A volta do futebol é uma afronta ao povo brasileiro

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CONTRADIÇÃO – Enquanto jogadores são testados semanalmente, em muitos locais ainda falta testes para a população. (Foto: Reprodução)
“Camisa 80”

RIO GRANDE DO SUL – A pandemia causada pelo Covid-19 está sendo responsável por uma mudança brutal no modo de viver do mundo inteiro. Países foram obrigados a se adaptar a essa nova realidade e orientar sua população para restringir a circulação e aglomeração de pessoas. No futebol não poderia ser diferente.  A pandemia começava a se alastrar pela Europa, especialmente na Itália, e as Federações foram obrigadas a suspender seus campeonatos nacionais no início de março. Contudo, como apontam especialistas, essa medida foi tomada tarde demais, tendo no jogo Atalanta 4×1 Valencia realizado em Milão no dia 19/02 pela Liga dos Campeões da Europa, o epicentro da disseminação do vírus em Bergamo, principal região afetada na Itália.

Apesar dessas informações, o futebol brasileiro também tardou para ser paralisado, tendo como ápice o clássico Grenal, do dia 12/03 pela Libertadores da América, que foi responsável por aglomerar dezenas de milhares de pessoas na Arena do Grêmio, contrariando os avisos de que a pandemia começava a se expandir em larga escala pelo país. Ademais, os bares da cidade estavam completamente lotados. Resultado disso foi a confirmação da contaminação dos Presidentes de Grêmio e Inter, Romildo Bolzan (ex-Prefeito de Osório) e Marcelo Medeiros, respectivamente.

Ao invés de resultar em solidariedade aos demais contaminados pela pandemia, o efeito foi o oposto em ambos os presidentes. Após se recuperarem, trataram irresponsavelmente de impulsionar o chamado pela volta dos campeonatos de futebol. Como se não bastasse, o presidente colorado ainda declarou em entrevista à radio Guaíba no dia Internacional do Trabalhador que “jogador que não quiser jogar pede demissão” e uma semana depois veio a demitir mais de 40 profissionais de diversas áreas do clube. O Internacional já confirmou a contaminação de 4 jogadores do elenco profissional.

Após muito pressionarem, a dupla Grenal foi a primeira a retomar as atividades no início de Maio. Em operações dignas de produções cinematográficas sobre viagens interplanetárias, os clubes da Capital gaúcha retornaram com uma série de protocolos e medidas de segurança para diminuir os riscos de contaminação. Contudo, esses mesmos tipos de protocolos não podem ser adotados pelos clubes do interior, que possuem arrecadação muito menor do que os clubes que disputam a Série A.

CONTRADIÇÃO – A higienização e EPIs que faltam nos hospitais e postos de saúde sobram nos gramados. (Foto: Reprodução)

No Rio de Janeiro, a situação é um pouco diferente, presidentes de Fluminense e Botafogo tem se mantido firme contrários ao retorno do Campeonato Carioca ao passo que dirigentes de Flamengo e Vasco seguem na direção oposta. Chama a atenção pelo fato de apesar dessa posição, ambos os clubes já registraram casos de contaminação, tendo o Vasco 16 atletas de seu elenco profissional testado positivo. Já o Flamengo teve registrado pelo menos 3 atletas contaminados, mas enquanto eles puderam se tratar e se recuperar graças aos seus vultuosos salários, o mesmo destino não teve Jorginho, massagista do clube há 40 anos, que veio a falecer no dia 04/05, demonstrando como o fator classe é determinante na hora de saber quem vive e quem morre.

Para poder concretizar seu desejo incessante pelo retorno do futebol, os cartolas de Flamengo e Vasco foram até Brasília para se reunir com o fascista Bolsonaro, que segue a todo custo tentando levar nosso país à miséria e completa destruição, demonstrando que vale tudo para tais dirigentes. Como resultado de sua pressão política, em partida de portões fechados válida pelo Campeonato Carioca  no dia 18/06, o Flamengo retornou aos gramados contra o Bangu. Enquanto isso, a poucos metros de lá, no hospital de campanha do Maracanã, mais dois brasileiros faleceram vítimas da pandemia no, até então, 3º dia com mais mortes na cidade do Rio de Janeiro.

Impera-se nesse governo de que o Estado está quebrado e não tem condições de garantir os direitos do povo, entretanto esse mesmo Estado tem perdoado dividas bilionárias de bancos como Itaú e Santander e no futebol isso não é diferente. Recentemente, o milionário jogador de futebol Neymar Jr. teve concedida liminar que o suspendia de pagar 88 milhões de reais que deve à Receita Federal, esse mesmo Neymar também teve seu nome aprovado para o recebimento do Auxilio Emergencial de R$600,00, enquanto milhares de brasileiros pobres seguem tendo seu direito negado pelo Governo Federal. Além disso, clubes de futebol tem se movimentado para garantir uma linha de crédito no BNDES, semelhante à da cultura, que deve movimentar cerca de 3 bilhões de reais, como se já não bastasse as suas dívidas milionárias.

Tudo isso demonstra como a volta do futebol visa contribuir com a falsa sensação de normalidade que o governo do fascista Bolsonaro tenta passar, minimizando o impacto causado pelo Covid-19 e dificultando o acesso aos dados de mortes e contaminações que deveriam estar sendo fornecidas pelo Ministério da Saúde, que segue sem Ministro e sob as ordens de um militar interino. É preciso questionar para quem serve o futebol brasileiro, qual a necessidade de retomar agora, em meio à uma pandemia que já contaminou mais de 1,5 milhão de pessoas no nosso país, tendo perdidas mais de 60 mil vidas? De que valem as taças e premiações dos campeonatos se a torcida não poderá estar lá, ao lado dos jogadores para apoiar e comemorar suas vitórias? O uso político do futebol não é novidade, tal qual fazia a Ditadura Militar, Bolsonaro tenta se aproveitar da popularidade do esporte, especialmente do bom momento do Flamengo, para tirar de pauta sua incompetência no comando do país.

Enquanto perdurar a pandemia e seguir aumentando o número casos, não há condições de retorno seguro aos gramados, é preciso ouvir o chamado às ruas feito pelas torcidas antifascistas, aliadas de movimentos sociais e lutar pela derrubada do Governo Bolsonaro, para que tenhamos condições de centrar as atenções do país no combate à pandemia e só depois, celebrar o fim da quarentena com a volta aos gramados.