Redação São Paulo
SÃO PAULO – Os trabalhadores do tele atendimento estão entre os mais explorados no mercado de trabalho atual, são centenas de milhares de operadores e operadoras, em sua maioria jovens, submetidos pelas empresas à cargas horárias extenuantes, obrigados a fazer horas extras não pagas, com baixíssimos salários, péssimas condições sanitárias, de saúde e segurança, com alta incidência de assédio moral e, para piorar, sendo assombrados pelo fantasma da demissão cotidianamente, já que a rotatividade no posto de trabalho é grande e incentivada pelas empresas, que demitem parte considerável do quadro de funcionários periodicamente e por qualquer motivo com o intuito de não gerar estabilidade, o que facilitaria a organização dos trabalhadores para reivindicar seus direitos.
Durante a pandemia a situação dos operadores piorou ainda mais, uma vez que esses trabalhadores extremamente explorados por seus patrões entraram para a categoria de “trabalhadores essenciais”, aqueles que não podem parar mesmo nas piores fases de disseminação do vírus. Resultado: os funcionários continuam sendo amontoados em galpões sujos, mal ventilados, com grande aglomeração e dividindo instrumentos de trabalho, o que gera o adoecimento de muitos; nem mesmo o home office, que poderia garantir a saúde dos trabalhadores, está sendo aplicado para a maioria, ainda que o tele atendimento possa ser realizado de casa sem nenhum problema e que em alguns Estados essa modalidade de trabalho seja obrigatória nesta fase da pandemia.
Aqueles que se recusam a viver esse abuso são demitidos e os que continuam trabalhando não têm qualquer reconhecimento, pelo contrário, a situação piorou. O Jornal A Verdade conversou com Lucas Amorim, operador na Atento, que trabalhou presencialmente durante toda a pandemia para empresa que é uma das gigantes do Telemarketing; depois de trabalhar por quase um ano em meio à maior pandemia da história de nosso país, colocando suas energias e sua saúde à serviço da empresa em troca de um péssimo salário, Lucas sofreu forte assédio moral e foi demitido sem motivo e sem que a empresa nem mesmo lhe informasse sobre o processo de demissão e sobre seus direitos.
“Eu estava neste emprego devido a necessidades financeiras de manter um apartamento e comprar os remédios do meu pai. Arrumei um segundo emprego, então precisei trocar meu horário, já que eu estava no turno da noite, e solicitei a passagem ao tuno da manhã para meu supervisor.
A troca não foi aprovada pela gestora, que já tinha vários episódios de abuso moral no trabalho e sempre dizia que era ela quem decidia o destino de todos ali. Então me submeti a ter que pagar por uma troca de horário, para poder conciliar os dois empregos, algo que é comum na empresa, pois eles sabem que os salários que pagam são baixos e que os funcionários têm necessidade de complementar a renda.
Novamente, a gestora continuou com seu abuso de poder e quis me obrigar a voltar ao turno noturno ou abandonar o emprego. Quando eu estava para completar um mês trabalhando de manhã na Atento e em meu segundo emprego a noite, a gestora bloqueou todos os meus acessos à rede da empresa, que é o que me permite bater o ponto, trabalhar e receber, e disse que só os devolveria se eu mudasse para o turno da tarde, me obrigando à entrar no trabalho às 15h30 e não mais às 9h, desorganizando minha rotina e descumprindo o acordo que fiz com a empresa e pelo qual tive que pagar.
Depois desses longos e reincidentes episódios, a gestora me ameaçou dizendo que se eu não pedisse demissão ela mesma me mandaria embora pelo nosso desentendimento na troca de horário. No mesmo dia ela emitiu minha demissão e disse que se eu não saísse de lá imediatamente iria chamar os seguranças pra me retirar a força; tenho tudo isso comprovado nas gravações feitas pela própria empresa. Depois disso não houve nenhuma explicação ou retratação, a empresa não me retornou nem mesmo pra me informar se eu tinha que cumprir o aviso prévio”.
Esse é mais um caso que demonstra os abusos cometidos contra os trabalhadores por parte das empresas de Telemarketing do país. É necessário dizer basta, organizar a categoria e enfrentar as empresas que lucram bilhões por ano em cima de quem trabalha e oferecem salários de fome e demissões.