Por Daniel Trajano e Gabriel Puga
RIO DE JANEIRO – No Brasil, além do papel da educação, a escola cumpre uma outra função: a de garantir a alimentação dos estudantes. Esses estudantes, que muitas vezes vivem em contexto de vulnerabilidade social, com seus pais desempregados ou recebendo baixíssimos salários, viam a refeição oferecida na escola como a única de seus dias. As férias, nesse sentido, representam um momento de apreensão para muitos estudantes. Dados de 2019 do Cenário da Infância e Adolescência, da Fundação ABRINQ, apontam que 47,8% das crianças brasileiras vivem na pobreza.
Com a chegada da pandemia do novo coronavírus, a situação que já era alarmante apenas piorou. Com mais de 14 milhões de desempregados e com o aumento de 12,4% do preço da cesta básica no ano de 2020, os estudantes e suas famílias encontram-se sem qualquer amparo. A maioria dessas famílias, que dependiam no momento de crise do auxílio emergencial, já insuficiente, sofreu mais um ataque: o governo Bolsonaro cortou esse direito, deixando elas abandonadas..
Esse descaso afeta diretamente a vida dos estudantes que, em vez de pensar em seus estudos, tem de se preocupar se terão o que comer no dia seguinte. O processo de aprendizagem perpassa também o direito à alimentação e ao apoio sócio-emocional, sem os quais os estudantes não conseguem absorver o conteúdo.
Mesmo sabendo de todos esses fatores, os governos estaduais e federal não se preocupam em assegurar a alimentação desses estudantes. Ano passado os alunos da rede municipal do Rio de Janeiro, receberam um cartão recarregável de R$54,25 ao mês, valor que sequer cobre o arroz e feijão na mesa de seus lares.
Entidades estudantis organizam campanhas de solidariedade
Diante de tantos ataques, a posição do movimento estudantil verdadeiramente combativo não poderia ser diferente. Cumprindo o seu papel de defesa dos direitos e reivindicações dos secundaristas, entidades estudantis resolveram organizar campanhas de solidariedade para ajudar os estudantes no momento em que mais precisam.
Uma das principais movimentações foi a da Merenda Solidária, organizada pela Federação Nacional dos Estudantes de Ensino Técnico (FENET) e pela Associação dos Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (AERJ), em conjunto com grêmios estudantis do estado. Comprometidas com a defesa desses estudantes e com uma atuação bem relevante na garantia dos direitos dos mesmos, já realizaram quatro levas da campanha, e todas alcançando um sucesso inimaginável.
A Merenda Solidária vem sendo organizada desde o primeiro momento da pandemia. Os grêmios, a AERJ e a FENET agora mobilizam a quinta leva, que mais do que nunca precisa de doações, uma vez que com as medidas antipovo do governo fascista de Bolsonaro, cada vez menos pessoas podem doar e mais pessoas precisam.
A luta dos estudantes é diária, todos os dias lutamos pelo direito de uma educação digna, e isso perpassa pelo direito à vida. Frente aos abusos dos governos, a organização dos estudantes pelos seus direitos é fundamental, para que não deixemos mais nos matarem de fome, nem de COVID!