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sábado, 21 de dezembro de 2024

Adú, a moral individualista num mundo de fronteiras

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Foto: Reprodução/Netflix

Jorge Ferreira

ALERTA: contém informações sobre o filme 

Adú é uma criança africana de 6 anos que, após testemunhar o assassinato de um elefante por traficantes de marfim e ter sua vida ameaçada, tenta chegar ao continente europeu. O frio, a fome, a perda de familiares, o medo do desconhecido são só alguns dos desafios que o protagonista do filme precisa enfrentar nessa jornada pela própria sobrevivência.

Há ainda mais duas histórias. A relação conturbada entre Gonzalo e sua filha. Gonzalo, um empresário espanhol que sonega imposto na europa e é conhecido nas redes sociais por seu ativismo em relação aos animais, lidera a ONG que investiga o assassinato do elefante e recebe a visita de sua filha A trama conta ainda o julgamento de um grupo de policiais envolvidos no assassinato de um refugiado na fronteira da Espanha com o Marrocos.

O filme se desenrola através dos contrastes sociais. De um lado, uma criança mergulha na luta pela própria vida. Do outro, a relação conturbada entre o ativista e sua filha. Apesar de ter como principal denúncia a situação de milhões de homens e mulheres que todos os anos precisam abandonar seus lares para tentar sobreviver, correndo o risco de serem assassinados nas fronteiras, o filme ainda escancara a formação dos valores e ideais dos indivíduos a partir das suas condições materiais.

De forma delicada, vem à tona o individualismo presente no ativismo isolado da transformação da realidade. O empresário-ativista que lamenta a morte dos elefantes se apresenta insensível à miséria do povo. Também se apequena o drama da personagem que usa drogas a bel prazer numa sociedade onde crianças não tem o que comer. Apesar de serem 3 histórias, ao longo do filme a aventura do pai ativista e sua filha, e o processo dos policiais acabam se perdendo em meio a complexidade dos problemas de Adú.

Foto: Reprodução/Netflix

A primeira e última cena do filme se passam em fronteiras. A facilidade ou dificuldade em passar por essas barreiras físicas a depender da sua classe social é um alerta de que algo está errado. A jovem espanhola, entra em África e vai embora levando a bicicleta de Adú como mera “lembrança do continente” em troca de uma doação. A mentalidade colonizadora dos países centrais no mundo capitalista é maquiada de caridade ou até mesmo ativismo. Por outro lado, os trabalhadores , e até as crianças, quando tentam sair da periferia do capitalismo rumo aos países centrais correm grande risco de morrerem na fronteira.

Adú expõe a realidade das condições de vida da maioria dos seres humanos na fase imperialista do capitalismo, é duro, um soco no estômago, mas um convite para combatermos o individualismo que fomos ensinados e assumirmos a tarefa de construir um mundo novo.

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