O conservatório está em um processo contínuo de precarização e já vem enfrentando reduções de investimentos exponenciais. De 2014 a 2017, o orçamento de Tatuí caiu pela metade, equivalente a uma redução de 6 milhões. Em 2019, da mesma forma, os projetos de redução de verbas do governo João Dória já previam os efeitos trazidos à realidade nos dias atuais, isto é, fechamento do polo São José do Rio Pardo e dispensa de mais de 500 alunos.
Karen Diniz
As tradicionais bandas do interior do Estado de São Paulo deram origem a uma das mais renomadas instituições de ensino do Brasil e da América Latina: Conservatório
Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí, tendo sido criado no ano de 1951, com respaldo do governo, passou a oferecer o ensino de artes cênicas, luteria, instrumentos de cordas, metais, canto, percussão e outros. Além disso, oferece moradia e bolsa aos alunos sem condições financeiras de se manterem.
No ano de 2006, o Conservatório deixou de ser administrado diretamente pelo Estado, e sua gestão transferiu-se para a Associação de Amigos, que era composta pela própria comunidade. No mesmo ano, houve a inauguração de uma nova unidade em São José do Rio Pardo, a qual possui cursos de formação de instrumentos na área da música erudita.
Cortes: Em 2018, a administração deixou de ser realizada pela Associação de Amigos, passando sua gestão à Abaçaí Cultura e Arte. Porém, neste ano, a Abaçaí será substituída e uma das novas organizações, Sustenidos que, concorre à gestão do Conservatório, cumprindo um projeto do governo de precarizar a instituição, para futuramente privatizá-la, vem estabelecendo cortes, incluindo o fechamento da unidade iniciada em 2006. Ademais, a redução de recursos no ano de 2020 também incluem a demissão de 69 colaboradores, extinção de 187 vagas de alunos; redução de alunos (de 2420 para 1742); extinção da área de Artes Cênicas; redução dos cursos de Especializações e Habilitações; extinção de grupos artísticos e pedagógicos, como: Camerata de violões, Jazz combo, Grupo de música raiz, dentre outros.
O conservatório está em um processo contínuo de precarização e já vem enfrentando reduções de investimentos exponenciais. De 2014 a 2017, o orçamento de Tatuí caiu pela metade, equivalente a uma redução de 6 milhões. Em 2019, da mesma forma, os projetos de redução de verbas do governo João Dória já previam os efeitos trazidos à realidade nos dias atuais, isto é, fechamento do polo São José do Rio Pardo e dispensa de mais de 500 alunos.
Censura e represália: É de conhecimento geral dos estudantes de Tatuí acerca das retaliações em que sofrem as pessoas que denunciam o governo e se opõem aos cortes. Parte dos estudantes foram vítimas de processo por terem se manifestado contra as reduções de investimentos em 2016. Além disso, a demissão de professores sem motivo também são mecanismos de respostas a qualquer postura que desagrade a atuação do sistema sob e gestão do Conservatório. Por isso, alguns docentes se calam e não tornam determinadas opiniões públicas.
Ainda em 2016 ocorreu uma mobilização, por parte dos alunos, para a criação de um grêmio estudantil que, devido às intervenções da instituição, recuaram e não seguiram com o grêmio. Segunda relatos de uma estudante de piano do conservatório, Tassia Guarnieri, os alunos retrocederam por medo: “Olha, eu não estive super presente por não morar em Tatuí. Mas estudava lá e estava semanalmente. Participei de algumas manifestações, saraus. Mas não sei de fato como ocorreu com relação ao processo. Só me lembro de ter ficado em choque com tamanha repressão vindo de uma escola de arte. O conservatório sempre foi um pouco fraco no sentido de mobilização de alunos, até pela característica de ninguém estar de fato em Tatuí. Sempre indo e vindo. Mas em 2016, começou esses passos. E logo foram bloqueados. Para um movimento que já tinha pouca aderência, o medo tomou conta e as pessoas abriram mão de se expor.”
Consequências dos cortes: Os cortes na cultura e educação estão ocorrendo há mais de cinco anos e os efeitos estão se manifestando drasticamente nos dias atuais, e não pararão por aqui. Cultura, arte e educação correspondem a políticas públicas e, o investimento nessas áreas contribuem para o desenvolvimento do país. Além disso, a arte e cultura gera um milhão de postos de trabalho e afeta 4% do PIB, no Estado de São Paulo, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Ou seja, os cortes causam também o desemprego de educadores musicais, de vigilantes, faxineiras, secretários e desemprego dos futuros profissionais que se formariam no Conservatório de Tatuí, ou em outros institutos similares. E analisando mais amplamente, os cortes na arte e educação causará impacto no PIB a longo prazo.
Outro fator importante a ser citado é que a quebra de investimentos nos institutos gratuitos é uma forma de negar o acesso de jovens pobres a cursos de música, artes cênicas e outros, deixando-os em total falta de oportunidades. Além do mais, o polo de São José do Rio Pardo não está na região central de São Paulo. Logo, leva projetos de educação musical gratuitos a áreas para além das proximidades da capital paulista, abrangendo mais acesso aos jovens. Desse modo, o fechamento deste polo é excluir o acesso aos jovens do interior.
Sendo assim, não podemos deixar que o Conservatório de Tatuí, com toda sua relevância e reconhecimento nacional e internacional, seja desmontado dessa maneira. É preciso resistir e combater o desmonte que querem implementar. O polo de São José do Rio Pardo não pode ser fechado, estabelecendo a extinção de diversos cursos, afetando os estudantes e também causando desemprego. Não podemos deixar que a arte e cultura no nosso país continue sendo duramente atacada.