Lucas Giorgiani e Maria Feller
SÃO PAULO – Há 53 anos, o município de Osasco, situado na Região Metropolitana de São Paulo, figurou nacionalmente como exemplo de resistência em lutas operárias e estudantis durante a Ditadura Militar, um dos períodos mais violentos da nossa história que perseguiu, torturou e assassinou jovens e trabalhadores.
Desde 1959 Osasco já havia se tornado um importante polo industrial de metalurgia em São Paulo, com a fixação de fábricas como Eternit, Cobrasma, Osram, Cimaf e Braseixos. Assim, quatro anos depois, o Sindicato dos Metalúrgicos passa a ter uma sede municipal e exercer forte atuação política na região.
Com o golpe militar em 1964, o sindicato sofreu intervenções e a União dos Estudantes de Osasco (UEO) foi dissolvida. Contudo, não demorou até que estes, em conjunto com os estudantes secundaristas, fundassem o Círculo Estudantil de Osasco (CEO), que foi presidido por Zequinha Barreto, estudante secundarista e trabalhador da Cobrasma.
Com o avanço agressivo do regime militar, além das censuras e intervenções políticas, os trabalhadores ainda sofreram com o “arrocho salarial” imposto, que resultou na redução de 30% dos salários. Em questão de poucos anos, as manifestações populares tomaram a cidade e em 16 de julho de 1968 ocorreu a Greve de Osasco, iniciada na fábrica da Cobrasma e que rapidamente virou exemplo de luta para outros operários das demais fábricas da cidade. Zequinha Barreto também se tornou um dos líderes dessa greve e durante a ação, foi preso junto de mais 400 trabalhadores e levado ao DOPS/SP, onde sofreu torturas por cerca de 98 dias. Zequinha também lutou ao lado de Carlos Lamarca, ex-capitão do Quartel de Quitaúna em Osasco e revolucionário assassinado covardemente em 1971 pelas forças militares.
Contudo, os protestos em conjunto com a greve ocorrida não conquistaram, de imediato, todas as reivindicações; porém conseguiram um reajuste de 10% no salário dos trabalhadores locais. Em uma tentativa de descaracterizar a vitória da greve e sequestrar para si mesmo as responsabilidades por esses avanços, se utilizando da momentânea situação econômica de artificial instabilidade, o General-Presidente Costa e Silva estendeu o abono de 10% dos salários para todos os trabalhadores brasileiros.
Assim, os trabalhadores de todo o país perceberam que tal aumento foi fruto direto da greve dos metalúrgicos de Osasco e de outras importantes greves pelo país, como as de Contagem-MG. Estas vitórias foram o início de uma longa história de lutas continuadas durante todo o período militar em diferentes constâncias e situações cujas diversas figuras de extrema importância tomaram posição e enfrentaram a máquina do Estado fascista.
Após mais de 50 anos desta história, percebe-se que muitas das lutas travadas para conquistar direitos e melhores condições de vida estão sendo esquecidas, pois a mídia trabalha diariamente para escondê-las e a justiça não julgou e puniu os abusos cometidos contra os trabalhadores na Ditadura. Tudo isso porque os processos que buscam trazer a verdade à tona são sempre sabotados pelos poderosos com objetivo de esconder as injustiças perpetradas pela burguesia e pelos altos militares brasileiros.