Gabriel Xavier
RIO DE JANEIRO – O que move as pessoas, em circunstâncias gerais, são suas ideias. O capitalismo, na mente de cada um, seja explorador ou explorado, é uma questão de fé. Fé em que os estabelecimentos funcionarão no horário que prometem. Fé em que as entregas serão feitas. Fé em que o dinheiro é unidade de conta, reserva de valor e que possui liquidez. Fé em que as mercadorias que comprar irão lhe prover bem-estar e felicidade. Fé em que os políticos em quem votar irão lhe representar. Fé em que o juiz será justo. Fé em que a polícia protege. Fé em que a escola educa. Fé em que os meios de comunicação informam. Ou seja, fé em que as instituições que servem ao capital também lhe servem.
É óbvio que de alguma forma nos fornece algo, porém, é importante salientar que, na maior parte do tempo, nos frustra. E, dia após dia, internalizamos, reproduzimos e esquecemos essas frustrações. De forma geral, essas ideias que em nós se instalam e nos programam a crer são a constituição da superestrutura do sistema em nossas mentes. Dessa forma, a famosa frase “o que falta para derrubar o capitalismo são as condições subjetivas, pois as condições objetivas já estão maduras” possui sinergia com as sentenças acima.
Assim, para derrubar o capitalismo é necessário derrubar a fé nesse sistema e criar a fé na revolução.
Alguns vão banalizar e jogar para o campo metafísico dizendo que “é mera questão de fé”. Mas é justamente por ser questão de fé que não deve ser banal. É justamente por ser questão de fé que é tão determinante. Pois a fé é um fator psicológico e não religioso, metafísico e idealista.
A fé faz as pessoas realizarem desde as maiores besteiras até mesmo as maiores obras-primas. E não me venham dizer que fé é o contrário de ceticismo, pois ser cético é questionar o conhecimento que se tem das coisas mais banais, até mesmo das mais fundamentais; ou seja, o contrário de ser cético é ser pedante, teimoso, arrogante, fanático etc.
Ter fé é ter um atalho mental para guiarmos nossas ações. Logo, o contrário de ter fé é o desinteresse, a melancolia, a apatia.
O ceticismo separa a fé em algo que não se comprova pelos fatos da fé que se reforça pelos mesmos. Separa a fé idealista da fé materialista. Contrapõe a fé que nos “eternifica” como servos da fé que abole nossas amarras. Ou seja, fé e ceticismo podem e andam bem juntos, pois, no final do dia, não nos pode restar melancolia.
É preciso ter fé de novo. Pra dar poder ao povo. Pra fazer um mundo novo.