Velho normal

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Metrô em São Paulo

Mateus Henriques, diretor da UNE e militante da UJR

OPINIÃO – Perto de completar quatro meses de quarentena devido à pandemia da Covid-19, nós podemos observar o isolamento social sendo esquecido em todo país. A média de isolamento no país hoje não passa dos 50%, tendo atingido o máximo no início da pandemia, chegando a 62%. Ao mesmo tempo, só o Brasil soma mais de 1,6 milhão de casos da doença e 67 mil mortes confirmadas, considerando os números subnotificados.

Em meio a essa crise sanitária em que vivemos, várias personalidades políticas do governo e da oposição, da administração das universidades e escolas, etc., anunciaram que devemos ter em mente que, a partir de agora, não viveremos mais a “normalidade” que tínhamos antes da pandemia, mais sim o chamado “Novo Normal”.

Que “Novo Normal” seria esse? Dizem que no pós-pandemia teremos que adaptar toda a nossa vida a uma rotina diferente para convivermos com a possibilidade de surtos de doenças, como a Covid-19. Mas a pergunta que gostaria de estabelecer é: temos condições de viver um “Novo Normal” ou este “Novo Normal” anunciado não passa do “Velho Normal”?

A pandemia explicitou algo que nós denunciamos há muito tempo: a crise do capitalismo faz com que tenhamos perdas de direitos, aumento do desemprego, enriquecimento dos capitalistas e empobrecimento e pauperização da vida dos trabalhadores. Com essa crise do capitalismo, podemos viver um “Novo Normal”? Acredito que não.

O anúncio de um “Novo Normal” não passa da normalização da política de retirada de direitos dos trabalhadores que observamos ao longo da pandemia. E mais: quem terá acesso ao “Novo Normal” não serão os trabalhadores, pois estes terão que continuar se submetendo às condições mais precárias de trabalho e vida no pós-pandemia. E isso pode ser provado pela circulação de pessoas nos transportes públicos dos grandes centros do país, onde observamos milhares de trabalhadores tendo que se apertar nos trens, metrôs e ônibus independente do receio diante da grane chance de ser infectado pelo coronavírus nestes ambientes, pois maior ainda é o medo do desemprego.

Além disso, o Estado não permite ao povo viver um “Novo Normal”. Segue a velha política de favorecimento dos capitalistas através do Estado, através da violência estatal contra o povo da periferia, as ações violentas de reintegração de posse em todo o país e a reabertura de comércios para o favorecimento única e exclusivamente dos donos de grandes lojas em todo país.

O Governo Bolsonaro, para facilitar essa política de volta ao normal, dificulta a cada mês o acesso do povo ao auxílio emergencial, que, por ele, nem existiria. O Governo também se esforça para disfarçar os números da doença, tudo isso com o objetivo de passar a ideia de normalização da situação que vivemos.

Com tudo isso, podemos concluir que a vida no pós-pandemia não será em um “Novo Normal”. Iremos permanecer na velha normalidade em que a classe trabalhadora continuará sendo explorado pelos capitalistas com o agravamento da doença. O que teremos de novo será o uso de máscaras, que o governo nem faz questão de tornar uso obrigatório nos espaços públicos.

Sendo assim, o “Novo Normal” só poderá ser alcançado quando definitivamente tomarmos o poder enquanto classe e organizar o Estado da classe trabalhadora, pois só assim os interesses da maioria serão atendidos. Enquanto a exploração do homem pelo homem, o capitalismo, existir, iremos viver a normalidade que os capitalistas decidirem.