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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Covid-19 em Roraima: 87 mil casos e 1.281 mortes

Vanessa Vieira, jornalista roraimense

Há um ano, Roraima registrou os primeiros casos de covid-19, sendo o último Estado brasileiro a confirmar pacientes infectados pela doença. Desde aquele 21 de março de 2020, 87.554 pessoas testaram positivo. Dessas, 1.281 perderam a vida, em decorrência de complicações da Covid.

Passados mais de 365 dias, as medidas de prevenção, recomendadas desde o começo da pandemia, continuam válidas. Lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool 70% e manter o distanciamento social são essenciais para a maior parte da população, que ainda não teve acesso à vacina.

O uso de máscara facial, cobrindo o nariz e a boca, deve ser ampliado e estimulado, mesmo para pessoas vacinadas, pois apresenta grandes impactos na redução da transmissão e, por conseguinte, no número de casos e óbitos. É o que aponta o mais recente Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz.

Dias difíceis

Ainda nos primeiros meses da pandemia, a administradora Mayara Aragão foi diagnosticada com a doença. Mesmo com alguns sintomas, ela testou negativa e só duas semanas depois recebeu a confirmação de que estava doente. “Graças a Deus, não tive nenhuma complicação. Só os sintomas característicos mesmo, como perda de olfato e paladar, tosse seca, febre, náuseas, dores no corpo e dor de cabeça”, disse

Passados alguns meses, os pais de Mayara foram diagnosticados com covid-19. “Acho que quem primeiro desconfiou de algo com eles fui eu. Eles voltaram do sítio se queixando de dor. Os dias foram passando, minha mãe a cada dia com menos disposição para fazer as coisas em casa, querendo ficar deitada. E meu pai sentindo algo, mas sem demonstrar muito. (…) Até que um dia ele amanheceu sem olfato. À noite, veio a tosse seca. Ele é hipertenso e adquiriu diabetes há pouco tempo. Quase não dormi, preocupada”.

O teste confirmou que os dois estavam doentes. “Mamãe estava tendo febre e diarreia. Papai estava aparentemente bem, só a tosse que apertava mais à noite e isso me deixava muito preocupada”, contou. Por recomendação médica, eles foram tratados em casa por dois enfermeiros.

“Passamos por dias difíceis, complicados, em que os dois desidrataram muito, devido a vômito e diarreia. Tinha dia que a tosse do papai era persistente e isso fazia a saturação dele cair muito rápido. Tive medo de ter que interná-lo. Acionamos um fisioterapeuta e foi visível a recuperação dele já na primeira sessão de fisioterapia pulmonar. Parece que um deu ânimo ao outro, começaram a responder bem ao tratamento que estavam recebendo por via oral e por injetáveis”, relembrou. “Hoje eles estão bem, fazendo acompanhamento por exames a cada 15 dias. Eles ainda apresentam uma leve anemia, mas nada que um feijão e uma beterraba não resolva”.

Emocionalmente fragilizada, fisicamente cansada

A enfermeira Vitória Cruz Lana já enfrentou várias faces da doença: é profissional de saúde atuando na linha de frente, foi diagnosticada com a doença duas vezes, foi vacinada e – a mais difícil – perdeu pessoas próximas em decorrência da covid-19.

“Depois de um ano de pandemia, eu me sinto emocionalmente fragilizada e fisicamente cansada. No início, a gente tinha perdas, mas eram distantes. Com a evolução dos casos, isso chegou mais próximo, com a perda de colegas de trabalho e de pacientes. A perda de cada profissional, de cada paciente, mesmo fazendo todas as intervenções cabíveis, fragiliza a gente”, relatou.

O aumento da demanda de trabalho e o afastamento de profissionais de saúde infectados sobrecarregou todos. “Estou fisicamente cansada por causa do desgaste de inúmeros plantões para cobrir a escala. Muitos profissionais estão com mais de um vínculo para dar conta. Os profissionais estão ficando doentes e a gente não pode deixar o paciente desassistido. E se vê obrigado a pegar mais um plantão. Isso nos abala fisicamente”.

Apesar das perdas, a enfermeira também presenciou bons momentos. “No meio de tudo isso, a gente viveu muita coisa boa. Viu muito paciente crítico, que chegou muito grave, tendo alta”. Outro momento importante foi a vacinação. “Já recebi a primeira e a segunda dose. Foi uma emoção, uma sensação de vitória. E, ao mesmo tempo, um sentimento de tristeza de não poder compartilhar com os outros”, classificou.

Mas ela reforça que, mesmo com a vacinação, é preciso manter os cuidados. “Todo mundo acha que vai mudar tudo e vai mudar mesmo. Mas até conseguir ter [a vacina] em ampla escala e conseguir a resposta imune do organismo, a gente precisa ter medidas de prevenção. Depois de um ano de pandemia, a gente percebe que as pessoas se acostumaram e muitas foram displicentes, o que gerou um novo aumento de infecções. E a gente se vê novamente enfrentando um pico no hospital. A população precisa se conscientizar que a situação ainda é grave e precisa tomar medidas de prevenção”.

Enquanto esse momento não chega, Vitória mantém os cuidados. “Nunca mais abracei a minha avó. Acho que faz uns dois meses, mas porque ela foi teimosa e veio me abraçar. A gente sofre, se distancia da nossa família, de quem a gente ama. A probabilidade de a gente ter [a doença] e transmitir é muito maior. Por isso que as pessoas precisam tomar cuidado”, pediu.

Vacinada aos 80

Além dos profissionais de saúde, os primeiros a serem vacinados, os idosos são prioridade na imunização contra a covid-19. Aos 80 anos, Raimunda Estela dos Prazeres Pinho já recebeu as duas doses. Ao todo, 44.352 doses foram aplicadas desde o início da campanha de vacinação em janeiro.

“Eu nunca tomei a vacina para gripe, mas essa eu tinha muita vontade de tomar, pra esse vírus horroroso que tá aí ir embora. Tomei a primeira dose e senti febre, dor no corpo e de cabeça, mas tomei um calmante e melhorei. Na segunda dose, eu já não senti nada”, comentou.

Em casa desde o início da pandemia, Raimunda Estela não pôde comemorar a festa de 80 anos como queria nem se despedir do irmão. “Esse ano de pandemia foi viver presa dentro de casa. Sem direito a passear, a ver filho, a ver neto. Sem direito de eu fazer meu aniversário de 80 anos que eu tanto queria fazer e não fiz. Morreu um irmão meu. Não foi do corona, morreu de outra doença. Eu não pude ir no velório, não pode ver o corpo. Me despedir ao menos do corpo dele. Não pude fazer nada. Morreu um sobrinho, dois sobrinhos, quatro primos [de covid-19] e outros ficaram doentes, mas graças a Deus voltaram pra casa. Eu só queria que chegasse vacina para todos e não só para os velhos”.

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