Rodoviários do Piauí estão há três meses sem salário

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MANIFESTAÇÃO – Mesmo sendo serviço essencial e estressante, trabalhadores estão com salários atrasados. Através de manifestação, rodoviários exigem que salários atrasados sejam pagos dignamente. (Foto: Alexandre Ferreira/Jornal A Verdade)
Alexandre Ferreira 
Jornal A Verdade

TERESINA (PI) – O cotidiano da vida do trabalhador rodoviário nos grandes centros urbanos do Brasil é desgastante e nocivo à saúde. Estes trabalhadores enfrentam condições inadequadas de trabalho, altas jornadas, constantes assaltos e um dia a dia estressante com grandes congestionamentos, sobrecarga muscular, acidentes e a má conservação das vias de tráfego. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a profissão de motorista de ônibus urbano está entre as com maior nível de estresse no Brasil.

Em meio à pandemia, a situação ficou ainda pior, com o risco de contágio do novo coronavírus, redução de salários e demissões. Em Teresina, a situação está dramática para os trabalhadores. Cerca de 400 foram demitidos e toda a categoria está sem receber salários há mais de três meses. Em alguns casos, só recebendo o auxílio financeiro do Governo por meio da Medida Provisória 936, que autoriza a diminuição da jornada ou suspensão do contrato e determina que uma parcela do salário seja depositada pela União.

“Os patrões estão convocando os trabalhadores e propondo um acordo em que perdemos a multa de 40% do FGTS e vários outros recursos, além do parcelamento da rescisão em 10 vezes. Se não aceitamos, somos demitidos sem nenhum centavo e eles dizem que só pagarão através da Justiça”, denuncia Francisco Carvalho, cobrador e membro do Movimento Luta de Classes.

O resultado é que os trabalhadores estão sem recursos, muitos passando fome e alguns tendo que fazer bicos para sobreviver. No dia 19 de maio, foi decretada uma greve. A data-base para a negociação da Convenção Coletiva é janeiro e, até agora, a única proposta dos patrões foi retirar o plano de saúde, o tíquete alimentação e demitir 50% dos cobradores. Foram realizados dois atos para pressionar a Prefeitura, os sindicatos das empresas de ônibus e a Superintendência do Trabalho, que não surtiu muito efeito. A paralisia da atual gestão do sindicato nessa situação só faz tornar as coisas mais difíceis.

Por outro lado, no momento em que tanto se fala de solidariedade, a realidade mostra a face verdadeira dos grandes empresários, para quem a única preocupação é com os lucros e a manutenção de suas fortunas, pois é um dos ramos que mais lucram, através de passagens caríssimas, serviço de péssima qualidade e subsídios milionários das prefeituras e governos estaduais. Quando doam é porque calculam que essa iniciativa vai trazer retornos financeiros com a melhoria da imagem da empresa perante a opinião pública com a divulgação da marca.

Enquanto a categoria passava fome e sobrevivia sem sequer receber salários e o tíquete alimentação, a diretoria do Sindicato dos Rodoviários do Piauí (Sintetro) e o plano de saúde Medplan tinham um contrato em que repassavam 5% do total recolhido mensalmente de todos os trabalhadores, numa conta secreta na Caixa Econômica. Até hoje, nunca houve prestação de contas.

Os demais diretores postaram um vídeo afastando o presidente, o tesoureiro e o secretário geral por suspeita de terem embolsado ao longo dos últimos anos parte da contribuição que cada motorista e cobrador pagou ao plano de saúde. Posteriormente, também vazou um áudio do presidente para um diretor do sindicato assumindo que – nas suas palavras – “fez merda” e pedindo para ficar entre eles.

A diretoria alegou não ter conhecimento de nada. Mas como a diretoria não sabia de nada dos recursos do próprio sindicato? Por que, quando a oposição criticava a falta de prestação de contas e transparência, o restante da diretoria se calava e agora se mostra surpresa? São perguntas sem respostas.

Logo que foi exposta a corrupção no sindicato, o Movimento Luta de Classes (MLC) e a Chapa Oposição Rodoviária protocolaram ofício exigindo a prestação de contas imediata dos últimos cinco anos, fizeram denúncia ao Ministério Público do Trabalho e à imprensa, e mobilizaram a categoria para realização de uma assembleia geral dos trabalhadores para debater a situação, destituir a atual diretoria, eleger uma comissão provisória e convocar novas eleições.