povo negro nos Estados Unidos. Os negros viviam em muitos estados sem direito a voto e segregados na sociedade. Existiam espaços que apenas brancos podiam frequentar. Saúde, trabalho e educação eram negados.

Diante disso, setores das elites estadunidenses iniciaram um movimento de perseguição contra quem denunciava e lutava para transformar essa situação, período que ficou conhecido como Macartismo. Esse movimento é chamado assim em referência ao senador Joseph McCarthy, que capitaneou a aprovação de várias leis de perseguição política contra os comunistas nos EUA.

Perseguição Política nos EUA

No período macartista, um dos focos era a repressão aos artistas populares que pudessem ser ameaça à ampla campanha midiática anticomunista. Foi até criada uma “lista negra” em Hollywood para que nenhum artista de esquerda arrumasse espaço nos filmes.

Mesmo nessa conjuntura, Paul Robeson continuou sua luta antirracista. No fim dos anos 1940, ele passa a defender mais amplamente a liberdade para os povos africanos, que estavam sob o domínio europeu, e aponta a URSS como a principal aliada dos povos negros de todo o mundo. Isso rendeu fortes ataques do FBI e do Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso dos EUA. Robeson teve mais de 80 apresentações canceladas e sofreu ataques racistas em dois shows. 

Convocado ao Congresso, usou sua cadeira de réu como uma tribuna de denúncia, sendo firme ao responder a seus acusadores: “Vou cantar onde as pessoas quiserem me ouvir cantar. Não vou me intimidar com as cruzes queimando em Peekskill (cidade do interior dos EUA com forte atuação do grupo racista-fascista Ku Klux Khan) ou em qualquer outro lugar”.

Na década de 1950, a repressão aumentou. Robeson foi proibido de sair do país, teve seu passaporte revogado e, durante o período que ficou conhecido como “Caça às bruxas”, foi perseguido pelo macartismo e adicionado na “lista negra” de Hollywood.

Isso não o parou. Em 1952, foi homenageado por soviéticos e recebeu o Prêmio Lênin da Paz por sua corajosa luta em nome dos trabalhadores. Mais uma vez, interrogado na Comissão de Atividades Antiamericanas, afirmou que a primeira vez que tinha se sentido um ser humano livre havia sido na Rússia Soviética, pois as pessoas não eram oprimidas por conta de sua cor. Perguntado por que não ficava na Rússia, foi categórico ao responder: “Porque meu pai era escravo, meu povo morreu para construir esse país e eu ficarei aqui, para ter uma parte dele como você. E nenhuma pessoa de mentalidade fascista irá me tirar dele, está claro?”.

A memória da luta antirracista e socialista de Paul Robeson deixa para nós um grande ensinamento: a luta pela libertação dos povos do mundo, e principalmente dos povos negros, só será completa com a derrubada do capitalismo. Robeson queria uma sociedade em que toda a humanidade fosse valorizada e tivesse uma vida digna, em que ninguém fosse discriminado pela sua cor da pele ou tivesse seus direitos reduzidos. Ele esteve na linha de frente dessa luta até sua morte, em 1976, e usou sua arte como um instrumento a serviço da classe trabalhadora e do povo explorado nos Estados Unidos.

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