A arte sempre esteve nos bairros pobres como meio para descrever e questionar a realidade, além de levar alegria e esperança para os dias difíceis. Enquanto papel revolucionário, a arte, sempre esteve presente em todos os momentos da história da humanidade com músicas, poemas, livros, filmes, peças teatrais, etc., levantando o debate e questionando a ordem vigente.
Não à toa, em regimes autoritários e governos fascistas, os/as artistas e manifestações culturais da classe trabalhadora, são uns dos primeiros a sofrerem ataques. Aqui, o governo fascista de Bolsonaro e militares, extinguiu o Ministério da Cultura, perseguiu artistas que se manifestam contra os abusos no governo, impões censura, mesmo que velada, e corta orçamento de fomento à produção cultural.
Por sua vez, a burguesia faz da sua arte, meio de propagandear suas ideias e posições. Sim, também temos arte defendendo a pobreza, violência e opressão de forma direta ou indiretamente, mas, sempre de forma pensada, planejada e financiada, como forma de encucar no povo que todo nosso sofrimento é natural ou fruto de uma vontade divina. Deixando de lado um dos princípios fundamentais da arte e cultura: o questionar.
Nesta entrevista, vamos conhecer um pouco do trabalho feito por Jailson Davi ou Mc Demo. Jovem negro, natural da terra do frevo, Olinda – PE. Nascido em família humilde de comunidade, Demo começou sua militância muito jovem, em 2005, participando de atos contra o aumento das passagens de ônibus da região metropolitana, por meio das mobilizações da UESO – União de Estudantes Secundaristas de Olinda e da UESPE – União dos Estudantes Secundaristas e Pernambuco.
A partir de então, passou a integrar as fileiras da União da Juventude Rebelião – UJR, onde foi a sua escola para conhecer na prática a teoria da libertação da classe trabalhadora – Marxismo/Leninismo. Integrou as fileiras da UJR e do movimento estudantil até 2012, sendo militante ativo nas lutas locais e nacionais em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todos/as. Hoje, Jailson, constrói sua militância na cidade de Garanhuns – PE se dedicando a organizar os/as trabalhadores/as no Movimento Luta de Classes e faz parte do Diretório Estadual do Partido Unidade Popular (UP-PE), partido que ajudou a fundar recolhendo 28 mil assinaturas para a sua legalização.
Do meu lado tenho milhões, que trabalham pra por os pães lá na mesa dos seus patrões,
Sigo expondo contradições com tomadas intervenções,
O povo acorda, a luta cresce, acontecem revoluções.
Segue abaixo a entrevista:
Redação: Qual motivação para suas composições?
“Aqui é América Latina, trincheira da resistência”
Mc Demo: A maior motivação para escrever rap está intimamente ligada à minha militância diária pela derrubada do capitalismo, pautando a luta de classes na construção da luta social. Voltei a escrever durante a pandemia e desde então não parei, sempre num intervalo ou outro da militância escrevo algum poema e quando aparece um tempinho corro pra gravar e divulgar o rap. Eu vejo o rap como uma das formas de fazer propaganda das ideias revolucionárias junto ao povo que vive na periferia e enfrenta uma verdadeira guerra diária para sobreviver. Através do Rap eu busco despertar a consciência de que o capitalismo hoje proporciona ao mundo o período mais triste e sombrio da humanidade, que só há de ser superado no momento em que socializarmos toda riqueza acumulada com todos os trabalhadores e trabalhadoras que a produziram. O Rap cumpre com um papel de difusor dessas ideias.
Redação: Qual maior dificuldade que você encontra pra produzir sua arte?
“Os caídos que se levantem
Os que estão perdidos que lutem”
Mc Demo: A cultura brasileira vem sofrendo vários ataques através da atual política de Bolsonaro que determinou o fim do Ministério da Cultura com o intuito de acabar com qualquer incentivo a produção de cultura e arte. Trabalha promovendo a censura de vários artistas populares que buscam a construção e difusão da cultura popular e que trazem uma visão mais crítica da realidade brasileira como é o caso do filme Marighella. Isso é uma grande dificuldade criada intencionalmente e que se agravou ainda mais durante a pandemia do corona vírus. Particularmente minha maior dificuldade é que além de escrever, gravar e divulgar, eu preciso fazer isso procurando tempo entre a militância, os afazeres de casa e a responsabilidade de criar bem meu filho.
Redação: Como surgiu a proposta do lançamento “Decapita” ?
“Ariano em Pernambuco só se for o Suassuna”
Mc Demo: A música Decapita surgiu da necessidade que eu senti de falar para mais pessoas as denuncias dos crimes cometidos por Bolsonaro e os militares a serviço dos capitalistas, latifundiários e banqueiros. Fazer propaganda do socialismo e de que o “Braço forte” das forças armadas só serve para reprimir o povo e está a serviço de quem nos explora e fica mais rico mesmo durante a pandemia. A “Mão amiga” de mãos dadas com quem pratica pura maldade contra o povo e a classe trabalhadora, acabando com o direito de aposentadoria, cortando direitos trabalhistas, negando o auxílio emergencial e a vacina. Se esbanjam na corrupção, superfaturando tudo que podem até leite condensado, chicletes etc.
Decapita é um chamado a organização popular e a luta pela derrubada do fascista Jair Bolsonaro. As referências da música e do clipe são do filme Bacurau e ao personagem Lunga se dá nessa perspectiva.
A luta de classes existe e a classe que não luta é golpeada pela classe inimiga, a classe trabalhadora precisa se conscientizar, organizar e lutar para barrar os retrocessos impostos pela classe dominante através do governo criminoso e anti povo do Bufão que ocupa o cargo de presidente.
“Decapita essa é minha dica pra esse capitão do mato
Estou fazendo propaganda pra tomar o poder de assalto
Chega de salário mínimo queremos salário máximo
Nem que pra consegui essa porra o fim da elite seja trágico”
Os trechos são do novo rap do Mc’Demo, Decapita. Se você ficou interessado/a em conhecer mais do trabalho, basta acompanhar o trabalho do Mc nas redes socias: Facebook -mcdemorap; Instagram – mcdemooficial.