O mundo não é… ele está sendo

39
Trabalhadores tem que fazer greve por direitos básicos e em defesa da própria vida. Foto: Reprodução

Rafael Figueira, Cabo Frio/RJ

OPINIÃO – Desde o início da pandemia do COVID-19 o mundo precisou se adaptar a novos métodos de sobrevivência. Nas leis do capitalismo selvagem que só no Brasil já matou mais de 365 mil pessoas, contaminou milhões e condenou mais da metade da população do país ao caos, vimos o país retornar ao mapa da fome e os dados de insegurança alimentar subirem absurdamente.

Falta emprego e condições sanitárias para se trabalhar, faltam leitos em hospitais, além de EPIs para os profissionais. Falta vacina para toda população e o nível de desigualdade social cresce a níveis desumanos. Só no Brasil cresceu 44% o número de bilionários ao mesmo tempo que 117 milhões de brasileiros não se alimentam como deveriam e a fome chega a 19 milhões de pessoas.

Em tempos tão difíceis, o capitalismo mostra descaradamente que serve apenas uma minoria de sanguessugas enquanto a grande maioria passa fome e sofre com a alta dos bens mais básicos. Mas também vemos o movimento social que sempre esteve na luta pela garantia e por mais direitos viver dificuldades de mobilizações e uma reinvenção de métodos.

A solidariedade hoje movimenta muito. Redes de voluntários se espalham por todo o país fazendo o que deveria ser atitude dos governos. A mobilização para que as pessoas não passem fome ao mesmo tempo que acalenta é desesperadora. A cada dia cresce o número de moradores de rua e de pessoas desempregadas que precisam de ajuda para sobreviver.

A pedagogia da luta social

A luta social sempre cumpriu um papel determinante na vida política do Brasil. Desde quando os portugueses invadiram o território dos povos Indígenas existem levantes contra as injustiças. Porém, se adaptar a fazer isso no meio de uma pandemia apresenta dificuldades. Na era onde as pessoas nunca consumiram tanta informação e desinformação, a histeria e a desorganização grita alto nos ouvidos das pessoas indignadas com as injustiças do capitalismo.

Obviamente é mais difícil se organizar, conscientizar e forjar uma consciência de classe através do trabalho remoto. Quando imaginaríamos um período onde o Movimento Estudantil – que no Brasil sempre foi determinante para os avanços sociais – não conseguiria disputar programas políticos dentro das salas de aulas das escolas e universidades? Quem pensaria que não seria mais natural organizar uma greve massiva apenas contra o assédio dos governos e patrões mas também contra o terror da insegurança sanitária causada por eles?

O momento atual adoece e gera insegurança na fé de mudança do povo brasileiro. As dificuldades de mobilização nas ruas sem medo de voltar pra casa infectado gera a desesperança ou a ilusão que nossos problemas serão resolvidos nos espaços institucionais do capitalismo, como o parlamento e as grandes cortes de justiça. A conjuntura brasileira se acostumou a ser pautada pelos plantões da Rede Globo de anunciando uma medida do STF, decisões anticiência do Presidente da República ou rixas entre figurões da política parlamentar mais suja que a atualidade nos apresenta.

Para nós, pessoas organizadas ou que não se desanimaram em construir alternativas, torna-se necessário enfrentar a narrativa de que a política brasileira sempre vai ser uma grande polarização entre o pior e o menos pior ao invés de ser entre povo explorado e quem explora. Nos sobra senão evitar as ilusões e a conveniência de só se movimentar depois de mais uma Breaking News da televisão e sim se esforçar ao máximo para movimentar a conjuntura.

Se organizar nacionalmente, construindo a confiança do povo nas lutas do dia a dia, nas comunidades para enfrentar as desigualdades e ganhar pessoas comuns para ser protagonistas da mudança da política é essencial. O chamado para se organizar não significa apenas lidar com nossa vontade de fazer coisa x ou y, com o euforia da pauta que mais nos sentimos confortáveis, mas sim a necessidade das pessoas de ter um prato de comida na mesa e movimentar essa conjuntura para superar o capitalismo. Lênin dizia que “devemos organizar tudo e todos”. Ele não estava errado e agora nossa tarefa principal é criar as condições para organizarmos mais e melhor todos que se dispuserem a entrar nessa luta de vida pois não tem mais nada a perder ou hesitar. A luta social forma e tem a pedagogia mais eficiente para entendermos as necessidades do mundo.