Gravataí (RS) à beira do caos

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Hospital Dom João Becker. Foto: reprodução.

Bruna Blum, Júlia Bitelo e Leonardo de Carvalho*

No início do mês de março, o único hospital de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, RS, entrou em colapso, atingindo 500% da ocupação dos leitos destinados aos pacientes vítimas de Covid-19. Devido a isso, o Hospital Dom João Becker teve que restringir sua emergência aos novos casos do vírus, atendendo somente pessoas com risco iminente de morte. A essa altura, o Becker seguia assistindo cerca de 70% de sua capacidade real dos leitos do hospital, mesmo transferindo alguns pacientes à sua mantenedora, a Santa Casa de Misericórdia (em Porto Alegre).

Em meio ao caos, a prefeitura, chefiada pelo MDB, através da Secretaria Municipal da Saúde, emitiu um ofício manifestando contrariedade ao fechamento da emergência do hospital para novas vítimas de Covid, alegando que Gravataí encara “(…) uma situação extrema, em que não há espaço para recuo. Temos de encarar a situação com resposta afirmativa”, reiterou o secretário da saúde. Enquanto isso, as indústrias seguem em funcionamento e os ônibus seguem com horários e frotas reduzidos, sendo que a superlotação dos ônibus, a qual obriga os passageiros a ficarem de pé nos veículos, é justificada pela empresa como “opção dos passageiros”.
A desonestidade assola Gravataí, não está apenas nos órgãos executivos e privados da cidade, mas no legislativo também. Após a votação de um pedido de providência negado, solicitando o auxílio emergencial municipal a fim de reduzir os efeitos sociais e econômicos da pandemia, um dos vereadores que compõe a Câmara se manifestou em rede social. O vereador Fernando “Deadpool”, do partido Democratas, justificou seu voto contrário afirmando que o auxílio seria uma forma “irresponsável” de “politicagem” para “iludir” e “enganar” a população. Assim como esse vereador, vários outros que não fizeram nada além de votar contra a população, seguirão até 2024 promovendo a política de morte e miséria na cidade de Gravataí.

Dado o exposto, conclui-se que o descaso – o qual resultou em 210 óbitos no mês de março no município de 283 mil habitantes – por parte dos políticos operantes é vigente e revela-se nas atuações negligentes da maioria, incluindo o prefeito Zaffa (MDB), que se mostra contra o fechamento do comércio não essencial aos finais de semana, desconsiderando a necessidade de uma menor circulação do vírus. Logo, percebe-se a falta de políticas públicas e mandatos que representem o povo e seus interesses, visto que, atualmente, a realidade em Gravataí é o Poder Executivo e o Poder Legislativo gerando regressão em relação ao que os cidadãos necessitam: auxílio emergencial digno e vacina para todos já.

A situação da educação em Gravataí

As aulas presenciais, por sua vez, encontram-se suspensas em decorrência da vigência da bandeira preta em todo o estado. Desse modo, a disparidade no ensino brasileiro em decorrência da desigualdade social – a qual assola o país de forma acentuada e é intensificada pelas ações do Governo atual – é evidenciada em Gravataí a partir dos diferentes procedimentos entre escolas públicas e privadas, visto que essas divergem em questões de verba e estrutura.

Em algumas instituições privadas da região, o ensino remoto prossegue, mesmo com a desigualdade de ensino e a exaustão, tanto dos profissionais quanto dos alunos. As atividades se acumulam, o tempo é limitado e o aprendizado é posto em segundo plano. Os alunos têm poucas ou nenhuma possibilidade de negociar as tarefas e até mesmo de entendê-las, qualquer demanda coletiva é suprimida, como por exemplo, a criação de um grêmio estudantil, pela falta de organização coletiva e o cansaço físico e mental geral que as atividades demandam, assim como qualquer perspectiva de um futuro profissional, devido a sensação de incerteza, impossibilidade, insegurança, baixa autoestima e todos esses sentimentos que a política neoliberal, que vem retirando direitos, provoca, especialmente, nesse momento de crise econômico-política em que nos encontramos.

Em virtude disso, está cada vez mais claro que a saída para crise é organização do povo trabalhador, jovens, mulheres, negros e negras, LGBTs e o conjunto da classe operária para construção de uma cidade que atenda aos interesses e necessidades da maioria da população.