“Resta aos sindicatos, infelizmente cada vez mais burocratizados e defensivos, convocar a luta nacional para impedir os desmandos dos banqueiros.”
Serley Leal
FORTALEZA (CE) – Para colocar em funcionamento os bancos no Brasil e toda a máquina financeira, milhares de bancários trabalham todos os dias abrindo contas, vendendo seguros e previdência, realizando investimentos e operações cambiais, enfim, permitindo aos capitalistas perpetuarem seu poder e tornando-os bilionários. São trabalhadores que, embora ainda com “status social” de bem remunerados, são profundamente explorados, expostos a condições de assédio diariamente, acumulando novas funções dia após dia, tendo suas relações de trabalho precarizadas e perdendo valor real de suas remunerações ano após ano.
Com a justificativa do desenvolvimento tecnológico, a chamada “era digital”, a quantidade de bancários foi reduzida aceleradamente. Em 1989, existiam 821 mil postos de trabalho no sistema financeiro; em 2000, esse número caiu para 497 mil; chegando, em 2019, a 440 mil, aproximadamente. Somente em 2019 e 2020, 10.842 postos de trabalho nos bancos foram encerrados. É bom lembrar que esse número é o saldo entre os demitidos (57.747) e contratados (46.905) durante o mesmo período. Por outro lado, a redução salarial é gritante: os contratos novos recebem 63% do salário dos anteriormente existentes. Em outras palavras, os banqueiros demitem e contratam com salários menores em virtude do enorme desemprego vivido pelo povo brasileiro.
Para Ramon Peres, presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, essa situação é revoltante. “É absurdo que os bancos tratem com tanta irresponsabilidade a vida dos trabalhadores brasileiros. Em meio à maior crise sanitária do século, que leva a um aprofundamento da crise econômica, bancos como Itaú, Bradesco, Santander e Mercantil do Brasil continuam lucrando muito, mas promovem centenas de demissões. Nossa mobilização visa chamar a atenção da sociedade para o compromisso de responsabilidade social assumido por estes bancos, inclusive nas propagandas de TV, mas que está sendo descumprido de forma desumana”, disse.
Precarização do Trabalho Bancário
Nesse mesmo processo, os últimos anos marcaram outra mudança importante: o nascimento de dezenas de bancos digitais. São empresas chamadas “fintechs”, que nasceram com o pretenso objetivo de “democratizar o sistema bancário”. Reduzindo as tarifas dos correntistas e facilitando a abertura de contas e serviços pelo celular, essas empresas cresceram rapidamente, ampliando a precarização das condições de trabalho. Muitos bancários trabalham em regimes de turnos diferenciados, recebendo pisos salariais diferentes dos acordos coletivos da Confederação dos Trabalhadores do Sistema Financeiro (Contraf), sem falar da contratação de terceirizadas para prestação dos mesmos serviços, mas com pagamento de salários menores.
Para Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a exploração é gritante: “Embora a mídia e as agências de classificação de risco não admitam, porque priorizam o lado do mercado e não a realidade dos trabalhadores, a renda está diminuindo, a informalidade e precarização aumentando. Por sua vez, os bancos estão lucrando cada vez mais e investindo cada vez menos na geração de empregos”, afirmou.
Privatização dos Bancos Públicos
Hoje, restam no Brasil apenas alguns bancos estatais, sendo os principais a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Entre eles existe uma diferença: a Caixa é uma empresa pública federal e o Banco do Brasil é uma sociedade anônima com controle do Estado brasileiro, que detém 52,2% das ações. Embora controladas pelo governo e com imensos serviços prestados ao povo brasileiro, as empresas têm sido “enxugadas” e reestruturadas, com uma visão cada vez maior de mercado, numa preparação para futuras privatizações.
Na Caixa, no final de 2020, foi anunciado um processo de reestruturação que reduziu drasticamente as comissões. Ao ingressar na Caixa, todo servidor possui a mesma função de técnico bancário e, em pouco tempo, tem seu salário reajustado de acordo com a função que exerce. Até a função de caixa executivo (trabalhador de pagamento e recebimentos interno) não existe mais, e o trabalhador somente recebe a comissão diária. Caso adoeça, não a recebe. Em 2018, a empresa decidiu vender dezenas de imóveis, resultando na realocação de diversos trabalhadores, além do fechamento de 100 agências.
Já no Banco do Brasil, mais uma reestruturação foi anunciada no início deste ano, com o objetivo de fechar 347 agências e demitir 5,5 mil funcionários para economizar mais R$ 2,7 bilhões até 2025. Fora isso, o mesmo projeto da Caixa Econômica foi implantado, pondo fim à função de caixa executivo, que atingiu mais de 10 mil trabalhadores de todo o país. É bom lembrar que ainda no governo Dilma foi realizada uma reestruturação que fechou 402 agências com 5,2 mil trabalhadores aderindo ao programa de afastamento para aposentadoria.
Logo após o anúncio desse pacotão de perversidades, prefeitos de várias pequenas cidades que só têm agências do Banco do Brasil – e milhões de trabalhadores que atualmente esperam horas nas filas ou têm que viajar para conseguir atendimento – reagiram nas redes sociais, criticando e denunciando o governo do fascista Bolsonaro.
Mas, para que “reestruturar” o BB se o banco lucrou R$ 18 bilhões em 2019, 32% a mais que em 2018, e terá, em 2020, um dos maiores lucros da sua história? Na verdade, com os recorrentes aumentos da participação de grandes capitalistas no controle acionário da empresa, cada nova medida como essa impulsiona a lucratividade, ampliando os rendimentos e dividendos das ações.
Fica claro que os lucros estratosféricos dos bancos, sejam públicos ou privados, são resultado direto do trabalho de milhares de trabalhadores. O projeto desses capitalistas é aumentar a exploração, precarizar as relações de trabalho e demitir para impulsionar seus lucros, enriquecendo à custa da pobreza dos trabalhadores.
Sendo uma das mais organizadas categorias do país, os bancários já deram durante toda nossa história diversos exemplos de combatividade. Várias greves e paralisações permitiram barrar medidas como essa. Resta aos sindicatos, infelizmente cada vez mais burocratizados e defensivos, convocar a luta nacional para impedir os desmandos dos banqueiros. Mesmo sendo uma luta difícil, a certeza é que os trabalhadores seguirão o caminho da mobilização. Mais cedo ou mais tarde, bancários e todas as categorias unidas conhecerão dias melhores, sem desempregados nem patrões.